Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia tem que ouvir o público

Na terça-feira passada (7/10), o Caucus, blog político do New York Times, realizou uma espécie de mesa-redonda virtual onde os leitores podiam expor o que esperavam do segundo debate presidencial americano, que seria realizado naquela noite. Em sua coluna de domingo [12/10/08], o ombudsman do diário, Clark Hoyt, analisou não só o debate online – a maioria dos comentários dizia esperar que John McCain e Barack Obama falassem sobre saúde e economia –, como as reações dos leitores sobre a cobertura do jornal.

Desde que os partidos decidiram quem os representaria, no final de agosto, até o dia 10/10, 270 artigos foram publicados no NYTimes sobre as eleições. Apenas 29, pouco mais de 10%, tiveram foco nos programas de governo dos candidatos. Os números – contabilizados pelo assistente de Hoyt, Michael McElroy – batem com os dados do Project for Excellence in Journalism, que monitora atentamente a cobertura das eleições em diversos veículos de comunicação. Segundo o grupo, apenas 8% dos artigos de capa do NYTimes do final de agosto até o começo de outubro foram sobre os planos de governo. Quase ¾ foram sobre a campanha, táticas políticas e pesquisas. Os números sobre o NYTimes são parecidos com os de outros veículos de comunicação dos EUA.

Ouvir o leitor

‘Esta eleição é sobre o futuro desta nação em um momento conturbado’, diz o leitor Michael Leonard, do Colorado. ‘Por que vocês não nos ajudam a focar nos problemas, suas conseqüências e como os candidatos agem em relação a eles?’, questiona. Para Hoyt, trata-se de uma reclamação justa. ‘O público já disse à mídia o que espera’, lembra o ombudsman.

No início do ano, ¾ de eleitores de todas as inclinações políticas entrevistados pelo instituto de pesquisas Pew Research Center for the People and the Press afirmaram que queriam mais cobertura sobre a posição dos candidatos em relação a temas concretos. Aparentemente, a mídia não entendeu o recado: em fevereiro, 55% dos entrevistados consideraram a cobertura das eleições boa ou excelente; em junho, 54% afirmaram que ela era fraca. Para Andrew Kohut, diretor do Pew, a imprensa precisa melhorar quando se trata de ouvir o que o público tem a dizer. Ele diz que faz as mesmas perguntas em pesquisas há mais de vinte anos – e sempre recebe respostas parecidas.

Hoyt diz que o sítio do NYTimes fornece aos leitores uma comparação entre posições dos candidatos em 11 temas, que vão de aborto a seleção de juízes. Não há, entretanto, nenhum tipo de avaliação independente sobre as declarações ou links diretos para os artigos jornalísticos onde foram publicadas. Editores do jornalão admitem as falhas na cobertura política. ‘Não conseguimos abordar algumas questões tão rápido e com tanta profundidade quanto gostaríamos’, diz o editor Richard Stevenson, responsável pela cobertura da campanha. Já a chefe de redação Jill Abramson cita a crise financeira para falar sobre os problemas na cobertura, já que o tema acabou por consumir repórteres especialistas em economia.