Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

DITADURA
Roldão Arruda

Na internet, fichas dos militantes

‘Instalado no edifício de uma antiga fábrica de tapetes no bairro de Santana, na zona norte, o Arquivo Público de São Paulo abriga provas assombrosas de como os Estados autoritários temem e vigiam seus cidadãos. Se todos os prontuários ali guardados – a maioria deles provenientes dos anos da ditadura militar – fossem postos um sobre o outro, a pilha teria a altura de 1 quilômetro. Nos seus velhos arquivos de aço, herdados do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), repousam 1,1 milhão de fichas com informações sobre a vida de pessoas que o regime considerava subversivas. Uma delas contém a história de um rapaz que um dia se enrolou na bandeira brasileira e pediu para ser fotografado por outro rapaz, seu amigo. Os dois foram enquadrados num inquérito, com base na Lei de Segurança Nacional.

Tudo na antiga fábrica impressiona. A novidade é que, a partir do início do ano que vem, esse material poderá ser consultado pela internet.

Ontem, uma equipe de 24 pessoas, entre estudantes de história e digitadores, começou a alimentar os bancos de dados dos computadores da instituição com as principais informações do arquivo. Quando elas forem postas na internet, qualquer pessoa poderá saber se foi fichada. Também poderá investigar os temas que mais preocupavam a polícia política: sindicatos, imprensa, partidos, organizações de esquerda, greves, comícios.

Para isso deverá entrar no site do Arquivo Público e ali fazer um link com o banco de dados chamado Memórias Reveladas: um ambicioso projeto do governo federal destinado a reunir informações de todo o País sobre os anos da ditadura militar, entre 1964 e 1985. No momento estão sendo integrados 28 arquivos, distribuídos por 12 Estados. Ao lado do arquivo paulista estão, entre outros, o do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).

‘Será uma revolução na área de pesquisas sobre lutas políticas’, diz a historiadora Larissa Rosa Corrêa, responsável pela implantação do projeto Memórias Reveladas em São Paulo. ‘Com alguns cliques será possível saber o que existe em diferentes partes do País sobre os assuntos ou pessoas pesquisadas.’

Em sua primeira etapa, o projeto prevê apenas a inclusão das informações básicas. Mais tarde, todo o material das pastas de prontuários também ficará disponível. Será possível saber, por exemplo, como os policiais da ditadura de Getúlio Vargas vigiavam os japoneses do interior de São Paulo durante o período da 2ª Guerra Mundial.’

 

OBAMA
Patrícia Campos Mello

Democrata declara-se ‘um vira-latas’

‘Logo depois da indicação do secretário do Tesouro, a decisão mais esperada no novo governo Obama é a raça do cachorro que irá para a Casa Branca. ‘O cachorro é a questão que desperta o maior interesse no meu site’, disse ontem o presidente eleito Barack Obama em sua primeira entrevista. Ao candidatar-se, Obama prometeu às filhas Malia e Sasha que elas poderiam ganhar um cachorro, ao final da campanha, para compensar as horas que ele teria de passar longe delas. Ontem, ele disse que há dois critérios para a escolha do cachorro. ‘Malia é alérgica, então precisa ser um cachorro hipoalergênico. Mas nós preferimos um cachorro de abrigo (adotar um cão abandonado) – o problema é que muitos desses cachorros são vira-latas, como eu. Então, como equilibrar essas duas questões é um desafio urgente no lar dos Obamas.’

Além de se declarar um ‘vira-latas’, o presidente teve outros momentos bem-humorados. Ele foi simpático com a colunista Lynn Sweet, do ‘Chicago Sun-Times’, que estava com o braço em uma tipóia. ‘O que aconteceu com o seu braço Lynn?’, perguntou Obama. ‘Machuquei meu ombro a caminho do seu discurso na noite da eleição’, Lynn respondeu. ‘Oh, não! Esse deve ter sido o único grande incidente da comemoração em Grant Park’, brincou.’

