Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Roseana Sarney tenta se distanciar de imagem do pai

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 20 de abril de 2009


 


IMAGEM
O Estado de S. Paulo


Foto do pai vira ‘constrangimento’ para governadora


‘Apontada pela oposição como expoente de uma oligarquia que comanda há mais de 40 anos o Maranhão, a nova governadora do Estado, Roseana Sarney (PMDB), quer dissociar sua imagem da figura principal do clã: o pai e presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Num movimento pensado, o senador não apareceu ao lado de Roseana em nenhuma das solenidades de posse e diplomação, na sexta-feira.


Roseana não quer ser fotografada ao lado de imagens de Sarney, espalhadas pela casa no Calhau, bairro de São Luís. ‘Quero que me deixem governar. Que parem de dizer que sou de oligarquia’, disse ontem, demonstrando contrariedade quando o Estado fez a foto que ilustra esta reportagem.


Para mostrar que tem voo político próprio, a governadora lembra que foi a deputada mais votada do Estado, foi eleita duas vezes governadora, foi pré-candidata à Presidência, além de senadora. Alega que Sarney não faz política há anos no Maranhão e nem sequer conhece os prefeitos. ‘A oposição só tem esse discurso: dizer que não faço nada, que vou roubar aqui, mas vou me esconder atrás dessa oligarquia.’


A estratégia de tentar descolar sua imagem da de seu pai faz parte do marketing para a sua campanha à reeleição, no ano que vem. Em 2006, um dos motivos apontados para sua derrota foi a vinculação com o clã do Sarney. Às vésperas do segundo turno, uma onda contra a família Sarney tomou conta do Estado, levando Roseana à derrota. ‘Tenho pai que tem nome nacional, assim como vários outros filhos têm. E isso nunca atrapalhou a ninguém’, diz ela.’


 


 


IRÃ
AP e Reuters


Ahmadinejad sai em defesa de jornalista


‘O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, pediu ontem que a jornalista americana Roxana Saberi tenha direito a uma defesa completa quando recorrer da sentença de oito anos de prisão por espionagem. Para analistas, a mensagem foi um sinal de que o líder iraniano não quer prejudicar a perspectiva de diálogo com os EUA.


O presidente americano, Barack Obama, pediu a libertação da jornalista durante a Cúpula das Américas. ‘Tenho plena convicção de que ela não está envolvida em nenhum tipo de espionagem’, disse.


Roxana foi presa em janeiro e julgada na semana passada. Ela se declarou inocente e vai recorrer do veredicto. Segundo seu pai, Reza Saberi, a jornalista deve entrar em greve de fome em protesto contra a condenação. Roxana já colaborou com as emissoras BBC, Fox News e NPR. Antes de ser presa, ela estava finalizando um livro sobre o Irã.’


 


 


RADIODIFUSÃO
Ethevaldo Siqueira


Emissoras de rádio e TV buscam saída para a crise


‘A radiodifusão – que abrange o rádio e a televisão abertos – enfrenta dois desafios em todo o mundo: as novas tecnologias e a crise econômica internacional. Do lado tecnológico, o rádio e a TV enfrentam a concorrência crescente das novas opções de comunicação eletrônica representadas pela convergência digital, que inclui, principalmente, a internet e a crescente oferta de banda larga móvel, das redes sem fio e do celular.


Esse é o cenário em que será aberta hoje, em Las Vegas, o NAB Show 2009, a maior feira mundial do setor, patrocinada pela Associação Americana de Radiodifusores (NAB, na sigla em inglês) e que terá como tema principal este ano a busca de novos conteúdos para a programação de rádio e TV.


O congresso da NAB Show começou no sábado, debatendo prioritariamente a questão dos novos conteúdos. Em segundo lugar, vem a questão das novas aplicações tecnológicas, a começar pela TV digital, um dos temas mais atuais nos Estados Unidos, que começou a ser introduzida há exatamente 11 anos. A data para o desligamento total da TV analógica, prevista para fevereiro deste ano, foi postergada pela terceira vez, porque ainda havia milhões de residências sem condições econômicas para receber o sinal digital, por não poder pagar o preço do conversor ou sintonizador digital.


