Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Perguntas sem respostas

“Não precisa explicar, eu só queria entender…”
(Bordão famoso de antigo programa humorístico da Rede Globo de Televisão)

A inquietação humana deriva da completa ausência ou insuficiência de respostas a questionamentos em torno de situações que bulem com as pessoas em seu cotidiano. Cadê a resposta? Esse tipo de manifestação é frequente. O cidadão lança uma pergunta sobre tema palpitante. Esbarra, um tantão de vezes, em glacial silêncio como resposta. Ou em explicações inconsistentes. As circunstâncias criadas, nalguns momentos, à volta dos fatos, levam-nos a raciocinar como aquele personagem marcante de um apreciado programa humorístico de tempos passados, que popularizou sugestivo bordão: “Não precisa explicar, eu só queria entender…”

Cá estão intrigantes lances, de uma extensa lista, extraídos do dia a dia, que arrancam, de alguma maneira, do homem comum, pedidos de explicação.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu banir a chamada “gordura trans” dos alimentos colocados à disposição dos consumidores. A medida é ancorada na preocupação de garantir proteção à saúde dos cidadãos, uma vez que o ingrediente citado, intensamente utilizado na produção alimentícia industrial, é extremamente nocivo. Gera condições propícias para o desenvolvimento, no organismo humano, de enfermidades letais.
A Organização Mundial de Saúde recomenda, enfaticamente, a eliminação da “gordura trans” em produtos de consumo. Aponta, como exemplo, congelados, sorvetes, biscoitos, margarinas, entre numerosos outros itens constantes dos cardápios de restaurantes, lanchonetes e bares. Estima que a ingestão das substâncias mencionadas seja responsável por meio milhão de mortes a cada ano. Tem mais: conhecida, também, como gordura vegetal hidrogenada, a “trans” é empregada, em alta escala, como tantas vezes denunciado, para melhorar o aspecto e ampliar o prazo de validade dos alimentos.

A decisão da Anvisa contempla a perspectiva de que as regras ora definidas entrem em vigor até 2023. Considerando tudo quanto posto, considerando o elevado grau dos riscos preconizados, uma perguntinha singela, embaraçosa talvez, irrompe dos lares e das calçadas: por que esperar três anos para fazer o que já era preciso ser feito desde trasanteontem?

Por bom pedaço de tempo, em dias recentes, o noticiário nosso de cada dia, fazendo uso de vistosas manchetes, manteve a atenção nacional concentrada numa descomunal mancha de óleo, de origem petrolífera, despejada no meio do oceano, sabe-se lá por quem e com quais intuitos. A ameaçadora porção de óleo, causando danos ambientais, econômicos e sociais, emporcalhou extensas faixas praieiras do Nordeste e do Sudeste brasileiros. Especulações sem conta, algumas de cunho bem surreal, foram produzidas com presteza com o fito de tentar explicar o que estava rolando no espaço marítimo. De repente, não mais do que de repente, como diria o poeta, o momentoso problema, que tanto bulício causou, saiu da rota das preocupações gerais, deixando a população desinteirada de tudo e a ver navios… Quem sabe de bandeira grega? Ficou o enigma. Afinal de contas – responda quem puder -, o que foi mesmo que andou acontecendo no mar fronteiriço às costas brasileiras? O setor governamental competente não pode se dar ao luxo de permanecer, face à encrenca criada, mudo e quedo que nem penedo… Não é mesmo?

A Selic alcançou recentemente – e isso, obviamente, não pode deixar de merecer louvação – seu mais baixo índice histórico. A redução, adianta-se ainda, poderá vir a ser, em prazo curto, mais significativa, de modo a projetar condições mais alvissareiras para as atividades produtivas. Nada obstante, existe um “porém” a ser superado. Está dando margem a perguntas entaladas na garganta de tantos quantos recorrem ao crédito bancário para negócios particulares e empresariais. Por que cargas d’água o decréscimo da taxa Selic não é repassado instantaneamente, como é lícito almejar, aos usuários dos serviços oferecidos pela rede bancária? Aos cidadãos que fazem uso de cartões e cheques especiais e que adquirem a prestações produtos de consumo? Não deixando passar de liso, a propósito, a emblemática informação de que os bancos brasileiros, os mais rentáveis do mundo, acumulam recordes sucessivos nos balanços semestrais, a pergunta aflitiva que sobe, desafiadora, ao ar, na expectativa ansiosa de resposta, não é outra: será que não é chegada a hora de se acionar mecanismo legal compulsório que reduza os juros bancários asfixiantes que aí estão? Que forças ocultas são essas que, nos bastidores, conspiram permanentemente contra a queda de juros, criando, via de consequência, entraves ao desenvolvimento econômico e social?

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Cesar Vanucci é jornalista (cantonius1@yahoo.com.br).