Endereços corporativos são hoje uma mera retórica geográfica. Desde as últimas décadas do século passado, a globalização econômica generalizou as condições de produção e uniu indivíduos numa organização que se relaciona com seus públicos interna e externamente em qualquer lugar do planeta.
Por conta dessa amplitude, a organização precisa de um tecido social que assegure sua sobrevivência como organismo empresarial. E esse tecido tem que ser construído de dentro para fora. Assim, é factível assumir que seus integrantes têm que compartilhar de um mesmo conjunto de significados e valores de forma a que todos caminhem na mesma direção. É esse arcabouço de crenças e hábitos compartilhados que constitui a base de uma cultura organizacional.
Como construir esse tecido social através de diferentes continentes, línguas e culturas?
Numa organização, seja qual for o modelo de gestão adotado, para que ela tenha uma unidade corporativa é necessário que os elementos formais que lhe dão sustentação estejam bem costurados por esse tecido social e isso só é possível via uma comunicação que permita a incorporação e disseminação desses valores entre seus integrantes.
No contexto de uma economia globalizada, isso significa que, independente de seu endereço geográfico, cada integrante da organização deve se reconhecer como parte do grupo, deve compartilhar do que alguns estudiosos chamam de ‘forte sentimento de nós’.
Identidade e imagem
Ao longo das últimas seis décadas, o conceito de cultura organizacional foi incorporando e refletindo a evolução dos estudos teóricos da Administração, mas também reconhecendo a dimensão da comunicação interna como um fator de impacto para o sucesso ou insucesso das estratégias da organização em nível global, já que se reflete na construção da marca.
Toda interação humana pressupõe alguma forma de comunicação, verbal ou não-verbal, mas é tolice acreditar que a mensagem corporativa será entendida da mesma forma em qualquer região do globo. Afinal, esse entendimento está subordinado a modos de pensar, sentir e reagir transmitidos segundo as características de cada cultura.
No âmbito da organização, o domínio desse conteúdo simbólico, da cultura compartilhada e da forma de comunicá-la, torna-se instrumento de gestão, capaz de influenciar na manutenção ou modificação do status quo e, em última instância, na legitimação de sua própria existência como corporação.
Sem barreiras geográficas, a cultura organizacional hoje transita na esfera das identidades coletivas, em ambientes sócio-culturais-econômicos distintos – e quem media essas relações de poder é a comunicação interna. A ligação umbilical estabelecida entre cultura organizacional e comunicação interna constrói no universo empresarial a dimensão da identidade corporativa. O ser organizacional tem caráter, personalidade, atitudes e valores que extrapolam o ambiente interno e ajudam a compor sua imagem pública. Assim, é preciso enxergar o risco que a má gestão desse fator estratégico representa para a perenidade de qualquer negócio.
Assim como na vida, no ambiente negocial os fatos estão para as interpretações tal como a identidade corporativa está para a imagem da organização. Menosprezar a comunicação interna, tratando-a como um colateral do RH, sem seu devido caráter estratégico, é o caminho mais curto para minar a reputação de uma empresa e colocar a marca em risco.
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Jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional pela USP