Na estratégia norte-americana, a TV digital dá prioridade total às imagens de alta definição. Só agora, o sistema de TV digital norte-americano ATSC (Advanced Television System Committee) desenvolve novos recursos de interatividade e mobilidade – como é o caso da recepção de TV em celulares e em outros equipamentos móveis.


Outros temas de interesse deste NAB Show incluem o rádio via satélite, as novas tecnologias de monitores de TV (tridimensional, TV a laser, LED e OLED), os DVDs Blu-ray de alta definição, home theater, TV por assinatura (satélite, cabo, IPTV), o cinema tridimensional e outros temas.


A área de televisão – em especial a de monitores – é a que conta hoje com o maior número de inovações tecnológicas. Além dos televisores de alta definição em evolução aceleradas, o mercado já oferece as opções de televisores de LED, isto é, de diodos emissores de luz (Light Emmiting Diodes), e de LED orgânicos (que têm o nome de OLED), TV a laser e TV tridimensional (TV3D).


O rádio e a TV via internet são dois temas que passam a despertar interesse cada dia maior e que estão sendo debatidos desde sábado nesta edição do NAB Show.’


 


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Publicidade quer alternativas para o telemarketing


‘Com mais de 300 mil pedidos de bloqueio de linhas telefônicas para ações de telemarketing, o consumidor de São Paulo – onde esse tipo de cadastro impedindo a oferta de produtos e serviços via telefone estreou no Brasil – dá sinais de que não quer ser importunado. ‘Quem trabalha com marketing direto tem de prestar atenção no recado implícito nessa atitude’, reconhece Rui Piranda, diretor de criação da agência Giovanni + DraftFCB.


O publicitário será o jurado brasileiro este ano na categoria marketing direto, que é justamente a que abriga as ações que apelam para as diversas formas de abordagem do consumidor – entre as quais o próprio uso de telemarketing. E se, no momento, a restrição limita-se apenas ao telemarketing, nada impede que a proibição venha a condenar, por exemplo, o envio de mensagens no celular, uma outra prática que avança no meio publicitário.


‘As pessoas precisam entender que a propaganda subsidia uma série de boas coisas, entre elas o acesso a bons programas de tevê, ou à leitura de jornais e revistas de qualidade’, pondera Piranda. ‘Fora isso, o telefonema em si pode conter informações relevantes sobre uma promoção que interessante ao consumidor.’


Há cinco anos o telemarketing respondia por mais de 50% das ações desenvolvidas pela agência Salem, especializada no ramo. Hoje representa menos de 20% de seu trabalho, entre outras razões por causa do avanço dos meios eletrônicos, que abriram outros canais de contato. ‘Na maioria dos casos só telefonamos para os consumidores que nos deram autorização’, diz Marcio Salem, presidente da empresa. ‘Enviamos correspondência em que perguntamos qual o melhor horário para entrar em contato.’


As agências de publicidade de marketing direto e promoção foram as que mais sentiram a reação dos paulistanos ao bloqueio das suas linhas para o acesso de telemarketing. ‘É alto o índice de rejeição’, considera Mentor Muniz Neto, sócio e vice-presidente de criação da Bullet, que há 20 anos dedica-se ao marketing promocional e que busca ativar suas ações sem o uso desse tipo de abordagem. ‘Concordamos que, da maneira como vem sendo feito, com telefonemas a qualquer hora e sem contexto para vender qualquer coisa, é muito aborrecido’, diz Muniz Neto.


Para ele, a estratégia eficiente de comunicação é a que leva o consumidor a buscar a promoção por ter sido motivado para tal. ‘Sou refratário a abordagens forçadas, prefiro acender a fagulha do desejo de participar’, diz ele que tem no portfólio a ação do ‘iPod no palito’, feita para a Kibon e que ganhou um Leão no Festival de Publicidade de Cannes no ano passado, na categoria promoção. Os consumidores concorriam a iPods ao comprar um sorvete que, no ponto de venda, não se diferenciava das outras embalagens. A ação, que demandou uma boa dose de tecnologia, começou com uma divulgação iniciada por meio das redes sociais na internet. Só depois ganhou campanha nos meios tradicionais.


