O assédio no jornalismo é naturalizado e visto como um problema de difícil solução, revela pesquisa de Janaina Moro desenvolvida como mestrado na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. A pesquisadora ouviu mulheres jornalistas de São Paulo com o objetivo de entender como o assédio sexual e a discriminação de gênero impactam a carreira dessas profissionais.
O grupo pesquisado foi composto por cinco jornalistas do estado de São Paulo. As idades variaram de 21 a 40 anos. Todas se declararam brancas e pertencentes à classe média, sendo três delas casadas, com uma média de dois filhos. A divisão de trabalho das entrevistadas compreendia as quatro áreas estabelecidas pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do estado de São Paulo, sendo jornais impressos, revistas, emissora de rádio e de televisão.
O resultado da pesquisa revelou que as jornalistas naturalizavam o assédio. Além disso, as empresas para as quais trabalhavam, em unanimidade, não ofereciam canais próprios para as denúncias. A maioria das vítimas assediadas apenas revelou o ocorrido para um colega próximo.
O estudo aponta a necessidade de existir um departamento próprio para tratar deste problema. Os impactos sofridos pelas entrevistadas, além de depressão, vergonha, sentimento de culpa, constrangimento, incluem o medo de perder o emprego, já que, em muitas ocasiões, o assediador era o chefe, político de prestígio ou mesmo alguém que patrocinava o veículo de comunicação.
A pesquisa, realizada entre 2018 e 2020, contou com orientação da doutora Rebeca Guedes Nunes de Oliveira, professora permanente do programa de mestrado profissional da USCS e especialista em estudos de gênero. O estudo procurava entender de que forma estratégias de enfrentamento eram identificadas e mobilizadas por mulheres jornalistas nas ocasiões de vivência do assédio sexual no trabalho.
A pesquisa também revelou que o assédio pode vir de pessoas não vinculadas diretamente ao veículo, como audiência, fontes jornalísticas e patrocinadores dos veículos, conforme ocorrido com as entrevistadas. Elas revelaram sofrer discriminação de gênero ao relatar, por exemplo, desvantagem na profissão por ser mulher e não conseguir empregos em áreas de predominância masculina, como a esportiva.
O assédio é um problema da atualidade, que gera consequências maléficas para quem sofre e para a sociedade. Segundo a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), o assédio pode provocar estresse, irritabilidade, perda de autoestima, ansiedade, depressão, apatia, perturbações da memória, perturbações do sono e problemas digestivos, levando, até mesmo, a casos de suicídio. Os reflexos do problema também atingem o serviço nacional de saúde e o sistema de segurança social, com prejuízos aos cofres públicos. Muitas são as áreas que sofrem desse mal, como a jornalística.
“Escolhi essa temática quando observei a militância evidenciada, principalmente no ano de 2018, período da Copa do Mundo, através dos muitos trending topics das redes sociais com as hashtags: #jornalistascontraoassedio #ChegaDeAssédio, #Chegadefiufiu #Primeiroassedio, “DeixaElaTrabalhar”, #jornalistascontraoassedio. E ao perceber que, embora a discussão ganhasse a esfera digital, no âmbito do dia a dia o assédio continuava silenciosamente, conforme conhecimento de colegas que passavam por isso mas não vislumbravam formas de superá-lo. Além disso, senti muita resistência das jornalistas em participar das entrevistas, por receio”, explica a pesquisadora Janaina Moro. “Precisamos de mais pesquisas nessa área envolvendo o combate e o descortinamento de um problema tão sério que é naturalizado e impacta em questões de igualdade de direitos ao exercício pleno das atividades laborais”, finaliza a autora do estudo.