Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma cidade em que não há jornal

(Foto: Shutterstock)


Por mais inacreditável que pareça, 30 milhões de brasileiros vivem em locais considerados “desertos” de notícias.
As informações, apresentadas na pesquisa realizada pelo Atlas da Notícia, coordenado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) em 2018, revelam que, dos 5.570 municípios brasileiros, 2.860 não possuem veículos de comunicação.
Ainda há cerca de 30% de cidades onde restam um ou dois veículos jornalísticos, que correm o risco de também se tornarem “desertos” de notícias.
De acordo com o estudo, o Norte e Nordeste do país são regiões com maiores espaços desertos, ou seja, carentes de veículos de imprensa (rádio, TV, impresso, online e revistas).
Esses dados nos trazem reflexões que precisam ser discutidas amplamente. O jornalismo cumpre um papel não só fiscalizador, mas também de permitir aos cidadãos o acesso à informação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos já estabelecia, na década de 1940, o direito ao acesso à informação pública; tanto o de recebê-la quanto o de transmiti-la.
O cidadão que vive em uma das cidades onde está instalado o “deserto” de notícias não está sendo apenas privado de saber o que acontece no meio em que vive, mas também de dar voz às suas necessidades.
Exemplificando: Jandaíra, localizada no litoral norte da Bahia, foi um dos 280 locais que sofreu com o derramamento de petróleo em setembro de 2019. A cidade de 10.709 habitantes (IBGE) consta no Atlas da Notícia como um dos “desertos” de notícia.
É um município que vive prioritariamente da pesca e do turismo – porém, não há sequer uma informação de como os moradores foram impactados. Há alguma iniciativa do poder público para orientá-los? Os jandairenses sofreram impacto indireto com o fato ocorrido? Há reflexos no volume de vendas do pescado? Qual será o sustento dos pescadores? Quais as necessidades dessas famílias? Elas estão sendo atendidas?
Não saberemos essas respostas se não houver um veículo de notícias que dê voz a essa população.
Este é apenas um recorte da realidade de 51% dos municípios brasileiros. A cada cinco cidadãos, um não tem acesso à notícia local. Podemos pensar que são cenários favoráveis à corrupção, sem contar que a participação democrática pode ser comprometida.
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Rennata Bianco é jornalista e coordenadora de Comunicação Social da prefeitura de Ribeirão Preto. Atuou como redatora, repórter e apresentadora em veículos impressos e emissoras de televisão. Especialista em comunicação com foco em gestão de crises.