 

O Estado de S. Paulo

Emissora de TV conta história de Obama

‘O produtor e ator de cinema Edward Norton já prepara um documentário sobre a vida do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, para o canal de TV a cabo HBO. O filme começou a ser filmado em 2006, quando Obama ainda era senador pelo Estado de Illinois, segundo revistas especializadas de Hollywood. Norton, que foi indicado duas vezes ao Oscar, pelos filmes Clube da Luta e Hulk, pediu e recebeu a cooperação de Obama para gravar as cenas. A gravação continuará até a data da posse, em 20 de janeiro, e o lançamento está previsto para 2009.’

 

O Estado de S. Paulo

Premiação da MTV celebra Obama

‘A ‘obamania’ encontrou a ‘beatlemania’ ontem em Liverpool, na Grã-Bretanha, durante uma premiação da MTV Europa (foto). Grande homenageado da noite, Paul McCartney agradeceu aos americanos ‘por votarem em Barack Obama’. A cantora americana Katy Perry, que usou um vestido estampado com imagens de Obama, disse: ‘Quem sabe agora os europeus não voltem a gostar de nós.’ Já o cantor Jared Leto puxou um coro da platéia: ‘Parabéns, Barack.’’

 

CRISE
O Estado de S. Paulo

Crise chegou ao Brasil, diz a britânica ‘Economist’

‘A revista britânica The Economist afirma que a crise financeira internacional desembarcou no Brasil, apesar da confiança inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a chamar a turbulência global de ‘crise do (presidente dos Estados Unidos) Bush’. Só que desta vez o problema é o setor privado, e não as finanças públicas, diz a publicação na edição que chegou às bancas ontem.

‘O crédito está ficando cada vez mais escasso e os bancos cada vez mais desconfiados’, diz o texto, intitulado ‘A crise de crédito chega ao Brasil privado’. A revista cita a fusão do Itaú e Unibanco – que deve criar a maior instituição financeira da América Latina e uma das 20 maiores do mundo -, reproduzindo frase de Roberto Setubal, do Itaú, na qual ele afirma que a crise acelerou o processo. Para a revista, o negócio deve alavancar uma nova onda de fusões no sistema bancário no País. O texto também informa que empresas da Zona Franca de Manaus deram férias coletivas aos empregados, o que acontece pela primeira vez em três décadas.

EFEITOS REPENTINOS

A publicação britânica afirma que os efeitos da crise no Brasil começaram repentinamente, depois de um período em que ‘a economia brasileira estava crescendo no passo mais rápido desde meados dos anos 1990, ajudada pelo preço recorde das commodities e pelo crescimento de crédito’. ‘Os problemas começaram de repente, no mês passado, com a venda em massa de ações brasileiras e investidores estrangeiros fugindo para cobrir perdas em outros lugares ou apenas voltando para casa.’

Segundo a revista, a desvalorização do real provocou perdas inesperadas nos contratos de derivativos em moeda estrangeira, que eram usados para tentar limitar a exposição de companhias brasileiras aos altos e baixos do dólar.

‘Enquanto o real estava se valorizando, esses contratos pareciam uma boa aposta, mas as companhias ficaram com uma falsa sensação de segurança’, disse Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, à publicação.

A Economist afirma que 200 empresas fizeram esse tipo de contrato, e algumas tiveram grandes prejuízos. ‘O temor sobre quantas outras podem apresentar prejuízos espalhou mais medo e fez com que os bancos reduzissem os empréstimos.’

MEDIDAS DO GOVERNO

Segundo a Economist, os membros do governo não estão mais dizendo que o Brasil não será afetado pela recessão global. A revista cita o fato de o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ter confirmado, no fim de outubro, que o governo vai reduzir a meta de superávit fiscal para 2009, de 4,3% para 3,8%.

Outra medida citada é a injeção de dólares pelo Banco Central, para tentar estabilizar o valor da moeda. Os movimentos do governo brasileiro para permitir que bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, possam comprar ações de bancos em crise também são citados.

A revista aponta que, no entanto, por causa de crises financeiras anteriores, a maioria dos bancos do País tem gestões bastante conservadoras, o que torna improváveis falências de grandes instituições financeiras no momento.

