Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

“Patifes, canalhas…” Presidente Bolsonaro dispara contra a Globo

(Foto: Divulgação)

Em resposta ao vídeo divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro na terça-feira, 29 de outubro, a organização Repórteres Sem Fronteiras emitiu nota condenando os ataques à Rede Globo, transcrita abaixo.

“Uma reportagem veiculada na terça-feira, 29 de outubro de 2019, pelo Jornal Nacional – programa de jornalismo televisivo de maior audiência do país, produzido pela Rede Globo – revelou que o nome do presidente Jair Bolsonaro foi citado em depoimento relacionado às investigações do assassinato da vereadora do município do Rio de Janeiro e defensora dos direitos humanos, Marielle Franco.

Jair Bolsonaro reagiu de forma violenta nas redes sociais para defender sua inocência e acusar a Globo de “trair” e “arrebentar” o país: “Canalhas, patifes, não são patriotas”. Num vídeo de 24 minutos, transmitido ao vivo na sua conta de Facebook, o presidente esbraveja: “Esse jornalismo que vocês fazem, jornalismo podre, canalha, sem escrúpulo. Vocês não prestam. Vocês não prestam. Só promovem o que está dando errado. Uma canalhice”. Ele também ameaçou não renovar a concessão da TV Globo em 2022. O presidente publicou em seguida, no Twitter, uma montagem com a logo da Rede Globo imitando uma saída de esgoto.

Os ataques contra o canal ocorreram um dia após a publicação, também na conta oficial do presidente no Twitter, de um vídeo no qual um leão, representando Jair Bolsonaro, é cercado por hienas identificadas pelas marcas de supostos adversários políticos, entre os quais diversos veículos de imprensa, como a Globo, o jornal Folha de S.Paulo, a revista Veja e a Rádio Jovem Pan, além das logos da ONU, do STF e de movimentos sociais e partidos políticos – inclusive o seu próprio. O vídeo foi retirado do ar em poucas horas, o presidente se desculpou publicamente e afirmou ter cometido um “erro”.

“Os ‘erros’ do presidente Bolsonaro, assim como suas declarações, têm peso. Ao insultar e humilhar alguns do mais importantes veículos da imprensa nacional, a mais alta autoridade do país contribui e estimula o clima de ódio e de desconfiança generalizada para com o jornalismo” declarou Emmanuel Colombié, diretor do escritório para a América Latina da RSF. “A frequência desses ataques é particularmente preocupante e as ameaças de Jair Bolsonaro de não renovar a concessão da TV Globo, em 2022, são, por sua vez, extremamente graves e se assemelham à censura”.

O presidente Bolsonaro proferiu os ataques durante uma viagem diplomática pela Ásia e o Oriente Médio. Na segunda-feira, 28 de outubro, durante sua estadia na Arábia Saudita, ele declarou ter “certa afinidade” com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, com quem se reuniu. O príncipe é suspeito de estar diretamente envolvido com o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, morto no dia 2 de outubro de 2018 dentro do consulado do país em Istambul, na Turquia.

Após ser alvo dos insultos presidenciais, o Grupo Globo publicou uma nota afirmando fazer “um jornalismo sério e com responsabilidade”, e disse ainda que “revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília”. Em 2018, a RSF denunciou uma tentativa de censura por parte da Justiça brasileira, que havia proibido a TV Globo de transmitir informações sobre as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco.

O Brasil se encontra na 105ª posição no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2019, elaborado pela RSF.

Emmanuel Colombié
Repórteres sem Fronteiras – Diretor América Latina”