Sob o ponto de vista de que as ações criativas acabam cativando o público, Piranda dá outro exemplo bem-sucedido, também ganhador de Leão em Cannes, realizada por uma agência de design americana. O conceito da campanha partiu da ideia de uma carta escrita por árvores, para estimular contribuições para a ONG Forest Stewardship Council, voltada para o meio ambiente. As tais ‘cartas’ foram escritas de forma inusitada por lápis presos a galhos que balançavam sob o vento e assim riscaram superfícies de papéis localizadas abaixo deles. ‘A ideia sensibilizou o público que recebeu a mensagem’, conta Piranda. ‘E isso é o que a publicidade pode fazer de melhor’.


O uso padrão do telemarketing para promoções ou vendas diretas tem taxas de retorno entre 3% e 5% do universo total de chamadas, segundo estimativas do setor publicitário. ‘É um instrumento ainda presente na estratégia de muitas empresas’, diz Salem. ‘Por isso mesmo, acho que essa resistência do consumidor merece a atenção da entidades do setor e deve entrar na pauta de discussão dos profissionais do meio.’


As melhores abordagens, para a maioria do profissionais, são sempre aquelas autorizadas e, se possível, que conseguem oferecer produtos e serviços que realmente sejam de interesse da pessoa abordada. Basta, para isso, que a empresa detenha um mailing bem construído sobre seus potenciais consumidores. Fora isso, é senso comum, que as operadoras de telemarketing deveriam abolir definitivamente o uso do gerundismo. Por favor, nada de ‘vou estar oferecendo’.’


 


 


INTERNET
Maureen Dowd


O Google pode lucrar com conteúdo de jornais?


‘Eric Schmidt tem um jeito inocente, com seus olhos azul aquarela, seu minúsculo escritório repleto de brinquedos no campus do Google, quadras de vôlei, bicicletas que não precisam de cadeado, máquinas automáticas de cereais, balas de goma, assentos de toalete aquecidos, gramados e estacionamentos com tomadas para recarregar baterias de carros elétricos.


O presidente do Google não tem nada a ver com um tipo à la Dick Cheney do jogo Domínio do Mundo, com o qual deveríamos nos preocupar enquanto o Google fica espionando nossas casas, nossos oceanos, nossas fraquezas, nossos movimentos e nossos gostos.


No entanto, no lobby da sede, há uma parede vagamente sinistra, do gênero Grande Irmão, na qual é possível acompanhar em tempo real as buscas feitas no Google – as solicitações pornográficas são cortadas – por pessoas do mundo inteiro. Se ficar ali por algum tempo, talvez você chegue a ver o seu nome. Observando por um minuto, vi a associação de Washington onde minha irmã trabalha, a cidade de praia de Delaware onde meu irmão passa as férias, algumas letras de Dave Matthews, as calorias do pão da marca Panera, pés femininos, por dentro dos sabonetes.


Schmidt, 53, tem uma fala suave, que emana a calma sabedoria do terapeuta quando explica por que a privacidade é algo ultrapassado e por que os jornais ultrapassados não tirarão mais dinheiro do Google para se salvarem do colapso.


O tom funciona comigo porque minha profissão está em perigo. Empresas como Google e Craiglist sequestraram o jornalismo, fazendo-nos sentir tão modernos quanto uma réplica de Tyrannosaurus rex sentado no campus do Google.


Neste momento, o Google trava uma grande batalha para saber se tem o direito de lucrar de maneira tão escancarada com o conteúdo dos jornais enquanto o jornalismo corre um grave perigo.


Robert Thomson, diretor responsável do The Wall Street Journal, denunciou sites da internet como o Google chamando-os de verdadeiros ‘parasitas’. Seu patrão, Rupert Murdoch, disse que os grandes jornais não devem permitir que o Google ‘roube nossos direitos autorais’. A Associated Press ameaçou processar a companhia e outras que usam o trabalho dos jornais sem ter permissão para isso e sem distribuir uma porcentagem ‘justa’ de suas receitas. Mas é preciso provar o que vem a ser ‘justo’.


Então, pergunto a Schmidt em uma salinha reservada para as coletivas, que tem um assento ejetável, o que não deixa de me preocupar. ‘Amigos ou inimigos?’ ‘Nós nos consideramos amigos’, responde, mantendo sua serenidade mesmo quando uma boneca de papelão que está sobre uma mesa atrás dele cai sobre sua cabeça.