‘Com a estabilidade financeira, muitas empresas fizeram dívidas em dólar e contratos de derivativos. O resultado é uma novidade para o Brasil: um problema financeiro causado pelo setor privado e não pelo público. É um progresso, de alguma forma’, diz a revista.’

 

INTERNET
O Estado de S. Paulo

Microsoft descarta oferta pelo Yahoo

‘O presidente da Microsoft, Steve Ballmer, disse que a empresa não tem mais interesse em adquirir o Yahoo. ‘Nós apresentamos uma oferta, nós apresentamos uma segunda oferta… E agora já deixamos tudo isso para trás’, disse o executivo em Sydney. Na quarta-feira, o presidente do Yahoo, Jerry Yang, disse que um acordo entre as duas empresas seria a melhor solução para o Yahoo, depois do fracasso da parceria com o Google.’

 

Rodrigo Pereira

Comunidade zombava de vítimas

‘A Polícia Civil identificou ontem dois adolescentes que criaram no Orkut a comunidade ‘Churrasco da TAM’, em referência à maior tragédia da aviação civil brasileira, que deixou 199 mortos em julho de 2007. A página tinha fotos das vítimas no local do acidente e textos agressivos e debochados.

Mesmo com a comunidade retirada do site, a polícia manteve a investigação e se surpreendeu quando chegou aos autores, um adolescente de 17 anos e outro de 13 anos. ‘Disseram que foi uma brincadeira, tiveram a idéia depois que viram uma página reverenciando as vítimas’, contou o delegado Wilson Roberto Zampieri, titular da Delegacia de Meios Eletrônicos, que encaminhou o caso para a Vara da Infância e Juventude. ‘Como são menores, não cometem crime, mas ato infracional, e podem sofrer uma advertência do juiz ou até internação na Fundação Casa.’

O delegado disse que tem outros três casos idênticos prestes a serem concluídos. Segundo ele, ‘a família tem de impor limites, controlar o tempo e o que é feito no computador, incentivar a prática de esportes.’ Zampieri também disse que a polícia demorou a chegar aos adolescentes pela burocracia do judiciário e principalmente por dificuldades impostas pelo Google Brasil, controlador do Orkut. ‘Se colaborassem, em 3 meses isso estaria concluído. O Google atravanca muito nosso trabalho, só atende com ordem judicial’, disse, relembrando que até para tirar a comunidade do ar precisou oficiar uma representação à empresa, que a manteve por 15 dias.

O diretor de comunicação do Google, Félix Ximenes, disse que é prática da empresa retirar comentários que violam os termos de uso do Orkut. ‘Mas quando há apreciação judicial, é preciso que o juiz faça a avaliação e determine o que quer que seja retirado e mantido’, disse. ‘Nossa cautela, excesso de zelo, é não cair no autoritarismo’, completou.’

 

CELEBRIDADE
Tutty Vasques

Agora falando sério

‘O que faz o Juizado de Menores que não dá um toque nos responsáveis pela menina de 15 anos que escapou baleada da tragédia que matou sua melhor amiga no cativeiro de Santo André? Quase um mês depois, Nayara Rodrigues esteve esta semana na berlinda do Fantástico, visitou os estúdios do Projac, no Rio, e voltou ao programa de Ana Maria Braga. Tem ido mais à TV Globo que muito artista de novela. Devia estar na escola, né não?!

É claro que para uma menina na idade dela, criada na periferia da periferia, ser tratada como protagonista de um drama na emissora das grandes estrelas da TV tem um lado de conto de fadas.

Nayara interpreta a si mesmo com um misto de dignidade e deslumbramento estampados em seu rostinho bonito. Não acrescenta mais absolutamente nada a tudo que já disse, mas quem liga para isso numa sociedade de culto à celebridade? Só o Juizado de Menores mesmo.’

