Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘O iG destaca em sua capa foto de boxeador sendo nocauteado em luta no Japão. A foto é violenta, desagradável e não apresenta qualquer informação esportiva notável. O título (‘Peso pena, mas o soco…’) induz a uma certa diversão em relação à cena. No jornalismo, é difícil traçar a fronteira entre o jornalístico e o meramente chocante ou sensacionalista. Neste caso, penso que o limite foi claramente ultrapassado.

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Leitor engarrafado (24/10/08)

Jornalismo implica reagir à altura do momento. Nesta sexta-feira, a situação do trânsito chegou a tal gravidade que era obrigação do iG produzir reportagens a respeito, lançar um ‘Fala, Internauta’, envolver a comunidade dos leitores, refletir o sentido de urgência dos acontecimentos. Nesses momentos, a internet pode ser um grande canal para que o cidadão extravase sua irritação, aponte alternativas, dialogue a respeito do problema.

O recorde de trânsito em São Paulo pela manhã foi noticiado no Último Segundo, mas de uma maneira discreta e rotineira, como se se tratasse de mais um evento previsível. Quem são e o que pensam as pessoas presas no engarrafamento monstruoso de hoje? O que os 181 km de lentidão podem ter interferido na vida do paulistano?

Em defesa do internauta

Outra notícia que poderia dar bom ‘gancho’ para reportagens é a da situação de higiene dos restaurantes e lanchonetes de São Paulo. O Último Segundo deu a notícia sobre a insalubridade nas pizzarias de São Paulo, mas o que dizer sobre os restaurantes por quilo ou as ‘comidas de rua’?

Deveria-se fazer a mesma reportagem em outras cidades, onde a situação pode ser diferente ou até mais grave. Uma boa reportagem deveria levantar qual é o município que tem a melhor fiscalização de bares e restaurantes do Brasil.

A participação dos leitores exige a criação de uma pauta diária específica, com temas e perguntas convidando o leitor a opinar. Pede também uma estrutura exclusivamente voltada para isso. O iG deve ser um portal em que a voz dos leitores não é mero apêndice.

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Falta clareza ao menu da TV iG (23/10/08)

Já elogiei a nova TV iG como um avanço importante para a qualidade e variedade dos serviços oferecidos pelo portal aos internautas. Agora, é hora de um primeiro balanço. Um problema evidente é a falta de critério sobre o que é ou não é digno de destaque entre os conteúdos ofertados. Na capa do canal, há chamadas equivalentes para vídeos já antigos e para outros recentes. E isso não fica claro para o internauta logo de cara.

O internauta sedento de novidades tem que clicar, ir para o vídeo e só aí percebe a data em que o vídeo foi publicado. Pode tratar, por exemplo, da queda da bolsa de hoje ou da queda da bolsa de dois dias atrás. Revela-se uma debilidade recorrente do iG: a insuficiência do serviço de edição.

Falta seduzir pelo conteúdo oferecido, criando chamadas atraentes e apresentando-as de forma atraente, construindo vínculos de credibilidade a partir do trabalho de seleção realizado pelos profissionais do iG. Um critério evidente é de ‘temperatura’ do conteúdo. O mais recente, o mais ‘quente’ merece destaque. Aquilo que já envelheceu, vai perecendo. A lógica recomenda que seja dado mais destaque ao que é mais atual.

Da maneira como aparece hoje a capa da TV iG, o leitor fica sem conhecer os critérios. Falta clareza. No flash maior, por exemplo, nos destaques à direita e abaixo, aparecem os vídeos com maior audiência? Os produzidos pelo próprio iG? Aqui, de novo, o mais recomendável seria o critério da atualidade do conteúdo, que chama atenção do internauta e justifica uma ‘primeira página’ para o canal com várias subdivisões.

Vídeos do dia anterior ou de dois dias atrás já ‘envelhecem’ a página e podem entediar o leitor que procura no iG e na TV iG a última novidade. Se têm muita audiência, deveria ser criada uma área de ‘preferidos’ ou coisa assim.

Assim como as notícias, os vídeos do iG precisam ser melhor destacados na TV iG. Na capa do canal, há chamadas para material antigo e pouca clareza no critério usado para serem chamados de destaques. A falta de informação clara sobre a hora de chegada dos conteúdos é um problema mais geral também de outras capas do iG, inclusive da capa do próprio portal.

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O maior (22/10/08)

Excelente a menção de Ricardo Kotscho em seu blog ao grande Luiz Carlos da Vila. Foram ligeiras, porém, as referências ao fato no noticiário do iG, no Último Segundo e no canal de Música. Morreu aquele que talvez tenha sido o maior poeta negro do samba brasileiro desde Candeia.

Faltou um perfil e uma cobertura mais aprofundada da trajetória e da morte do sambista. O iG deu cobertura especial para a morte de Jamelão, em junho. Luiz Carlos da Vila, menos famoso, vinha do mesmo Olimpo.

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O bebê de Ivete e o jornalismo (21/10/08)

A notícia de que Ivete Sangalo perdeu seu bebê exigia que o iG comunicasse o assunto com um texto mais bem escrito do que o que foi veiculado: desarticulado, com erros e sem preocupação com a qualidade e a elegância da redação. O site Babado deveria tratar a notícia como tema nobre, fazer um relato completo, tratando dos diversos aspectos envolvidos.

No caso, todos conhecem a cantora de grande apelo popular cuja imagem está associada à saúde, à alegria e ao sucesso. Agora, Sangalo é afetada por um evento que revela um outro lado. O aborto indesejado revela a fragilidade da situação humana e iguala a todos. É uma oportunidade para ir mais a fundo. Os agentes e assessores de imagem já estão tratando de administrar a notícia.

As características da gravidez e a ânsia com que foi divulgada também merecem uma análise. Agora, o movimento de relações públicas vai em sentido oposto. O iG deveria aproveitar o interesse pelo tema ir aos detalhes que importam. Fazer jornalismo bem feito. Mostrar, com sensibilidade, o que aconteceu. Tentar sair do padrão raso do noticiário de fofocas, que muitas vezes é eficiente ao falar do que não importa e está sempre fugindo de qualquer exame dos fatos em sua complexidade, principalmente quando envolvem aspectos negativos (que envolvem imagem e, conseqüentemente, faturamento para o personagem). Essa é uma oportunidade para conhecer um outro lado de Ivete Sangalo, mais complexo e, talvez, verdadeiro.

O caso pode abordar também a relevância ou não da maternidade para a realização das mulheres. E seria a chance também de falar sobre como as vitórias humanas são relativas, passageiras e até irrelevantes diante de outras conquistas, que muitas pessoas comuns alcançam, mas nem sempre valorizam. É a chance para que o noticiário de celebridades do iG escape aos clichês e ao ramerrão a que está condenado e encare o desafio de fazer jornalismo. Por que não ir além?’