Por que é que o Google, que gosta de se considerar uma força benigna da sociedade (seu slogan informal é ‘não seja maldoso’), não nos envia um cheque polpudo por usar nossos artigos, para que possamos manter vivo o equilíbrio dos poderes e continuar fornecendo material para o motor de busca? Afinal, Schmidt reconhece que grande parte do que está na internet é ‘um lixo’. Mas, segundo ele, as pessoas não procuram ‘porcaria’ no Google, apenas coisas ‘úteis’.


Schmidt se recusa a desembolsar dinheiro e observa que os jornais poderiam ceder seu conteúdo ao Google gratuitamente, porque, ‘na realidade, gostamos de ganhar nosso dinheiro por razões capitalistas obviamente boas’.


E prossegue: ‘a melhor maneira de resolver isso é inventar um novo produto. É o que o Google acha. Os que só cuidam da obrigação raramente inventam o futuro’.


E admite que é mais difícil para os jornais dirigirem seus anúncios para o público de modo tão preciso quanto o Google. Se você está lendo a respeito de um crime praticado com uma faca, ele diz, não pode mostrar um anúncio de facas. Schmidt está debatendo com os jornais sobre um novo modelo de anúncio que ‘compreende sua história’ e seus interesses.


‘Eles conhecem sua situação demográfica a ponto de saber se você é um homem ou uma mulher, sua faixa etária, etc. O segredo aqui está no fato de que os anúncios valem mais quando são mais dirigidos, mais precisos, mais pessoais’.


Será que, para salvar o jornalismo, o Google precisa saber quais são os meus segredos mais íntimos? ‘Johnny Carson (apresentador de TV, comediante e escritor americano) fumava, e durante 30 anos ele nunca foi retratado fumando um cigarro’, diz Schmidt. ‘Hoje isso seria impossível’.


É claro que o Google é líder em acabar com toda privacidade, embora Schmidt afirme que, se alguém se queixa de ter sido flagrado em uma foto embaraçosa pelas câmeras Street View do Google, será possível inventar um recurso para tornar a imagem menos nítida, para tornar um rosto ‘anônimo’.


‘Podemos afirmar que não haverá mais heróis’, diz Schmidt. ‘O heroísmo exige que a pessoa seja vista em sua luz melhor, absoluta. Não sei se isso é bom. Como era Barack Obama no primário? Ah, sim, há uma foto dele com o dedo no nariz. Pronto, deixou de ser herói?’.


Quando pergunto se o julgamento humano em matéria editorial ainda é importante, ele procura me tranquilizar: ‘Trabalhando no mundo da comunicação aprendemos que esse equilíbrio entre os redatores de jornal e seus editores é mais sutil do que imaginávamos. Não pode ser facilmente reproduzido pelo computador’.


Por um instante sinto-me melhor, até me dar conta de que, para ele, a única razão pela qual eu não posso ser tão facilmente substituível é que o Google já tentou encontrar uma maneira de me substituir.


* Colunista do The New York Times’


 


 


TELEVISÃO
Lúcia Guimarães


Talk shows, frutas e legumes


‘‘Ninguém na TV faz o que você faz.’ A frase, dita por Marlon Brando em 1973, continua válida. Não houve e não haverá outro Dick Cavett. O melhor anfitrião de talk show da história da televisão continua magro e elegante, aos 72 anos. Continua, como disse para Brando, ‘humilhado quando me elogiam’. Já testemunhei várias vezes seu embaraço em saguões de teatro, quando um espectador saudoso sacou o inevitável celular com câmera.


Quem lê o blog intermitente de Cavett no New York Times recolhe pérolas do intelecto do homem que entrevistou uma galeria notável de personagens no emblemático período de 1968 a 1975 – Groucho Marx, John Lennon, George Harrison, Orson Welles, Janis Joplin, Truman Capote, Marlon Brando, Gore Vidal com Norman Mailer, Muhammad Ali com Joe Frazier – preciso continuar?


Cancelado por falta de audiência, o talk show de Cavett teve duas encarnações posteriores, na TV pública e num canal a cabo. Mas os sete anos iniciais do Dick Cavett Show, uma boa parte disponível em DVDs e pirateada no YouTube, são uma triste lembrança da decadência não só do formato, como da arte de conversar.


