Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Paulo Verlaine

‘A matéria publicada no último dia 9 com o título ‘Base Aérea reforma fachada e muda arquitetura original’, no O POVO (Fortaleza), causou surpresa e tristeza entre os que defendem o patrimônio histórico da capital cearense. A conclusão é desalentadora: desaparece mais um marco da arquitetura fortalezense, sob o olhar indiferente das autoridades e, o que é pior, destruído por uma instituição que deveria ter a obrigação de preservá-lo: a Aeronáutica.

Diz o texto assinado por Tiago Braga: ‘Da antiga fachada – projeto criado pelo arquiteto húngaro Emílio Hinko, na década de 30 – sobrou apenas uma parte. O restante foi demolido. A reforma no local tem desagradado alguns moradores do entorno do prédio que discordam da obra por acharem que a arquitetura original foi comprometida’.

Especialistas protestam

No dia 13/9, em ‘O assunto da semana’ (Opinião), O POVO ouviu seis especialistas sobre a descaracterização do prédio da Base Aérea de Fortaleza. A condenação é quase unânime.

O arquiteto Joaquim Cartaxo declarou: ‘Ações dessa natureza praticadas pelo poder público são inaceitáveis. Edifícios como o da Base Aérea são referências simbólicas de tempo (história) e de lugar (geografia), portanto compõem o patrimônio cultural estando ou não tombado. Maculá-lo foi um atentado à Fortaleza e à memória da Aeronáutica na evolução cidade’.

A superintendente regional do Iphan Olga Paiva deu sua opinião: ‘Embora responsável por bens tombados em nível federal, o Iphan, caso consultado previamente pela Aeronáutica, não se furtaria a destacar os valores intrínsecos à semelhante situação, o que teria, provavelmente, evitado esse lamentável fato’.

‘Acreditamos que a Aeronáutica deve esclarecer a opinião pública sobre quais motivos a levaram a alterar a imagem de um monumento que estava ligado à própria imagem da instituição. Espera-se que exista um fato relevante, pois ao que sabemos a entidade está suprimindo um estilo arquitetônico intrinsecamente ligado a uma época da nossa história’, pronunciou-se o presidente do Instituto do Ceará – Histórico, Geográfico e Antropológico – professor José Augusto Bezerra.

Por sua vez, o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-CE) Custódio dos Santos também protestou: ‘Não nos consta que em momento algum o comando da Base Aérea tenha encetado diálogo, com o Iphan ou qualquer outra entidade, no sentido de compreender e adotar medidas que tivessem por fim a preservação do patrimônio histórico’.

De José Borzachiello da Silva, geógrafo e professor da UFC: ‘Claro que o Iphan deveria ter sido consultado. Trata-se de órgão reconhecido pela firmeza de suas ações na defesa do patrimônio público. A política de preservação da memória urbana é muito cara à Fortaleza, cidade ameaçada pela demolição ou descaracterização contínua de edificações ou logradouros. Em se tratando da fachada da Base Aérea de Fortaleza há o agravante do descaso da Aeronáutica com a composição da paisagem urbana e a história da cidade’.

Embora tenha achado que a Aeronáutica ‘não infringiu nenhuma lei’ ao promover a reforma da fachada da Base Aérea de Fortaleza, a diretora do Museu Histórico do Ceará, Cristina Holanda, ressalva: ‘Essa e outras tantas ações de modificação/demolição de edificações antigas em nossa capital deveriam ser avaliadas obrigatoriamente pelos Conselhos Municipal e Estadual de Cultura/Patrimônio, de modo democrático, com a participação das ‘autoridades competentes’ e, sobretudo, dos representantes das diversas organizações da sociedade civil, sob pena de vivermos um ‘presentismo futurista’ sem volta, que nos faz perder a noção de quem fomos e de quem somos’.

75 anos

Segundo dados da própria Aeronáutica, a história da Base Aérea de Fortaleza remonta a 15 de maio de 1933, quando foi criado o 6º Regimento de Aviação da antiga Aviação Militar do Exército. As atividades do 6º RAv tiveram início em 21 de setembro de 1936 quando da ativação do Núcleo da Base Aérea, recebendo três biplanos Waco CPF F-5.

No dia 22 de maio de 1941 o Núcleo, que se tornou o 6º Corpo de Base Aérea, passou a denominar-se Base Aérea de Fortaleza, controlado pelo então recém-criado Ministério da Aeronáutica.

A Base Aérea de Fortaleza teve grande papel na formação de pilotos da FAB que atuaram na Segunda Guerra Mundial e em etapas posteriores.

Emílio Hinko

São de Emílio Hinko, arquiteto húngaro nascido em 9 de abril de 1901, em Budapeste, as principais edificações e casas de moradia construídas em Fortaleza nas décadas de 30, 40 e 50, entre as quais o Náutico Atlético Cearense, a Igreja do Coração de Jesus, o Hospital de Messejana, a Capela das Irmãs Missionárias, o prédio da Secretaria de Finanças do Município e, entre tantas outras, a Base Aérea de Fortaleza, hoje derrubada para dar lugar a um prédio novo. Lamentável.

Aznavour

Charles Aznavour, o grande chansonier francês de ascendência armênia, realizou histórico show em Fortaleza no último dia 13, na casa de espetáculos Siará Hall. ‘Platéia cede aos encantos de chansonier’ (15/9, página 13, Vida & Arte Especial), é o título da matéria assinada por Amanda Queirós. Leitor liga para este ombudsman para elogiar matéria da jornalista e, ao mesmo, para criticar algumas coisas desagradáveis na apresentação: ‘a péssima acústica do Siará Hall, o desrespeito ao público que ficou esperando mais de uma hora do lado de fora da casa de show sem que os organizadores abrissem os portões’. Está feito o registro.’