Começo este texto pedindo desculpas pela mastigação de ideias do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Com certeza, serei reducionista em certos aspectos, mas é em razão do pouco espaço de escrita. Não conheço toda sua obra, mas li recentemente o livro Sobre a televisão, onde ele faz uma série de críticas aos jornalistas (principalmente os televisivos). Também tece comentários sobre o campo jornalístico, suas estruturas e a forma como se dá sua produção. E, nessas análises, traz uma série de questões que ajudam a questionar o que assistimos na TV.
De acordo com ele, os jornalistas têm ‘óculos’ especiais, que enxergam certas coisas e outras não e, dessa maneira, fazem uma construção do que é selecionado. Ou seja: entre uma vastidão de notícias para serem dadas, são escolhidas aquelas ‘sensacionais’, que fixam a atenção do telespectador.
Nem sempre o que é interessante para todo mundo é importante. Muitas das notícias veiculadas em nada modificam a sociedade, pois servem apenas para entreter, diminuindo o debate público sobre questões que influenciam no cotidiano. Mas, infelizmente, é uma tendência que se tem observado. As notícias, aos poucos, vão se tornando algo espetacular, apenas espetacular, sem serventia alguma.
Saber da vida de celebridades, por exemplo, nada modifica a vida dos que assistem à programação, mas sempre há matérias a respeito. E se um jornal oferece algo interessante sobre a vida de alguém, os outros devem correr atrás do ‘prejuízo’ e falar do mesmo assunto.
Uma representação da realidade
E é aí que entra outra questão trabalhada por Bourdieu: os meios de comunicação acabam por influenciar os outros meios de comunicação. E assim, tudo acaba sendo a mesma coisa. O que um jornal fala, o outro repercute. ‘Para saber o que se vai dizer é preciso saber o que os outros disseram’, enfatiza. Essa se tornou uma lógica do jornalismo: tudo acaba caminhando da mesma forma.
A televisão, por ter se tornado hoje ‘uma espécie de espelho de Narciso, um lugar para exibição narcísica’, consegue forjar seus ídolos, seus intelectuais, seus seres perfeitos e sem máculas. Cria histórias, dramatiza fatos, produz uma versão maniqueísta do mundo. Por ser uma representação da realidade, enfoca aquilo que interessa à audiência e se esquece do que é necessário para a sociedade. Talvez não seja necessário dizer quem sai perdendo…
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Jornalista e assessor de imprensa, Americana, SP