As imagens chocantes de dois policiais militares, um capitão e um cabo, que roubaram os dois ladrões que haviam assaltado e baleado o ativista social Evandro João da Silva, se reproduzem pelos jornais brasileiros e já ganham espaço na mídia internacional. Elas retratam o eixo principal da violência nas grandes cidades brasileiras, realidade que costuma ser omitida pela imprensa: o crime só avança com ajuda da polícia.
O crime aconteceu na madrugada de domingo (18/10), no centro do Rio. As câmeras de segurança de um banco registraram a sequência: os ladrões atacam Evandro e disparam contra ele. Apenas dezessete segundos depois, passa a viatura da polícia. Os policiais abordam os assaltantes, tomam os objetos roubados – um casaco e um par de tênis – e os deixam livres. Em seguida, se retiram e abandonam a vítima agonizando no chão.
Os policiais chamam-se Dennys Leonard Nogueira Bizarro e Marcos de Oliveira Sales. O capitão Bizarro, cujo sobrenome apenas empresta mais morbidez ao caso, era o responsável por fiscalizar as atividades policiais no centro do Rio naquela madrugada.
Os jornais levantam a hipótese de que os assaltantes fossem seus conhecidos, provavelmente também integrantes da polícia. Isso explicaria o fato de que o capitão e o cabo nem tenham se dado o trabalho de pedir documentos aos criminosos. Mas a imprensa não contempla outra hipótese: a de que se trate de crime encomendado.
Mais fundo
Evandro João da Silva e a entidade da qual participava, a AfroReggae, representam os personagens que se equilibram na linha fina entre a polícia e o crime organizado, tentando evitar que mais adolescentes e jovens sejam cooptados pelo narcotráfico.
São empecilhos nas livres negociações que permitem aos criminosos dominar comunidades inteiras, sob o olhar complacente de policiais como o capitão Bizarro e seu assistente.
Os dois policiais estão sob prisão administrativa e o serviço de Relações Públicas da Polícia Militar já emitiu sinais de que a situação deles pode se aliviada.
Cabe à imprensa ir mais fundo na investigação, para que não se descarte a hipótese de que o assassinato de Evandro tenha sido mais do que uma cena corriqueira no cenário conflagrado do Rio de Janeiro.