Ao acordar na manhã de segunda-feira, 24 de agosto, liguei a rádio CBN, do Sistema Globo de Rádio, e tive a nítida impressão que havia recuado no tempo. Estava no ar uma típica matéria do gênero moralista, que remete aos tempos da UDN (União Democrática Nacional), com o visível objetivo de desviar a atenção de temas relevantes relacionados com o futuro de um Brasil soberano.
Sobre a importante data de 24 de agosto, que remete à soberania, como a carta-testamento de Getúlio Vargas e o seu suicídio, riquezas petrolíferas nas mãos dos brasileiros, a Quarta Frota americana rondando o nosso litoral, nada. O âncora não estava nem aí para tais fatos, mas seguindo a pauta da Globo mostrava-se indignado com os gastos do governo federal com um conjunto de toalhas de banho de fio egípcio destinado ao Palácio do Planalto. ‘Dinheiro para esse fim proveniente das verbas públicas’, bradava indignado o jornalista.
Moral da história: tal qual 55 anos atrás, a cruzada moralista midiática se repete a todo instante, por coincidência sempre no esquema das Organizações Globo. Dia 24 de agosto de 2009 foram as toalhas, como em agosto de 1954 foi a pressão pela renúncia de Vargas, e amanhã pode ser qualquer coisa, desde que sirva para cooptar setores da classe média que se deixam iludir por um moralismo barato que tem como objetivo principal atingir a imagem de governos que até mesmo timidamente não seguem o receituário defendido pela empresa midiática conservadora.
CPI sobre Globo e Record
A briga de foice entre a Globo e a Record deveria merecer maior atenção dos congressistas. O podre que saiu de um lado e outro poderia servir de gancho para a instalação de uma CPI da mídia, porque as denúncias não podem cair no esquecimento a partir do momento em que a turma do deixa-disso entra em cena para tentar parar a briga. Se por muito menos tem saído CPI, algumas delas com propósitos apenas políticos-eleitorais e de jogo de cena para contemplar alguns parlamentares com os tais cinco minutos de fama, por que não apurar denúncias graves que envolvem os dois impérios midiáticos que disputam audiência na pequena tela?
Caso aconteça mesmo isso, será uma grande oportunidade de limpar a barra dos congressistas, que por sinal não está nada boa.
Recordar é viver: no governo Vargas, o conservadorismo conseguiu abrir uma CPI para apurar supostos benefícios do Estado para com a Última Hora de Samuel Wainer. A história mostra que o verdadeiro motivo da abertura da investigação era apenas o de desestabilizar um governo nacionalista e que tinha contra si praticamente todos os grandes órgãos de imprensa do país, com a exceção do próprio jornal investigado pelo Parlamento.
Curioso, enquanto o conservadorismo midiático esperneava contra o apoio da Última Hora a Vargas, tendo como pretexto suposto benefício do Banco do Brasil a Wainer, os jornalões que pregavam abertamente o golpe continuaram a receber polpudas verbas publicitárias do governo federal.
Lição de democracia
E o que acontece hoje na área midiática? Observem que a publicidade do governo continua fluindo normalmente para a mídia hegemônica, uma distribuição pouco equânime, já que a mídia alternativa à grande mídia segue à míngua, sem receber quase nada ou muito pouco.
Na hora que o Brasil se prepara para debater este e outros problemas relacionados com a área midiática na Conferência Nacional de Comunicação, os empresários do setor vinculados a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e outras entidades patronais decidem boicotar o evento marcado para 1, 2 e 3 de dezembro, e que já sendo realizado em nível municipal e estadual.
É sempre assim: na hora da discussão, empresários que apregoam a todo instante a defesa da liberdade de expressão – na prática defendendo, isto sim, a liberdade de empresa – são os primeiros a tentar impedir qualquer tipo de discussão do gênero. E ainda por cima convocam os colunistas de sempre e entidades no exterior, como a Sociedade Interamericana de Imprensa, para queimar a iniciativa proposta pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Esta é a lição de democracia que oferecem ao público empresários como os da Globo e dos jornalões da mídia hegemônica.
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Jornalista