Cavett nasceu em Nebraska, em plena Grande Depressão, e foi parar em Yale com uma bolsa de estudos. Começou escrevendo comédias para Jack Paar e Johnny Carson. Sempre autodepreciativo, ele atribui a um bom agente ter conseguido seu primeiro show diário aos 31 anos. Mas o leitor que procurar o programa online vai entender que sorte não explica seu sucesso.


Ao receber John Lennon e Yoko Ono, perguntou, casualmente: ‘Você faz piadas sobre Pearl Harbor com ela?’ O comentário parece voar direto sobre a cabeça de Yoko. O programa com o casal Lennon é um enorme sucesso de vendas em DVD. E aumenta a minha admiração pela capacidade de Yoko Ono de continuar embromando multidões. Quando abre a boca no estúdio, ela pronuncia platitudes desconexas como ‘liberdade’ e ‘utopia’ como se tivesse sido programada por controle remoto.


Groucho Marx fez mais de uma visita. Aos 81 anos, vira-se para Cavett, sério e lamenta não ter ido além da escola primária. Sofria de insegurança com erros gramaticais e considerou ter sido um dos primeiros colaboradores da New Yorker um triunfo maior do que o trabalho de comediante, no começo da carreira. Em outro episódio, o confronto sarcástico de Groucho com Truman Capote deixa Cavett nervoso, mas sem perder o controle daqueles preciosos minutos de televisão.


No começo de um programa, Woody Allen derrubou a mesinha em frente das poltronas ao se sentar. Mas os dois, velhos amigos, se atiraram logo à esgrima surrealista. ‘Quero saber o que você tomou no café da manhã’, Cavett oferece o mote. Allen começa com suco de laranja e dispara uma lista culinária e médica que leva a plateia às gargalhadas.


A plateia do estúdio de Cavett foi banida pela imperiosa Katharine Hepburn, em sua primeira entrevista para a TV, exibida em várias partes. A atriz chega para gravar e sugere reorganizar a mobília do cenário, oferece ajuda aos carpinteiros e nos lembra quanto ela vivia Katharine Hepburn em papéis diferentes.


Orson Welles vira a mesa metafórica, decide inverter os papéis. Em meio a baforadas do charuto, ele começa, com aquele vozeirão: ‘Posso entrevistar você?’ Cavett, um notório reservado, depressivo bipolar que chegou a se tratar com eletrochoques nos anos 90, fica petrificado com o rumo da conversa, mas responde: ‘É assustador encontrar uma lenda viva; deve ser assustador para você também.’ Welles não recua. ‘Você senta aqui, noite após noite, embriagado de poder…’ e continua a arrancar pequenas confissões sobre o breve passado de Cavett como ator. O apresentador sabe que o convidado assumiu a direção, não resiste e o resultado é um momento revelador sobre… Orson Welles. Cavett, como ele brinca ao final, continuará sendo um ‘pequeno enigma’.


Quando estreou na Broadway em 2001 no papel do Narrador, no musical Rocky Horror Show, Cavett deu uma entrevista de uma hora a Charlie Rose, epítome do anfitrião de talk show que não aprendeu os segredos de seu convidado. Faz perguntas longas, interrompe no momento errado e revela para a câmera aquele ar de satisfação consigo mesmo, que é um cacoete imperdoável em televisão.


Naquela entrevista, Cavett comentou seu fascínio maior por personagens de cinema e teatro e confessou que ele também, como muitos fãs nova-iorquinos da época, foi espreitar Greta Garbo, que saía para caminhar diariamente de seu apartamento na Rua 52. Ao se ver diante de seu ídolo, Cavett passou alguns segundos em pânico. Garbo entrou numa delicatessen e ele foi atrás. Agarrou uma alcachofra e perguntou a ela: Isto é um abacate ou uma alcachofra? ‘Garbo riu’ – Cavett se delicia ao relatar a memória – ‘e exclamou: alcachofra!’


Cavett mora parte do tempo numa casa projetada por Stanford White no fim de uma estradinha na ponta de Long Island, à beira do oceano. Confesso que acabei de espiar o endereço no mapa do Google. Escrevo a 30 quilômetros de lá. Diante do meu ídolo, serei capaz de convencê-lo de que não sei distinguir uma fruta de um vegetal?’


