‘Francamente, elas funcionaram. Ele não desenvolveu nenhuma capacidade significativa com respeito a armas de destruição de massa’. Essa foi a resposta do secretário de Estado americano, Colin Powell, a uma pergunta sobre as sanções promovidas contra Saddam Hussein, numa coletiva de imprensa na capital egípcia, Cairo, em fevereiro de 2001. Sete meses depois, a Al Qaeda atacou o World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington, e o discurso do governo dos EUA sobre o Iraque mudou radicalmente. O país passou a ser descrito como uma ameaça iminente à segurança dos americanos, que acabaram por apoiar seu governo na decisão de depor Saddam. Hoje se sabe que não existiam as tais armas de destruição em massa a que se referia o serviço de ‘inteligência’ dos EUA.
Michael Getler, ombudsman do Washington Post, escreveu, no dia 24/10, a respeito da falta de investigação e discussão, inclusive por parte da imprensa, sobre os verdadeiros motivos que motivaram o governo Bush a querer invadir o Iraque. Muitos leitores escreveram concordando que falta explorar esta questão. Outros acrescentaram que há muitos fatores correlacionados com a guerra que precisam ser melhor explicados.
Getler, em coluna de 31/10/04, listou algumas das perguntas ‘que não querem calar’ sobre a invasão do Iraque. O desejo de controlar a produção petrolífera iraquiana foi um motivador secreto para a operação bélica? George W. Bush, após o 11 de setembro, sentiu-se compelido a terminar o serviço que seu pai deixara incompleto na Guerra do Golfo? Em 1996, um grupo de teóricos neo-conservadores americanos, que então não trabalhavam no governo, mas depois viriam a integrar a equipe de Bush, apresentou ao então primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, um plano estratégico para o Oriente Médio, que previa a remoção de Saddam do poder. Netanyahu recusou a proposta, que acabou virando uma espécie de doutrina conservadora nos EUA. Ela influenciou a decisão de tomar o Iraque?
Para reiterar a importância de se esclarecer por que os EUA entraram nessa guerra, Getler cita um leitor, segundo o qual essa ‘é a história do século, muito maior que a do 11 de setembro’.