 

DOCUMENTÁRIO
Jotabê Medeiros

Testamento sonoro de José Agrippino

‘Colhendo depoimentos para o documentário inédito que apresenta hoje em ciclo sobre o escritor e cineasta José Agrippino de Paula (1937- 2007) no SescTV, à meia-noite, a videomaker e pesquisadora Lucila Meirelles foi à casa do cineasta Hermano Penna, o premiado diretor de Sargento Getúlio. Conversando, Penna falou informalmente de sua amizade com o multimídia Agrippino, cuja produção foi das mais abrangentes – cinema, literatura, dança, teatro, happening, artes visuais, música.

‘Música?’, admirou-se Lucilla, demonstrando incredulidade. ‘Sim, ele fazia umas fitas cujas capas eram desenhadas por ele mesmo e que vendia para amigos, para ajudar a financiar seus projetos’, respondeu Penna. ‘Eu mesmo tenho uma aqui que comprei da mão dele.’ E foi buscar a preciosa demo, gravada nas duas faces da fita.

Foi assim que o desconhecido disco Exu Encruzilhadas, de 1971, uma viagem ?indo-psicodélica? do guru tropicalista Agrippino, volta a ser ouvido a partir de hoje (com exclusividade, no site www.estadao.com.br). É uma sucessão de faixas que organizam ruídos, mais do que criam música, e que não parecem ter início e fim, misturando-se organicamente.

É um som feito de improvisos circulares, como na tradição sufi ou nas composições aleatórias de John Cage e de Marco Antonio Guimarães (do grupo Uakti). Está também impregnado de candomblé. O som de Agrippino causa um choque pelo que carrega de ousadia e premonição. Não há possibilidade de que essa música seja conectada à Tropicália – a literatura de Agrippino se presta a isso, pela estrutura, mas sua música está em outra dimensão.

‘É um som que também carrega aquele espírito de desregramento de uma época’, diz Lucila Meirelles. Entre faixas como Funeral de Iansã e Veneno de Deus, a revelação da música maluca de Agrippino vai solidificando seu mito – que já tomou a França. Em março, será instalada no Beaubourg uma mostra com seus filmes, exigência surgida com a súbita descoberta de sua arte após a publicação de seus livros naquele País, começando por Panamérica (lançado em janeiro pela editora Leo Scheer). A Holanda também receberá a mostra, que vai para Roterdã assim que encerrar seu ciclo francês.’

 

TELEVISÃO
Gustavo Miller

David Lynch na web

‘Grandes nomes de Hollywood estão cada vez mais interessados em trabalhar com histórias de ficção exclusivas para a internet. O (grande) nome da vez é o cineasta David Lynch, que na semana passada assinou com a produtora On Networks para criar uma websérie baseada em seu livro Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação.

Lynch, diretor de filmes como Veludo Azul, O Homem Elefante e Cidade dos Sonhos, é autor de uma das séries mais cultuadas da televisão americana: Twin Peaks. Seu interesse em trabalhar com a internet não chega a ser novidade. Em entrevistas, gosta de comentar que o modelo televisivo atual está condenado e que o futuro da TV está na web. Em seu site (www.davidlynch.com), ele até tem um programa em que apresenta as notícias meteorológicas da cidade em que estiver no momento da postagem.

Lynch é uma grife que gera ainda mais expectativa sobre as webséries. O diretor McG, o roteirista Craig Brewer e a atriz Rosario Dawson são apenas alguns nomes hollywoodianos que já trabalham com tal formato.

Só não há ainda previsão para início das gravações e estréia do webseriado.’

 

O Estado de S. Paulo

Melhor do Brasil perde dois quadros

‘O Ministério da Justiça desistiu de reclassificar o Melhor do Brasil como impróprio para menores de 12 anos ( liberado para ir ao ar só depois das 20 h). A Record alegou ao MJ ter tirado da atração o quadro As Aparências Enganam que, segundo o órgão, expunha mulheres e homossexuais a situações humilhantes, e Os Laranjas, com Mendigo e Mano Quietinho. A dupla agora estará no Domingo Espetacular. O MJ aceitou o argumento, e reclassificou o Melhor do Brasil como impróprio para menores de 10 anos, o que em nada altera seu horário de exibição.’

