Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Verlaine

‘Não há neste país nada tão bem organizado como o jogo do bicho. O jogador apresenta-se num ‘guichet’ e faz a lápis, num papelzinho, a sua aposta. O banqueiro recebe o dinheiro e dá-lhe em troca uma papeleta numerada. ‘Essa papeleta, conforme o número final da loteria que o Estado faz diariamente correr, implica às vezes em pagamentos enormes, os quais se realizam mediante a simples apresentação da papeleta’’.

É um trecho do livro Na Antevéspera (1933), de Monteiro Lobato (1882-1948), na qual ele expõe as ‘Opiniões de M. Jerôme Coignard’, de Anatole France. O escritor brasileiro diz, no livro, que o raciocínio de Coignard se aplica ao Brasil.

Na última quinta-feira, a notícia estoura como uma bomba e, no dia seguinte, O POVO estampa em primeira página: ‘Polícia Federal. Operação fecha jogo do bicho. Preso 2º homem da Polícia Civil’. A manchete retrata uma situação inédita: pela primeira vez a ‘instituição’ chamada ‘Jogo do Bicho’, considerada intocável em terras cearenses, é alvo do braço da Justiça, através da Polícia Federal, numa operação denominada Arca de Noé.

Para completar o ineditismo, o segundo homem da cúpula da Polícia Civil Estadual, o delegado Francisco Crisóstomo, nome respeitado e admirado pelos colegas, é preso e destituído da função da Superintendência-Adjunta da Polícia Civil.

Segundo a Polícia Federal, Francisco Crisóstomo é apontado no relatório da delegada Ana Cláudia Santana como sócio do irmão dele (João Crisóstomo) na empresa Score Segurança de Valores e Vigilância Ltda que, ainda segundo a PF, presta serviços ao Grupo Para Todos (Jogo do Bicho).

Alguns reparos

O POVO abordou o assunto (prisão de bicheiros e do delegado Francisco Crisóstomo) em ampla cobertura (três páginas). Mas, na sexta-feira, o Sr. Israel Ricarte Lima telefona-me para fazer os seguintes esclarecimentos: ‘A empresa Score Segurança de Valores e Vigilância Ltda. não presta serviços ao grupo Para Todos (Jogo do Bicho); o delegado Francisco Crisóstomo não mais pertence ao quadro de sócios da empresa.Desligou-se há oito anos, ou mais precisamente, em 2000.’ O desmentido de Israel Ricarte Lima saiu publicado na edição deste sábado (11).

Outros leitores, como José Mário da Silva, elogiaram o trabalho feito pelos repórteres Demitri Túlio, Flávio Pinto, Cláudio Ribeiro e Luiz Henrique Campos, mas ressaltaram os serviços prestados à sociedade pelo delegado Francisco Crisóstomo.

Mais antigo

Foi dito na matéria ‘Vou mudar a cúpula da Polícia Civil (entrevista com o secretário Francisco Crisóstomo) que ‘era notório que o Jogo do Bicho funcionava sem parar havia pelo menos três décadas em Fortaleza, mas nunca havia sido importunado’.

Ocorre que apenas o ‘banco’ Para Todos funcionava sem parar havia pelo menos três décadas. O Jogo do Bicho é muito mais antigo.

Quando repórter de Cidade, tentei fazer, no final da década de 70 ou início dos anos 80, uma matéria sobre o jogo do bicho, ouvindo o Sr. Francisco Mororó. Na época, nada saía na imprensa sobre jogo do bicho. Nem contra nem a favor. Os bicheiros preferiam não ser lembrados no noticiário da imprensa. Mororó ainda me fez um desafio: ‘Vamos apostar como essa matéria não sai’. Não saiu mesmo. Tentativas frustradas de fazer reportagens com o Jogo do Bicho ocorreram também com outros repórteres deste jornal.

União pelo Ceará

Colunista Fábio Campos (Política, edição de 10/10) lembra que a aliança entre Cid Gomes, o Partido dos Trabalhadores e (quem sabe?) Tasso Jereissati em 2010 seria ‘a reedição da ‘União pelo Ceará’. Seria interessante a editoria de Política mostrar para os leitores o que foi a ‘União pelo Ceará’, nome bonito para um movimento, de triste memória, diga-se de passagem, das forças conservadoras rivais (PSD e UDN) para evitar a vitória do candidato progressista Adahil Barreto (tio do hoje deputado estadual Adahil Barreto) nas eleições para o Governo do Estado em 1962.

Medalhista

Lívia Maria Frota telefona-me para contestar informação do O POVO na matéria ‘Cearense é medalha de ouro em Física’ (página 9, Fortaleza). Diz que a primeira mulher a ganhar medalha de ouro na Olimpíada Ibero-Americana de Física (Olbf) foi ela (Lívia) em 2001 e não Mariana Quezado Costa Lima, conforme O POVO noticiou. Lívia pediu que o jornal corrigisse a informação no ‘Erramos’ e acrescentou que o próprio jornal noticiou o fato em 2001.

Solicitamos, em comentário interno, que a retificação fosse feita pelo Núcleo de Cotidiano que, infelizmente, não providenciou a correção na seção ‘Erramos’. Fizemos consulta na Internet e comprovamos que a queixa de Lívia Maria Frota é procedente. Ela (Lívia) foi a primeira mulher a ganhar medalha de ouro na Olimpíada Ibero-Americana de Física. Está feito o registro.

Paraguaio, não

Maria Belén Alvarenga Araújo, cidadã paraguaia, telefona para este ombudsman para protestar contra o que comparações ofensivas feitas contra o Paraguai na imprensa brasileira. Para ela, é comum, em jornais brasileiros, qualquer objeto falsificado ser chamado de ‘paraguaio’. Pior: acontece também com pessoas. Exemplo recente foi o candidato que utilizou, na sua propaganda, a gravação de um locutor imitando a voz do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Na coluna da jornalista Sonia Pinheiro, a expressão ‘Lula paraguaio’ foi usada pelo menos duas vezes.’