Diretor do Nieman Journalism Lab, de Harvard, Joshua Benton, que abriu o MediaOn – fórum internacional criado por jornalistas e profissionais da internet para debater os rumos de suas atividades e as tendências da informação no mundo digital – na terça-feira (27/10), em palestra apenas para convidados, tem como um de suas principais missões analisar de que forma o jornalismo de qualidade pode sobreviver e prosperar na era da internet. Jornalista investigativo, ele recebeu o prêmio Philip Meyer de Jornalismo e participou do programa Pew Fellow de Jornalismo Internacional, promovido pela Johns Hopkins University. Ele concedeu a J&Cia a entrevista a seguir.
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Quais os principais obstáculos à prática do jornalismo de qualidade na web?
Joshua Benton – O maior problema é dinheiro – nos Estados Unidos e no mundo. Os jornais impressos, tradicionalmente e por terem modelos de negócios muito robustos, tinham a oportunidade de pagar aos profissionais para fazer um bom trabalho. A internet abre um mar de novos cenários e permite um nível de colaboração nunca antes visto, mas ao mesmo tempo interrompe esse modelo que paga bem os jornalistas por seu trabalho. Há mais oportunidades, mas agora é mais difícil pagar por elas.
Jornalismo investigativo na web. É possível?
J.B. – É definitivamente possível. Tem havido muitos exemplos de bom, sólido, jornalismo de investigação online. No entanto, jornalismo investigativo é muito caro, pois você precisa de profissionais muito experientes e demora muitas semanas para que se compreendam as questões e se aprofundem os assuntos. Por outro lado, os melhores exemplos de jornalismo investigativo têm envolvido o público de uma maneira nova. O repórter conecta-se muito mais facilmente às suas fontes e vice-versa. Hoje, os repórteres podem envolver o público e noticiar num fórum imenso o que estão fazendo.
Você acredita que o jornalismo em outras plataformas (impresso, tevê, rádio) migrará totalmente para a web?
J.B. – Tudo vai mudar. Veja o exemplo do rádio: se você voltar no tempo uns 60 ou 70 anos, o rádio ocupava lugar expressivo na veiculação de notícias em todo o mundo. Em seguida veio a tevê, mas o rádio não sumiu, ele apenas se adaptou. Tevê, rádio e jornais impressos sobreviverão, mas terão que mudar. Eu não acho que os jornais estão indo embora. Talvez não sejam mais produzidos em massa, talvez se dirijam a um público mais focado, talvez sejam mais analíticos, talvez circulem apenas três vezes por semana em vez de serem diários.
Tanto os veículos tradicionais como os que nasceram no ambiente online enfrentam um dilema comum e cotidiano: como gerar informação de qualidade o tempo todo, em alta velocidade. Você considera que o ritmo alucinante da internet é um obstáculo para o jornalismo sério e independente?
J.B. – Não. Como já disse, as questões financeiras representam obstáculos, mas não creio que haja menos jornalismo de qualidade hoje. É um momento de grandes mudanças, há instabilidade, mas me lembro como era a vida sem internet e as informações publicadas não eram necessariamente de melhor qualidade do que hoje, quando temos mais informação disponível.
A tendência de que um mesmo profissional produza imagem, texto e vídeo não afeta a qualidade do conteúdo produzido?
J.B. – Há quem veja essas mudanças sob uma perspectiva mais negativa, mas esse pode ser um modo meio ‘cego’ de ver as coisas. É mais possível do que nunca utilizar vários meios para atingir o público. Será que é tão estressante para repórteres? Acredito que não, mas as possibilidades de se fazer um excelente trabalho são bastante fortalecidas. Da perspectiva do público, a qualidade e as possibilidades de hoje, em comparação com 20 anos atrás, são muito melhores.
Em que medida ferramentas já consolidadas, como os blogs, e emergentes, como o Twitter, podem contribuir para o aperfeiçoamento do Jornalismo?
J.B. – Acho que têm ajudado muito, pois trazem contribuições que não cabem no paradigma tradicional de jornais. Jornalistas podem agora se ver como pessoas que podem comunicar-se e interagir diretamente com o seu público.
Você pode citar três características que um jornalista deve ter para vingar na Era Digital.
J.B. – er flexível, com capacidade de experimentar coisas novas; ser um bom filtro, para ver o que vale a pena publicar; e ser empreendedor, para pensar em ideias novas e não ser regido pela forma como as coisas sempre foram conduzidas.