“Continuamos lutando com todas as forças para que o jornal impresso se mantenha no mínimo por mais sete anos, mas está difícil aumentar a circulação nessa crise”, declarou ao Observatório da Imprensa o presidente do Conselho de Administração do Sinos, Carlos Eduardo Gusmão. A meta da empresa no atual cenário de crise, segundo ele, é pelo menos manter o faturamento corrigido pela inflação. O faturamento de R$ 58 milhões e o lucro de R$ 1,74 milhão apurados pela empresa em 2018 é um bom resultado para um grupo de comunicação regional de um país em crise, mas está muito aquém dos números exibidos anos atrás.
Em 2012, o jornalista Matias Molina, estudioso da história da imprensa brasileira, descreveu o grupo sulista como “uma das mais prósperas e sólidas editoras de jornais do país” em artigo publicado pelo jornal Valor Econômico. O texto cita o lucro de R$ 6,1 milhões apurado em 2011 e o compartilhamento do resultado com os empregados, que receberam 14º salário e 80% do 15º como participação nos lucros naquele ano.
Com a crise econômica, a empresa teve de cortar gastos e reduzir funcionários. De setecentos empregados existentes em 2014, restaram cerca de quatrocentos. O programa de distribuição de lucros foi suspenso em 2015.
Na entrevista a seguir, Carlos Eduardo Gusmão fala sobre os impactos da crise na empresa e as perspectivas de futuro.
Como o senhor vê o momento atual da imprensa?
Nenhuma empresa de comunicação tem clareza sobre o futuro. Devemos continuar a apostar no papel ou apostamos na mídia digital? Se os jornais migrassem cem por cento para o digital, teriam que dispensar grande parte de suas equipes. O digital não tem os custos de impressão nem de distribuição, mas a receita por assinante é quatro vezes menor do que no impresso. Ainda não se descobriu como fazer dinheiro com o digital.
O senhor está pessimista?
Nem otimista, nem pessimista. Estamos realistas e faremos o máximo para recuperar o assinante do impresso. Continuamos lutando com todas as forças para que o papel se mantenha no mínimo por mais sete anos. Mas está difícil aumentar a circulação nessa crise. Nossa meta é conseguir pelo menos manter o faturamento corrigido pela inflação.
Em 2008, Mário Gusmão contou que o Grupo Sinos tinha planejamento estratégico para dez anos. O que vocês projetam para os próximos dez anos?
O planejamento de longo prazo era uma filosofia de administração que foi modificada diante da instabilidade do cenário econômico. No início da crise econômica, reduzimos o horizonte para cinco anos e, agora, o planejamento é feito anualmente, junto com o orçamento. Não dá para planejar a longo prazo neste quadro de incertezas.
Seus jornais dão lucro, apesar da crise?
O grupo sempre apresentou lucro, desde sua fundação, há 62 anos. A empresa precisa ser saudável para garantir a independência editorial, sustentar o crescimento e honrar pontualmente os compromissos. Em 1977, quando grandes empresas de comunicação se achavam no direito de atrasar pagamentos, o senhor Mário Gusmão decidiu que a empresa nunca mais atrasaria o pagamento de seus compromissos. A decisão é seguida à risca, desde então.
Qual o peso da publicidade do setor público no faturamento dos seus jornais?
Beira 10% do faturamento total. Isto porque as prefeituras precisam publicar seus atos legais, porque a publicidade mesmo é muito pouca. O Jornal NH responde por 40% do faturamento; o VS representa 20% e o Diário de Canoas contribui com 10%. Os 30% restantes estão diluídos entre os demais negócios. Nossa receita depende dos contatos publicitários, que procuram os anunciantes privados de porta em porta.
Como é a administração do Grupo Sinos?
Somos uma sociedade anônima de capital fechado com valores e objetivos bem definidos. A empresa tem de ser lucrativa para garantir sua independência editorial, sustentar seu crescimento e honrar pontualmente seus compromissos. Todo lucro é reinvestido no próprio negócio. Não temos investimentos fora da comunicação.
O Conselho de Administração e o Conselho de Acionistas são órgãos permanentes e intocáveis. O senhor Mário preside o Conselho de Acionistas e não exerce mais função executiva. Mas está todos os dias na empresa. Chega às 8h da manhã e sai às 8h da noite. E também está preocupado com o futuro do jornal.
Treze por cento do capital pertence aos empregados. O programa “Funcionário Acionista” foi criado em 1988. Ao se tornarem proprietários, passam a se preocupar com a redução de custos. Medidas simples, como apagar as luzes no final do expediente, produzem resultados. Eles podem revender as ações quando saem do jornal, mas alguns preferem mantê-las, porque os dividendos são bons. O rendimento é de 10% ao ano.
A empresa está na segunda geração dos acionistas. A sucessão é um grande problema nas companhias. Vocês já se preocupam com isso?
A sucessão está resolvida entre nós. Somos quatro herdeiros no comando: dois filhos de cada fundador. Meu irmão Fernando está na diretoria executiva e toca o dia a dia da companhia. Eu cuido mais da parte política. A relação entre nós quatro é muito respeitosa e de amizade. Mas existem divergências: eu amo o papel, meu irmão ama o digital. O Conselho de Administração foi criado há quinze anos e é formado por empresários da região sem vínculo com o jornal. Ele se reúne uma vez por mês, quando a diretoria executiva presta contas do cumprimento das metas.
Os senhores compraram três jornais regionais quando a crise da mídia impressa já estava desenhada. Por que?
Compramos o Jornal de Gramado em 2009. É uma cidade turística de muito potencial de crescimento. O título nos foi oferecido por um ex-colaborador, o que facilitou as negociações. Em 2012, compramos o Correio de Gravataí e o Diário de Cachoeirinha, a pedido de lideranças locais, que ansiavam pelo nosso modelo de comunicação propositivo. Achamos que a imprensa deve ajudar a construir o município, não apenas fazer críticas, e ser uma caixa de ressonância dos anseios da comunidade. Também vemos potencial de crescimento nas duas cidades.
O NH tem concorrência em Novo Hamburgo?
Os jornais da capital não concorrem com o NH em Novo Hamburgo. Temos 22 mil assinantes na cidade. O Zero Hora chega a todos os municípios e, por isso, tem a maior circulação no Estado (170,6 mil, na média do primeiro trimestre de 2019, segundo o IVC). Mas vende cerca de 2 mil exemplares em Novo Hamburgo. Somos um grupo regional líder onde atuamos, à exceção de Cachoeirinha e Gravataí, onde o Diário Gaúcho – jornal popular do grupo RBS – lidera. Estamos com dificuldade de fazer com que a população destas cidades perceba que somos um jornal diferente, não vulgar.
O Correio de Gravataí e o Diário de Cachoeirinha dão prejuízo?
Em alguns momentos, sim. Em outros, não. Mas no resultado final há um pequeno lucro. Se não conseguirmos aumentar a circulação, vamos repensar o modelo e, talvez, partir para um jornal mais popular, o que não desejamos no momento. Enquanto Novo Hamburgo tem uma população predominantemente de origem alemã, de classe média e escolaridade alta, Gravataí e Cachoeirinha têm perfis bem diversificados, são quase extensões de Porto Alegre.
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Elvira Lobato é jornalista.