Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Ninguém precisava ter lido o blog da Petrobras para perceber problemas na reportagem publicada no sábado, dia 6, sobre as relações entre a empresa e a entidade MBC (Movimento Brasil Competitivo).

Expressei assim, na crítica diária que faço das edições deste jornal, minha reação inicial ao deparar-me com a chamada de capa dada a ela: ‘Francamente, não vejo relevância na informação de que verba da Petrobras foi para ONG que tem seu presidente entre os membros do conselho para que ela esteja na primeira página’.

Meu argumento era que em geral a presença de pessoas que ocupam cargos de prestígio em conselhos de organizações como o MBC é apenas simbólica. Como o próprio texto da reportagem informava, o presidente da Petrobras nem participa das reuniões do MBC.

Concluí que ‘a contratação do MBC pela Petrobras pode merecer críticas, ser denunciada, por diversos motivos. Pelo fato de que Dilma Rousseff e José Sergio Gabrielli participam nominalmente do conselho da ONG, não’.

A publicação de cartas do presidente do MBC e da gerente de imprensa da Petrobras no ‘Painel do Leitor’ de segunda-feira confirmou minhas impressões e foi suficiente para eu (e muitos leitores) fechar juízo de valor sobre o caso.

Ao longo da semana, a relação entre a Petrobras e o MBC foi deixada de lado (o que parece confirmar a sua pouca relevância) e o debate, injustificadamente histérico, se concentrou na criação do blog Fatos e Dados pela estatal.

A Petrobras e qualquer entidade ou cidadão têm o direito indiscutível de criar quantos blogs, sites, jornais ou publicações de qualquer espécie que quiserem. Se ela deseja tornar públicas todas as perguntas de jornalistas que receber, também não há nada que a impeça nem legal nem eticamente (em especial se deixar claro a quem se dirigir a ela que vai fazer isso).

Não faz sentido a Petrobras querer editar o conteúdo dos veículos de comunicação. Mas não há problema em ela tornar público material que seja cortado durante o processo de edição feito por esses veículos.

A reação de muitos jornalistas, veículos e entidades à iniciativa foi claramente despropositada. Se alguém pode sair prejudicado pela decisão de revelar as questões de jornalistas antes da publicação das reportagens a que se destinam é a própria empresa, como seu recuo nesse ponto deixou claro: se as pautas exclusivas deixam de ser exclusivas porque a fonte as revela ao público, o mais indicado para quem as produz é não ouvir essa fonte antes de publicar a reportagem.

Do episódio, só há a lamentar que tenha sido mais lenha para atiçar a fogueira do conflito sectário que envenena o ambiente político nacional em prejuízo de todos.

PARA LER

‘Blablablogue’, organizado por Nelson de Oliveira, editora Terracota, 2009 (R$ 25)

PARA VER

‘Nome Próprio’, de Murilo Salles, com Leandra Leal, 2007′

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‘Como um raio em dia de céu azul na USP’, copyright Folha de S. Paulo, 14/6/09.

‘A Folha tratou da greve na USP até sexta como fato policial, isolado e sem motivos estruturais antigos e graves. Problemas de anos enfrentados pelas universidades paulistas foram ignorados pelo jornal.

O material editado girou em torno do conflito de terça-feira. A PM podia ou não entrar no campus? Ela se excedeu ou não no confronto? A reitora vai ou não renunciar?

As reivindicações de funcionários, professores e estudantes não foram debatidas. Elas são justas? É possível atendê-las? Por que são feitas? Sobre isso, o leitor não recebeu informações minimamente satisfatórias.

O único texto que tocou nesses temas foi o artigo de José Arthur Giannotti na quinta-feira. Ele diz que o orçamento das três universidades paulistas está bloqueado pelo pagamento a aposentados e servidores e que 85% do da USP fica na folha salarial.

Apesar de pautada pelo articulista, a reportagem não apurou (pelo menos não publicou) nada a respeito, como já deveria ter feito há muito tempo. Nem tratou das condições das diversas unidades da USP, que uma leitora diz estar dividida entre as dos Jardins e as do Jardim Ângela.’

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‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 14/6/09.

‘PERU

Jornal faz, mesmo à distância, boa cobertura da crise étnica no país

…E ONDE FOI MAL

PIB

Manchete de quarta omite a notícia mais importante (queda do PIB foi menor do que se antecipava); ao contrário do que fez em março, quando queda do PIB brasileiro estava entre as maiores do mundo, comparação com outros países desta vez não aparece na primeira página

FOLHATEEN

Suplemento faz confusão primária entre erotismo e pornografia; foto da capa é grosseiramente óbvia

DILMA

Reportagem na terça sobre indenizações da ministra é extemporânea; selo ‘Fashion 1’ sobre sua foto, ao lado de uma de Rodrigo Santoro desfilando, em Folha Corrida de quinta não tem nenhuma justificativa jornalística

PANDEMIA

Manchete de sexta é novo exemplo de falta de atualidade e subserviência a fontes oficiais e ao formalismo

ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA

1. Petrobras

2.Voo 447

3. USP

PRÓ-MEMÓRIA

Caso a ser retomado

A lei seca no trânsito completou um ano. Não está na hora de o jornal fazer um balanço solidificado das pesquisas sobre suas consequências?’