Apesar de, por vezes, publicarem temas diversos, como saúde feminina e ativismo social, as revistas de moda costumam ser associadas a páginas e mais páginas de modelos anoréxicas vestindo roupas de luxo. Para combater este estereótipo, o ‘mundinho da moda’ passou a dar mais atenção à questão da diversidade; ou melhor, à falta dela nas passarelas e bastidores.
Depois que uma funcionária da Glamour, branca, afirmou, em uma apresentação em um escritório de advocacia, que a revista desaprovava a presença de negros no local de trabalho, foram recebidos e-mails furiosos. A funcionária foi demitida e a Glamour organizou diversas discussões sobre temas como raça e beleza, sob o ponto de vista étnico. Não foi a única.
Este ano, representantes da indústria fashion levantaram questões sobre a falta de diversidade depois que as modelos negras sumiram das passarelas da semana de moda de Nova York por conta da preferência pela estética da Europa Oriental. Em julho, a Vogue americana publicou um artigo que discutia a diversidade na indústria da moda, com fotos de várias modelos negras.
Edição negra
Mas o episódio mais ousado até agora foi a edição de julho da Vogue italiana, chamada de ‘Edição Negra’, que exibiu apenas modelos negras. As passarelas italianas não são as mais emblemáticas da diversidade étnica. Mas a edição especial foi significativa, pois a Vogue italiana tem uma reputação de devoção à estética acima de tudo. A publicação não está interessada primordialmente em ser comercial, e sim em servir de guia de tendências fashion e inspiração para outras revistas. Segundo a editora Franca Sozzani, que é italiana, a reação à edição foi quase totalmente positiva. ‘Apenas 5% de pessoas loucas nos mandaram e-mails críticos’, afirmou.
De olho no interesse especial que a revista gerou na própria Itália e também nos EUA e Reino Unido, Franca decidiu arriscar ainda mais e a edição de novembro da L’Uomo Vogue, revista de moda destinada a homens, será dedicada à África. Metade dos lucros publicitários será doado a organizações de caridade do continente. Por conta destas iniciativas, Franca foi uma das homenageadas na noite de gala do Fashion Group International na semana passada.
A idéia da edição dedicada à África surgiu em meio a conversas que a editora teve com o ator Forest Whitaker e o autor francês Bernard-Henri Lévy, que atuou como editor-convidado. Ela quis focar nas pessoas, projetos e idéias e não fazer uma declaração estética sobre a África. Em vez de mostrar modelos usando roupas e acessórios que não teriam condições de comprar ou que não usariam, foram fotografados modelos – homens e mulheres – com suas próprias roupas, exibindo seus próprios estilos. A edição inclui imagens de Whitaker, Quincy Jones, John Legend, Matt Damon e até mesmo Michelle Obama, expressando suas relações com a África.
Em artigo, Lévy fala sobre o pessimismo e o cinismo que por muito tempo foi relacionado ao continente. ‘A moda não é apenas roupa’, afirma Franca. A L’Uomo Vogue tem tiragem de apenas 80 mil edições, porém circula no mundo da moda, atingindo as pessoas – designers, fotógrafos, produtores, diretores – que definem os padrões de beleza comerciais. Informações de Robin Givhan [Washington Post, 26/10/08].