 


 


Cristina Padiglione


Peixonauta abre alas


‘Já que produzir animação no Brasil é negócio de risco, daí raro, a estreia do Peixonauta, hoje, na programação do Discovery Kids para a América Latina, tem caráter de ineditismo.


No ar desde o ano passado pelo mesmo canal, Princesas do Mar tem criação do brasileiro Fábio Yabbu, mas conta com coprodução internacional. Por isso, Peixonauta, realizada pela produtora TV Pinguim, de São Paulo, em parceria com o grupo Discovery, é tratada como a primeira série brasileira do canal.


O pioneirismo passa pelo aprendizado dos produtores em financiamento e planejamento. A animação contou com linha de crédito do BNDES e verba que a Ancine destina a encomendas brasileiras por TVs estrangeiras.


Para não cair na tentação de usar leis de incentivo sem pensar em retorno comercial, um plano de voo foi previamente traçado. Ao comprar a ideia, o Discovery deu dois anos de prazo para que a produtora entregasse uma série de 52 episódios.


O peixe, que defende questões ambientais e trafega ‘no mundo molhado e no mundo seco’ (até voa), tem trilha sonora de Paulo Tatit, um luxo para o universo infantil. No ar, 11h30 e 19h30.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 20 de abril de 2009


 


NOTÍCIAS FANTÁSTICAS
Ruy Castro


Acredite se quiser


‘RIO DE JANEIRO – Deu nos jornais e na TV por esses dias. Um cirurgião russo, Vladimir Kamashev, abriu o pulmão de Artyom Sidorkim, 28 anos, para extirpar-lhe um tumor cancerígeno -tudo levava a crer que era um tumor cancerígeno. Em vez disso, encontrou um broto de pinheiro crescendo fuleiro e pimpão no pulmão do rapaz, e já medindo 5 centímetros.


O médico diria depois: ‘Tive de piscar três vezes para ter certeza de que não estava vendo coisas’. Enquanto piscava três vezes, o cientista deduziu que Sidorkim inalara uma semente que lhe fora parar no pulmão, começara a germinar e se tornaria um robusto pinheiro dentro do seu organismo se não fosse removido. O que os botânicos não entendem é como isso pode ter acontecido sem o concurso da luz solar -e, de fato, uma das partes do corpo humano onde menos bate sol é o interior do pulmão.


Em Nairóbi, no Quênia, o camponês Ben Nyaumbe pisou distraído numa cobra de 4 metros de comprimento -uma píton. Ela o capturou, levou-o para cima de uma árvore e dedicou-se por três horas a tentar espremê-lo até asfixiá-lo, triturar-lhe os ossos e engoli-lo. Nyaumbe retaliou mordendo a cobra, para grande espanto desta. Finalmente, ele conseguiu tirar o celular do bolso, discar e pedir ajuda. Enquanto esperava, envolveu a cabeça do bicho com a camisa, o que o salvou.


A píton foi capturada e levada viva para um aposento do prédio da reserva florestal, do qual fugiu -segundo os policiais, passando por baixo da porta- de volta para a selva. Ainda não está claro como uma cobra capaz de engolir um homem pode passar por baixo da porta.


Sempre gostei dessas histórias. Nos anos 50, elas saíam muito numa coluna de jornal chamada ‘Acredite Se Quiser’, do cartunista Ripley, e em comédias de Abbott & Costello. Eu acreditava em todas.’


 


 


IRÃ
Folha de S. Paulo


Americana presa deve ter direito respeitado, diz Ahmadinejad


‘O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, enviou uma carta ao chefe da Promotoria de Teerã na qual o instruiu a se certificar pessoalmente de que a jornalista americana condenada anteontem a oito anos de prisão por espionagem tenha ‘todos os direitos de se defender’ no curso da apelação. O teor da carta foi divulgado pela agência oficial iraniana, IRNA. Em Trinidad e Tobago, o presidente americano, Barack Obama, externou preocupação com o caso de Roxana Saberi, a quem isentou de envolvimento em espionagem.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


SBT prepara show de calouros moderno


‘O SBT planeja estrear na segunda quinzena de junho uma versão moderna do formato de show de calouros. O programa, ainda sem nome, não terá apresentador. Será conduzido pelos quatro jurados, no palco, e por uma repórter, Isabela Camargo, diretamente dos bastidores. Lembra o americano ‘America’s Got Talent’, da NBC.


