Fernanda Young resolveu posar nua. A jornalista, escritora, autora e apresentadora, que fez história na primeira temporada do intelectual Saia Justa e se tornou respeitada por escrever o texto do extinto Os Normais, agora quer mostrar o traseiro. Logo ela, que não faz o tipo ‘mulher-melancia’ e outras frutas do gênero. Logo ela, que tem tatuagem para tudo que é lado e faz qualquer tipo menos o de mulher gostosa. Logo ela, que batizou uma de suas filhas de Madonna, em homenagem ao ídolo que temos em comum. Logo ela, que já publicou livros e deu entrevistas memoráveis, como uma, há uns três anos, em que desnudou a alma, destilou veneno inteligente sobre política e admitiu que já pensou em suicídio, por se sentir inadequada neste mundo estranho. Logo ela, que confessou ser uma alma triste, porém madura, e sempre condenou atitudes insensatas e apelativas.
Fernanda Young tem hoje um programa só seu, no mesmo canal pago que a exibiu em seus dias de glória ao lado de Marisa Orth, Rita Lee e Monica Waldvogel. A atração se chama Irritando Fernanda Young e já completou dois anos. Fernanda, de fato, mudou. O visual, antes meio punk, está mais para paty. O belo cabelo preto, que por vezes ela raspava, agora está sempre longo, liso e brilhante. A maquiagem, mais feminina. O figurino, menos agressivo. Pelo menos no que se refere à embalagem, Fernandinha passou da esquerda para a direita num piscar de olhos. Chega de remar contra a maré. Adeus, estilo. Olá, padrão.
Cachê não deve ter sido alto
Fernanda Young recebe toda semana um convidado diferente. Já passaram pela sua cadeira (que está muito longe de ter o prestígio de um Jô ou de uma Gabi) cantores, atores, cineastas, jogadores de futebol, símbolos sexuais e celebridades instantâneas, sem muito a dizer. Assim como Fernanda. Irritando Fernanda Young quer ser engraçado, diferente, mas só consegue ser, digamos, irritante. Para não dizer constrangedor. Num dos piores momentos, Fernanda solta uma pergunta esdrúxula. De propósito. A espontaneidade, ali, não faz sentido. E uma dessas perguntas caiu no colo de Erasmo Carlos. O cantor tinha que optar entre pegar uma doença sexualmente transmissível de Angelina Jolie ou Scarlet Johanson, atrizes famosas pelo apelo sexual. Erasmo escolheu as duas. O que era para ser cômico, mais uma vez ficou ridículo.
Irritando Fernanda Young é também uma atração egocêntrica. Tudo parece girar em torno da entrevistadora. É ensaiado para que Fernanda consiga aparecer mais que os convidados. Tão patético quanto o tamanho do ego dela. A Playboy é o degrau que faltava da escada que a leva para o fundo do poço profissional. Credibilidade zero para quem, um dia, foi relevante para o círculo pensante brasileiro. Ontem, uma cabeça. Hoje, mais um corpo sem roupa.
Playboy é para BBB. Playboy é para mulher com nome de fruta. Playboy é para atriz global com necessidade de autoafirmação. Playboy é para a Suzana Vieira mostrar que está com tudo em cima na terceira idade, para a Adriane Galisteu depilar as partes íntimas, para a Grazi garantir o pé-de-meia caso não vingasse nas novelas, para mulher que só existe se for chamada de gostosa. Playboy é para quem está desesperada por grana e não encontra outra saída. Não é o caso de Fernanda Young. Pelo menos, não era. Até porque o cachê, no caso dela, não deve ter sido assim tão alto.
Motivos não convencem
Difícil imaginar um marmanjo trancado no banheiro com a Playboy da Fernanda. Ela é daquelas que saem nas páginas de entrevista, onde ficaria muito mais sexy. Dá para ter tesão pelas idéias da Fernanda Young. Muito mais do que pelo corpo tatuado e retocado com Photoshop, igualzinha a todas as outras.
Não sou contra revista de mulher pelada. Sou contra mulher com cérebro apelar para esse tipo de transgressão cafona. Se pudesse, escreveria na capa da Playboy da Fernanda: ‘Aqui jaz uma jornalista de respeito; nasce outra gostosa qualquer.’
Em seu twitter, Fernanda Young listou dez motivos para justificar as fotos.
‘1) Salvar o erotismo das mãos da breguice.
2) Não devo nada a ninguém.
3) Em alguns lugares do mundo, mulheres ainda são obrigadas a tampar seus corpos.
4) Vingança pura e simples.
5) Nos meus livros, eu me exponho mil vezes mais.
6) Vou fazer 40 anos ano que vem.
7) Irritar a minha mãe.
8) Estou me lixando para o que os idiotas vão achar.
9) É a primeira vez na história que a coelhinha da Playboy tem oito romances publicados.
10) Não existem ex-BBBs suficientes (aleluia).’
Não me convenceu. Garanto que nem às colegas do Saia Justa. Até mesmo Marisa Orth, que também já mostrou o que não devia. Elas devem estar rindo baixinho daquela que um dia combateu o senso comum e hoje se entrega a ele, pelada. Coitada da Fernanda.
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Jornalista, Ribeirão Preto, SP