O prêmio de melhor interpretação ao índio Regis Myrupu, no filme A Febre, de Maya Da-Rin, no Festival Internacional de Cinema de Locarno, é justo e merecido – e também um tabefe na política brasileira do presidente Bolsonaro.
Indiferente ao crescente desprestígio político internacional, ele agora vê o mundo da arte e do cinema se manifestar, de maneira evidente, contra sua política anti-indianista de extermínio da cultura indígena.
Faz alguns dias, a imprensa noticiou a primeira triagem feita por Bolsonaro nos atuais projetos de roteiros de filmes da Ancine, para descartar os considerados impróprios por questões morais ou religiosas. O que a ditadura não conseguiu, Bolsonaro conseguirá fazer: liquidar o prestígio do cinema brasileiro no cenário internacional.
Se a extrema-direita brasileira continuar seu trabalho de destruição, dentro de um ano já não haverá mais filmes brasileiros nos festivais.
Aproveitando o tempo curto de liberdade do qual ainda dispõe o cinema nacional, vamos comemorar a vitória de A Febre, Maya Da-Rin e Régis Myrupu, em Locarno, na Suíça. Na semana passada, fiz uma rápida entrevista com esse índio Desana logo após a projeção do filme no festival.
E não havia dúvida: Vitalina Varela, novo longa-metragem do português Pedro Costa, era o grande favorito na competição internacional de Locarno. A presidente do júri, a francesa Catherine Breillat, revelou ter havido unanimidade na concessão desse prêmio e afirmou que trata-se de filme para estar em todas as cinematecas do mundo.
A estatueta de melhor atriz foi para a própria Vitalina Varela, vivendo sua personagem. O prêmio especial do júri foi para o filme Pa-Go, de Jung-Bum Park, da Coreia do Sul. A melhor direção ficou com o francês Damien Manivel, do filme Les Enfants d´Isadora.
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Rui Martins, do Festival Internacional de Locarno.