A atração será semanal e entrará na chamada ‘linha de shows’ (como ‘Hebe’ e ‘A Praça É Nossa’). Encomenda de Silvio Santos, está sendo produzido a toque de caixa. A direção será de Ocimar Castro, que comandou o ‘Olha Você’.


O time de jurados deverá ser fechado nesta semana. A previsão é que na semana que vem, com cenário já pronto, sejam gravados os primeiros pilotos.


O novo show de calouros reunirá aspirantes a todo tipo de atividade artística (cantor, mágico, dançarino), mas promete rigor na seleção. Os participantes terão de ser inéditos ou apresentar números nunca antes exibidos na TV. Não serão aceitas bizarrices. A ideia é revelar novos talentos.


O programa irá ao ar em temporadas de 13 ou 14 episódios. Cada episódio terá um vencedor. No último, os vencedores disputarão um prêmio, que será superior a R$ 100 mil.


O show de calouros integra pacote de programas em que o SBT pretende reagir à queda de audiência. Em terceiro lugar, a emissora quer primeiro evitar ser ultrapassada pela Band.


SEM HOMENS


Já eliminada de ‘O Aprendiz 6’, da Record, a estudante Taila Ueoka vazou uma lista dos supostos próximos demitidos por Roberto Justus. Pela ordem: a própria (amanhã), João Granja (nesta quinta), Rutênio Nogueira (28), Lucas Broch (30) e Rafael Pereira (5). Se for verdade, ficará só um homem entre sete mulheres.


DEFLAÇÃO


O prêmio desta edição de ‘O Aprendiz’, só com universitários, foi reduzido à metade. O novo vencedor levará R$ 1 milhão e um emprego de R$ 10 mil mensais. O do ano passado ganhou R$ 2 milhões.


SÁBADO À NOITE


Maria Cândida, atualmente no ‘Programa da Tarde’, que vai acabar, negocia com a Record um programa aos sábados.


FALA DO GORDO Acostumado a entrevistar, Jô Soares vai dar entrevista a Marília Gabriela. O encontro, em que fará um balanço da carreira, será gravado no dia 6 e exibido pelo GNT em 10 de maio.


ESTRESSE 1


Andam tensas as relações entre a Band e os organizadores da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. Os donos do evento argumentam que a Band não cumpriu cláusula do contrato ao tirar do ar, em fevereiro, o programa independente ‘Astros do Rodeio’, que exibia aos domingos. Ameaçam cassar o direito da emissora exibir a festa em 2009.


ESTRESSE 2


A Band diz que o programa saiu do ar porque não dava audiência. E que negocia um acordo com a festa de Barretos.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Desenho ‘Peixonauta’ viaja pelo Brasil


‘Peixonauta é um peixinho viajante que usa um escafandro para poder passear fora d’água. Adora desvendar mistérios propostos por uma bola colorida que, para ser aberta, tem de ter sua combinação de notas musicais repetidas por uma dança coreografada de todos os presentes na aventura. Ela se abre e revela dois objetos, que levarão o Peixonauta e sua turma numa missão.


O macaco Zico é um trapalhão que só quer saber de brincadeira e guloseimas. Já a menina Marina, no alto de seus oito anos, gosta de ajudar e é politicamente correta. Mora no parque com seu avô, um veterinário que explica tudo, como uma enciclopédia -para crianças, bem entendido.


Mas eles não querem muita ajuda, só diversão. E, com isso, saem em busca de água para carneiros, uma anta que pensa que é sapo, os mistérios da chuva, reciclagem de lixo e vários outros assuntos que misturam ecologia, variedade da fauna brasileira e lógica.


Mais indicado para crianças entre quatro e sete anos, quando já conseguem acompanhar o raciocínio dos personagens, o desenho tem ação, cores e ritmo, além de uma abordagem muito positiva para a formação das crianças. Uma bola dentro na estreia em animação brasileira feita pelo Discovery Kids.


