O Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT), aproveitando a possível vinda a Cuiabá na quinta-feira (27/8) do mato-grossense e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, divulgou nota pública manifestando a insatisfação da categoria com as decisões do STF, em especial a que diz respeito à desregulamentação da profissão de jornalismo, já que no dia 30 de abril deste ano, o plenário do STF declarou inválida, por sete votos a quatro, a Lei de Imprensa, de 1967. No dia 17 de junho, o mesmo plenário decidiu eliminar a exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão.
O ministro não veio e mandou uma gravação em vídeo transmitida durante a abertura do 1º Encontro Nacional das Comissões de Constituições e Justiça das Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Mas a nota foi feita e enviada a todos os jornais e sites e, mesmo sendo assinada por 18 representantes dos movimentos sociais, foi ignorada pela mídia mato-grossense. Aliás, como vem ocorrendo pelo Brasil a fora, já que Gilmar Mendes é alvo constante de manifestações de desagravo por todo o canto que passa, não apenas por conta da cassação do diploma de jornalista e a ameaça de desregulamentar outras profissões, como também pela constante defesa da minoritária classe privilegiada deste país: a elite brasileira.
Um dos episódios que evidencia essa defesa ocorreu quando o ministro ‘mandou soltar’ o banqueiro do Opportunity, Daniel Dantas, acusado de crimes financeiros descobertos na Operação Satiagraha da Polícia Federal. Nessa época, foram presos e expostos nos veículos de comunicação o banqueiro Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, entre outros. Todos estavam algemados. Surgiu logo depois disso a edição de uma súmula do STF determinando que presos e réus não podem ser algemados, em exposição pública.
‘Saia às ruas, Gilmar Mendes’
Em Santos, Campina Grande, Aracaju e Porto Alegre houve manifestações contra o ministro Gilmar Mendes no último mês. Os protestos ecoaram, também, na Jornada Nacional Unificada de Lutas, realizada por centrais sindicais e movimentos sociais nesse mês. Infelizmente, a maioria da população não chega a saber desses fatos porque o ministro é blindado pelo silêncio da dita grande mídia, que não divulga manifestações contra o ilustre magistrado.
A nota do Sindjor-MT avaliou que para essa pequena classe, sempre protegida pelo ministro, a visita dele (caso houvesse) poderia até ser motivo de festa. E sentenciou: ‘Porém, para nós, dos movimentos sociais, trabalhadores, jornalistas, professores, sem-terra, afro-descendentes, mulheres, crianças, favelados, desempregados e todos que sofrem, mais ou menos, nas mãos desse modelo perverso e desigual de país, onde não há justiça, este homem não é bem-vindo.’
Eu completo a nota dizendo: saia às ruas de Mato Grosso, Gilmar Mendes! Ouça o que o povo tem a lhe dizer. Este povo que está unido pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, diferentemente do senhor, esse povo continua respeitando o Artigo 3ª da nossa Constituição Federal, que determina esse objetivo fundamental.
‘Paladino’ da liberdade de expressão
Apesar das dificuldades, a blindagem midiática a Mendes foi rompida algumas vezes por veículos que não são tão conservadores. No ano passado, por exemplo, uma reportagem da revista CartaCapital (de 19 de novembro de 2008 – Ano XV, nº 522) revelou que em Diamantino, onde nasceu, terra de um povo humilde e sofrido pelas oligarquias e o desmando de latifundiários, Gilmar Mendes usou sua influência política para eleger o irmão, Chico Mendes.
A blogosfera é outro campo que tenta romper o silêncio dos mandos e desmandos desse mato-grossense que chegou ao cargo mais alto da mais alta corte judicial deste país e agora parece deslumbrado com o poder.
A tal liberdade de imprensa, argumento usado por Mendes para defender a queda do diploma de jornalismo, só vale para aqueles que pensam da mesma forma que o ministro, como a ‘poderosa’ Rede Globo. Para o blog Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, que denuncia os abusos do magistrado, o pensamento é outro. Mendes entrou com uma representação no Ministério Público Federal contra o Conversa Afiada para calar o jornalista. A revista IstoÉ também está sendo processada pelo ministro.
Não é de se estranhar? Um paladino da liberdade de expressão quer calar quem põe o dedo na ferida e tapar os ouvidos para o apelo popular. Pois, é. Este é o atual presidente do STF.
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Jornalista, Cuiabá, MT