‘Retrocesso, desrespeito, tristeza, vergonha, golpe. Foram palavras usadas por leitores e internautas do O POVO lamentando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que acabou com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. A notícia dada na edição da última quinta-feira, 18, com o título ‘STF: Exigir diploma de jornalismo é inconstitucional’, recebeu mais de 50 comentários no Portal O POVO Online.
No O POVO a informação constou de uma única matéria sem repercussão local. Não foram ouvidos profissionais locais, sindicalistas, professores ou estudantes. Na matéria, tinha só a declaração do presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo que constava no site da entidade. Ele dizia que tinha sido um golpe duro à qualidade da informação jornalística e à organização da categoria. Na edição do dia seguinte,19, também nenhuma matéria repercutiu o assunto entre os jornalistas locais, o que deveria ter sido feito para ampliar o debate.
O leitor José Mário da Silva disse ter sido uma covardia e criticou o ministro Gilmar Mendes, relator do caso. Fazendo um paralelo entre o exercício do jornalismo e outras profissões de categoria social, o ministro se referiu às atividades de culinária e de corte de cabelo para as quais, disse, não é exigido diploma. ‘Fiquei muito triste. Jornalista merece respeito’, disse o leitor.
Leilah Ribeiro Freire perguntou: qual o estímulo que terão os que estão na faculdade de jornalismo? A estudante Érika Vieira disse que ficou mal com a notícia logo agora que está prestes a receber o diploma. Concorda que haja agora desestímulo dos jornalistas.
Entre os internautas, Ana Cleide Vieira disse que a atitude do STF prova não ser só a área da educação que irá sofrer com a invasão de outros profissionais. A exigência do diploma não tira a ‘liberdade de expressão’, mas garante uma sistematização dessa informação com maior qualidade e garantias cidadãs. Valdir Morais, de Ipueiras (CE), considera que se o nível do jornalismo no interior do País não é lá essas coisas, imagine daqui pra frente. Deve-se repensar no futuro dos cursos de Jornalismo.
OPINIÃO DE OMBUDSMAN
Pedi à jornalista Adísia Sá, primeira ombudman do O POVO, e à jornalista Regina Ribeiro, que também exerceu a função de ombudsman neste jornal, que dessem suas opiniões sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Eis o que diz Regina Ribeiro: Não é o fim do mundo. A decisão do STF de pôr fim a obrigatoriedade do diploma de jornalista por mais que desagrade aos que concordam com o título, amplia o debate sobre a formação e o exercício profissional. Para começo de conversa, a qualificação continuará sendo o item número 1 para as empresas. Até porque só vai sobreviver a empresa que colocar inteligência no negócio, agora uma inteligência interconectada e em convergência. Depois, os cursos de Jornalismo vão ter de passar por uma peneira fina e permanecerão os que fizerem a diferença na formação dos profissionais.
Faz tempo que cursos públicos e privados, a maioria batendo ainda em teclas sem sentido, despacham para o mercado meninos em meninas que são formados na prática. Acredito que uma prova de aptidão – como fazem os cursos de arquitetura, teatro, música -, seria bem vinda. Para mim, está enganado quem pensa jornalismo como arte, literatura, gastronomia. O jornalismo pode ter sim qualidades artísticas, mas informação é um produto que precisa ser transformado por uma técnica profissional e que exige conhecimento específico’.
Adísia, nossa ombudsman emérita, diz o seguinte: ‘Desde 1918 – quando da realização do 1º Congresso de Jornalistas, promoção da ABI, no Rio de Janeiro, que a categoria dos jornalistas brasileiros lutava pela criação de cursos de jornalismo, o que só aconteceu na década de 60. Junto com a criação, a obrigatoriedade do diploma como exigência para o exercício da profissão (DLn.972/69). Isso, convém salientar, nunca foi cumprido por parcela ponderável da Imprensa brasileira, inclusive no Ceará.
Eis que agora o STF considera inconstitucional a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista, o que vale dizer que, sem a obrigatoriedade, o patronato está coberto para nomear quem bem entenda. Na minha visão, o patronato da comunicação- capitalista na essência-, não vai contratar quem não é devidamente habilitado para a profissão, buscando, para tanto, aqueles considerados os melhores saídos de escolas.
Noutras palavras: escolas não serão fechadas e de seus bancos sairão os ‘catados’ pelas empresas, por lhes ser mais ‘barato’ (trazer elemento pronto, a ter que prepará-lo às suas custas).
‘Por ser mais barato’ não significa menos qualificação: pelo contrário, quanto mais qualificado o profissional, melhor o seu produto e é isto o que importa ao empresariado: profissional qualificado, melhor produto, maior venda, mais publicidade… mais dinheiro’.’