Por Ethel Rudnitzki (texto) e Bruno Fonseca (infográficos)
Publicado originalmente no site da Agência Pública
No segundo semestre de 2019, foram poucos os dias em que algum dos quatro homens da família Bolsonaro deixou de tuitar ou dar um retuíte. De ataques a opositores e ex-aliados, afagos a influenciadores de ultradireita e propagandas de projetos de governo, foram 3.625 tuítes que demonstram as prioridades e paixões do clã.
A Agência Pública monitorou todos os tuítes publicados pelo presidente e seus três filhos mais velhos de junho a dezembro de 2019 e analisou os temas mais comentados, as hashtags mais usadas e as contas com as quais eles mais interagiram.
Entre os destaques estão o prestígio dedicado ao ministro Sergio Moro, a figura mais popular do governo, seguido pelo ministro da Educação, o olavista Abraham Weintraub; as menções a Donald Trump, que espelham o completo alinhamento à política americana, apoiada por Eduardo Bolsonaro; e a interação com contas suspensas.
O Bolsonaro mais ativo foi o filho mais novo, Eduardo, com 1.649 publicações, cerca de nove por dia. Em seguida, o do meio, Carlos Bolsonaro, com 1.113 postagens – em média, seis por dia. Jair Bolsonaro fez 670 publicações, quase quatro por dia. Já o senador Flavio Bolsonaro tuitou apenas 193 vezes.
Previsivelmente, as publicações da família no Twitter giraram em torno do patriarca. “Brasil”, “Bolsonaro” e “presidente” foram os substantivos mais repetidos pelos quatro perfis juntos – 487, 286 e 233 vezes, respectivamente.
We <3 Trump
Entre as contas que não pertencem a membros do governo, as mais mencionadas incluem a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que demonstra o completo alinhamento ao americano.
Trump foi retuitado ou mencionado pelos quatro Bolsonaros 39 vezes. Quem demonstrou maior apreço foi Eduardo, com 26 menções. O filho mais novo, que ajudou na escolha do chanceler Ernesto Araújo, chegou a ser proposto por Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos – a nomeação foi abandonada depois de resistência no Congresso.
Já os perfis dos sites Renova Mídia, Conexão Política e República de Curitiba, alinhados ao governo, foram republicados ou citados 66 vezes pela família Bolsonaro. O presidente retuitou o primeiro duas vezes e o último em outras duas ocasiões.
Bernardo Kuster, Henrique Oliveira e Allan dos Santos foram os influenciadores da direita mais prestigiados em publicações da família Bolsonaro, com 22, 19 e 18 menções ou retuítes, respectivamente. No entanto, apenas os filhos os citaram, e não o presidente.
Uma das quinze contas com as quais Jair Bolsonaro interagiu no último semestre foi suspensa do Twitter por violar as regras de uso da plataforma. O perfil @tavinhopg_ foi mencionado quatro vezes pelo presidente. Em uma das ocasiões, Bolsonaro desejou um “forte abraço” à conta.
Carlos Bolsonaro também interagiu com contas que foram suspensas. O perfil @JapadoBolso foi mencionado onze vezes pelo filho do presidente entre junho e dezembro de 2019. Carlos enviou comentários personalizados a ele. “Japa, saudades daquilo que a gente nunca viveu!”, escreveu em 10 de outubro.
Procurado, o Twitter não quis comentar os casos específicos de suspensão de contas. A empresa exclui perfis que violem as regras de uso da plataforma, como propagação de discurso de ódio ou automatização indevida de postagens, usadas para manipular os trending topics, assuntos mais comentados.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o perfil @Sah_Avelar, que tinha atividade automatizada – centenas de tuítes por dia, todos com hashtags ligadas ao governo – como mostrou reportagem da Pública.
Ministros, temas de Estado – e apologia às armas
Na política via Twitter, os ministérios que mais mereceram a atenção dos Bolsonaros foram Justiça e Segurança Pública, Educação (MEC), Infraestrutura e Economia.
O ministro Sergio Moro, do Ministério da Justiça e Segurança Pública – a figura mais popular do governo, segundo pesquisa Datafolha publicada em dezembro -, foi o campeão: sua conta recebeu sessenta retuítes ou menções dos Bolsonaros (dez do presidente, cinco de Flavio, dezesseis de Carlos e 29 de Eduardo).
Jair Bolsonaro retuitou diversas publicações do seu ministro sobre projetos e conquistas do ministério. No dia 10 de novembro, publicou uma foto com Moro em cerimônia de formatura de policiais federais. A postagem agradou aos fãs: foram 4,8 mil retuítes e 26,3 mil curtidas.