PEIXONAUTA


Quando: hoje, às 11h30; episódios exibidos de seg. a sex., às 11h30 e às 19h30


Onde: Discovery Kids


Classificação: livre’


 


 


LITERATURA
Brad Stone, NYT


O futuro multimídia do mundo dos livros


‘Muitos autores sonham em escrever o grande romance americano.


Bradley Inman quer criar ótima ficção, vídeos on-line dramáticos e fluxos atraentes de Twitter —juntando tudo em um híbrido multimídia.


Inman, um bem-sucedido empreendedor do Vale do Silício, chama esse amálgama digital de Vook (www.vook.tv), e a recém-criada empresa com esse nome poderia representar um futuro possível para o combalido setor editorial.


As editoras, naturalmente, estão sentindo a mesma dor crônica que outros negócios da mídia, com demissões, reestruturações corporativas e uma sensação geral de melancolia.


Ao mesmo tempo, há uma onda de otimismo e atividade em torno da ideia, outrora desprezada, de que as pessoas poderiam ler livros em telas digitais. Só neste ano já surgiram dispositivos de leitura eletrônica da Amazon, da Samsung e da Fujitsu, enquanto celulares como o iPhone, da Apple, se revelam dispositivos aceitáveis de leitura para muitos fanáticos por livros.


E assim como a mídia digital começou a mudar a natureza das notícias, da música e do vídeo, o surgimento dos livros eletrônicos está fazendo vários empreendedores e tecnólogos reconsiderarem o tipo de experiência que os livros um dia poderão trazer.


Inman é um dos que estão reimaginando a página impressa. Como fundador da HomeGain.com, uma imobiliária on-line que ele vendeu em 2005 a uma joint venture de empresas jornalísticas, e da TurnHere, uma produtora que cria vídeos para editoras, ele tem profunda ligação com o mundo editorial de Nova York.


No ano passado, considerando as oportunidades que dispositivos como o Kindle, da Amazon, poderiam eventualmente criar, Inman escreveu o seu próprio livro de suspense, ‘The Right Way to Do Wrong’ (‘O jeito certo de fazer errado’), e pediu à TurnHere que gravasse cerca de duas dúzias de vídeos curtos, com atores, que aumentam o mistério principal do livro.


‘Achamos que há uma verdadeira urgência do setor editorial em inovar com novas formas de conteúdo’, diz ele.


O Vook tenta resolver um grande problema das editoras com o formato digital. Apesar de todo o hype e do sucesso inicial de dispositivos como o Kindle, os e-books ameaçam privar os livros de grande parte do seu apelo emocional. As imagens na sobrecapa, as fontes convidativas e o prazer de sentir um papel de qualidade em geral somem, substituídos por insípidos pixels sobre uma página virtual.


Para completar o cenário, em dispositivos de leitura multifuncionais, como o iPhone, passatempos que geram uma gratificação mais imediata, como os videogames, estão a apenas um clique dos leitores com mais dificuldade de concentração.


‘Os editores serão confrontados com a ideia de que ou as palavras sobre a página têm de ser completamente convincentes por si só, ou terão de encontrar uma forma de criar novos tipos de atrações subliminares no novo meio’, disse Sara Nelson, consultora do setor editorial e ex-editora da revista especializada ‘Publishers Weekly’.


Ela já viu o protótipo do Vook e o considerou intrigante, mas o desafio é evitar a sensação de que se trata de uma novidade supérflua. ‘Se você vai colocar vídeo em um livro, ele tem de fluir tão naturalmente na história que os leitores nem percebam que estão trocando de meio’, disse Nelson.


Várias outras experiências semelhantes estão a caminho. O WEBook, criado por uma empresa de Nova York, permite que várias pessoas colaborem na escrita de livros e já prepara ferramentas para que os leitores comentem as obras com os autores em tempo real. A Wattpad, de Toronto, está entre várias novas empresas que solicitam originais de autores inéditos, driblando as grandes editoras e distribuindo as obras pela Web ou para celulares.


Todas essas tentativas certamente vão provocar debates sérios nos círculos literários. ‘Não acho que estejamos comprometendo a palavra escrita’, diz Inman, do Vook. ‘As pessoas vão continuar lendo, só que de novas maneiras. Os livros finalmente estão saindo on-line, mas são muito unidimensionais. Acho que podemos experimentar e fazer melhor.’’


 


 


 


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