Em sua coluna de domingo [19/10/08], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, abordou uma das tarefas mais difíceis de seu cargo: explicar os leitores aos jornalistas e os jornalistas aos leitores. Com a possibilidade de enviar comentários online e por e-mail, o público tornou-se cada vez mais engajado. Este retorno instantâneo pode ser revigorante, mas muitos jornalistas acabam sendo afetados pela ferocidade de alguns comentários e optam por não ler nenhum deles. Os leitores, por sua vez, não entendem a independência do jornalismo e suas crenças.
Jornalistas amam uma boa pauta e, no processo de elaborá-la, muitos esquecem o que os leitores devem saber e o que uma foto ou texto podem gerar de emoções. Os leitores também podem ficar tão envolvidos em uma causa, partido ou candidato político que esquecem que há outros pontos de vista a ser considerados.
Diante da crise financeira, por exemplo, leitores escreveram para Deborah para pedir uma cobertura mais compreensível. O jornal atendeu prontamente, publicando um glossário de termos financeiros e criando a página Economy Watch, dedicada especialmente à crise que abala a economia mundial.
Adaptação
Nem sempre as matérias valorizadas pelos repórteres – aquelas difíceis, e até mesmo perigosas, de apurar – são valorizadas pelos leitores. Cada leitor tem seu interesse e necessidade especiais. Moradores de Washington, por exemplo, querem uma cobertura política mais local. Já alguns pais lamentam que o suplemento infantil KidsPost só saia quatro vezes por semana.
Quando Deborah assumiu o posto de ombudsman, em outubro de 2005, muitos democratas achavam que o diário era a favor de George W. Bush. Agora, muitos republicanos acreditam que o Post está tentando eleger o democrata Barack Obama. Jornalistas acham que os políticos com menos experiência são os mais interessantes para se cobrir. Foi assim na disputa entre Bill Clinton e George W. Bush e entre Bush e Al Gore. Desta vez, Obama e a republicana Sarah Palin são a novidade.
Antigamente, os jornalistas reuniam os fatos para publicá-los no dia seguinte. Hoje, com a velocidade da internet, os repórteres têm de se adaptar a um novo tipo de relação com os leitores. ‘Em um mundo perfeito, jornalistas convidam os leitores para fazer parte do processo de reportagem e os leitores apreciam isto como parte essencial de uma democracia’, conclui Deborah.