Enquanto os tuítes do presidente foram mais institucionais, seus filhos foram mais calorosos. Quando o ex-presidente Lula foi solto, Carlos mencionou o ministro e disse: “não tenho dúvidas que esse jogo virará!”. Já Eduardo defendeu Moro no escândalo da Vaza Jato, que revelou trocas de mensagens entre o ex-juiz e o procurador Deltan Dallagnol.
Em seis meses, Jair Bolsonaro usou apenas oito hashtags – frases ou palavras precedidas de “#”. Mais uma vez, Moro foi o campeão: a hashtag #ProjetoAntiCrime, referência ao projeto de lei apresentado pelo ministro, foi usada duas vezes, e #PacoteAntiCrime em outra ocasião.
Abraham Weintraub, do MEC, foi o segundo ministro mais mencionado ou retuitado, num total de 54 vezes. O grande responsável foi Eduardo Bolsonaro, que o evocou 43 vezes. Os dois têm em comum a admiração expressa ao autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, também mencionado em catorze tuítes do deputado. Em uma das ocasiões, o filho “03” de Bolsonaro retuitou publicação do guru na qual ele elogia o ministro.
Já o presidente e os outros filhos deram menos destaque ao ministro da Educação. Bolsonaro mencionou Weintraub seis vezes, Flavio, três, e Carlos, duas.
O nome do ministro Paulo Guedes, que não possui conta oficial no Twitter, foi citado 33 vezes – sete pelo presidente, uma por Flavio, treze vezes por Carlos e doze por Eduardo. O presidente apoiou também a reforma da Previdência proposta por Guedes postando duas vezes a hashtag #NovaPrevidência.
Entre os temas mais tuitados ligados a ministérios, em primeiro lugar ficou Justiça e Segurança Pública, assunto de mais de 730 publicações, seguido por Economia, com 469, Educação, com 282, e Infraestrutura, com 166 tuítes.
A defesa do armamento foi o grande tema em relação à segurança pública – e Eduardo foi o mais prolixo defensor. “Armas”, “desarmamento” e outras palavras relacionadas foram citadas 92 vezes pelo deputado, quinze vezes pelo presidente, dezesseis vezes pelo senador Flavio Bolsonaro e 21 vezes por Carlos Bolsonaro.
Termos ligados à saúde receberam menos prestígio da família Bolsonaro: “hospitais”, “médicos”, “vacina”, “doença”, “epidemia”, “DSTs”, “dengue” e febre tiveram apenas 65 menções.
Brasil acima de tudo, antipetismo acima de todos
Mais importante para a família Bolsonaro do que algumas das áreas do governo está o combate à esquerda. No Twitter, o presidente e seus filhos Carlos e Eduardo fizeram mais de 240 publicações críticas a temas ligados à esquerda (“PT”, “Lula”, “Psol”, “esquerda”, “esquerdista”, “comunista”, “comunismo”, “socialismo” e “socialista”).
Eduardo Bolsonaro foi o mais prolixo: usou esses termos 127 vezes. Dessas, citou o ex-presidente Lula em trinta ocasiões – o mesmo número de vezes que mencionou o primeiro nome do pai, “Jair”.
Já o presidente citou o Partido dos Trabalhadores, “PT”, em cinco ocasiões – mais do que o seu antigo partido, o PSL, citado apenas duas vezes. Também mencionou “esquerda” cinco vezes e Lula três vezes. “Vou falar do PT sempre. Não adianta chorar”, diz em uma dessas publicações.
Hashtags e emojis
O filho 03 do presidente, Eduardo Bolsonaro, foi o que mais usou hashtags – 76 diferentes – no período. A mais usada foi #grandedia, para comemorar conquistas do governo, publicada quatro vezes.
A frase gerou polêmica no começo do ano, quando Jair Bolsonaro usou-a no mesmo dia em que o ex-deputado federal Jean Wyllys (Psol) anunciou a renúncia ao mandato por temer pela sua segurança.
As intrigas políticas e posicionamentos na plataforma também foram marcados por emoticons ou emojis – caracteres que são pequenos desenhos.
Os preferidos foram a bandeira do Brasil, usado principalmente por Jair Bolsonaro e Flavio Bolsonaro (113 e catorze vezes, respectivamente), o rosto gargalhando, usado por Carlos Bolsonaro 126 vezes, e as palmas, usadas 92 vezes por Eduardo Bolsonaro. O presidente também utilizou o “joinha”, ou sinal de positivo, 103 vezes.
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Ethel Rudnitzki é formada em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Na Pública, fez parte do Truco – projeto de fact-checking – durante as eleições de 2018 e produz reportagens sobre redes sociais e desinformação.
Bruno Fonseca é repórter multimídia graduado e mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalha com infografia, dados, vídeos e animação.