Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Insatisfeitos, jornais encerram parceria com AP

Insatisfeitos com os preços cobrados pela Associated Press, jornais americanos decidiram encerrar a parceria com a tradicional agência de notícias. Alguns jornais já haviam tomado a decisão nos últimos meses, mas, com exceção do Star Tribune de Minneapolis, eram todas pequenas publicações. Na semana passada, foi a vez do Columbus Dispatch – que, na maior parte de seus 137 anos de história, contou com matérias da AP – dizer adeus à agência, acompanhado do grupo Tribune Company, uma das maiores cadeias de jornais dos EUA.

Ao anunciar a separação, o Tribune não citou reclamações com o serviço, dizendo apenas que precisava cortar custos. Em outros jornais, entretanto, editores e publishers não pouparam críticas ao modo como opera a AP. Eles afirmam que a agência cobra mais do que podem pagar, deixa a desejar no trabalho que apresenta e, por vezes, age como rival de suas publicações na internet. ‘[Os jornalistas da agência] parecem ter esquecido que estão lá para nos servir’, resume Benjamin J. Marrison, editor do Dispatch.

Frustração

A AP funciona como uma cooperativa, com mais de 1.400 jornais membros. Os problemas no relacionamento da agência com as publicações vieram a público em abril deste ano, quando, em uma reunião em Washington para discutir cortes no preço dos pacotes e a implantação de novos serviços, o executivo-chefe Tom Curley teve de ouvir as queixas dos editores. Kathleen Carrol, editora-executiva da agência, minimiza o conflito, afirmando que os protestos vêm de um pequeno número de jornais e têm como origem ‘alguns desentendimentos sobre o que a AP está tentando fazer’ e a frustração dos editores sobre a crise financeira que enfrentam. ‘Não acho que possamos ignorar as circunstâncias econômicas dos jornais’, diz. ‘Ser um editor de um jornal nos EUA, hoje, é realmente difícil’.

Por contrato, os jornais devem dar um aviso prévio de dois anos para abandonar a parceria, então os títulos que anunciaram recentemente a saída terão até 2010 para mudar de idéia. Executivos da AP suspeitam que alguns jornais estejam usando este aviso como modo de barganha por preços mais baixos.

Valores

A AP não divulga detalhes sobre quanto os clientes pagam, mas as taxas variam com base na circulação e nos pacotes de serviços. Estes valores estão congelados há três anos, mas um novo programa de preços deve ser implantado no próximo ano. Editores de jornais admitem que seria difícil substituir alguns serviços da agência, principalmente o de fotografia, mas que seu preço é realmente muito alto – em alguns casos, estima-se que possa chegar a mais de US$ 1 milhão por ano.

Ainda não é possível calcular o quanto as saídas de jornais serão um problema real para a agência. A AP é a maior organização do tipo no mundo, com mais de três mil jornalistas em cerca de 100 países. Ela foi criada há 162 anos por um grupo de jornais americanos, e só jornais dos EUA podem ser membros. A companhia possui, entretanto, mais de cinco mil outros clientes domésticos, entre emissoras, sítios, jornais semanais e revistas, e cerca de 8.500 clientes no exterior. Enquanto os jornais sofrem com os cortes de custos, a AP, que funciona como uma companhia sem fins lucrativos, encontra-se saudável, com aumento de receita. Informações de Richard Pérez-Peña [The New York Times, 20/10/08].