 

CORRESPONDÊNCIA
Livia Deodato

‘Carta não é papel velho’, diz Mindlin

‘Há 86 anos, o garoto José Mindlin foi passear com a sua tia nas praias límpidas e quase selvagens do Guarujá. De lá, resolveu escrever uma carta para sua família, ‘porque naquele tempo a ligação telefônica era muito demorada’. Ele sabia que seu pai havia acabado de enfrentar uma cirurgia e quis demonstrar toda a sua compaixão logo na primeira linha: ‘Espero que todos estejam bem, menos papai.’ A lógica infantil sempre surpreende, mas, afinal, é uma lógica. ‘Minha família ficou escandalizada. Me questionavam como é que eu podia não querer que meu papai estivesse bem’, relembra, às gargalhadas, o mesmo garoto, hoje com 94 anos.

O bem-humorado bibliófilo insiste em dizer que sua memória anda falha, que é tímido, preguiçoso e que transmite a falsa impressão de ser ordeiro. Pois se analisássemos com atenção somente a obra que será lançada amanhã – Cartas da Biblioteca Guita e José Mindlin -, poderíamos facilmente juntar esses adjetivos e trocá-los por uma só característica: a extrema modéstia que sempre lhe foi peculiar.

Há cerca de três anos, os editores da Terceiro Nome se interessaram pelos ‘papéis velhos’ que Mindlin sempre sentiu prazer em colecionar. São cartas trocadas por personalidades da literatura, artes plásticas, música e até pela nobreza, onde estão impressas datas entre os séculos 17 e 20.

Como essa coleção foi iniciada, Mindlin não se recorda com precisão. ‘É um desses mistérios que acho que nunca serão resolvidos’, resume, outra vez aos risos. O livro que amanhã vai lançar, ‘graças ao interesse dos editores e por mérito de minhas secretárias e bibliotecárias Cristina Antunes, Rosana Gonçalves e Elisa Nazarian’, contempla 55 das mais de 300 cartas que guardou ao longo da vida, entre elas a de Machado de Assis a Euclides da Cunha em 1903, parabenizando-o pelo ingresso na Academia Brasileira de Letras; ou ainda a de José Saramago ao próprio Mindlin em 1991, externando a sua insatisfação sobre uma conselheira cultural brasileira enviada a Portugal. Cujo motivo entendemos poucas linhas adiante, por meio de uma lúcida intervenção do bibliófilo: ‘A conselheira cultural do Brasil, a quem Saramago se refere na carta aqui publicada, decidira fazer um cadastramento dos intelectuais portugueses, e enviara um formulário que deveria ser preenchido por Saramago. José Mindlin, em resposta ao escritor, pediu desculpas em nome do Brasil.’

Na obra, as cartas aparecem reproduzidas e reescritas, além de oferecer uma breve biografia dos remetentes e destinatários. Os personagens envolvidos nas mensagens e o contexto ao qual eles estavam submetidos ganham ainda mais cores através de textos elucidativos concedidos por Mindlin. Outros, ele mesmo admite, dispensam quaisquer apresentações, como é o caso do poeta Manoel de Barros na segunda frase da carta que destina ao próprio bibliófilo: ‘(Não sei por que esta letra vai ficando cada vez menor, vai virando uma formiguinha)’.

José Mindlin está radiante por poder contribuir com mais uma obra para o acervo Brasiliana, de 17 mil títulos, doado à USP, previsto para ser abrigado até o fim de 2009 na Biblioteca Guita e José Mindlin, que está sendo erguida no câmpus. E não pretende deixar de escrever e receber cartas, ainda que tenha tomado certo gosto pela troca de mensagens instantâneas via internet.

De Machado para Euclides

‘Rio de Janeiro, 24 setembro 1903

Il.mo collega Sr. Dr. Euclydes da Cunha,

Recebi a sua carta de antehontem. Não é mister dizer-lhe o prazer que tivemos na sua eleição para a Academia, e pela alta votação que lhe coube, tão merecida. Os poucos que, por anteriores obrigações, não lhe deram o voto, estou que ficaram igualmente satisfeitos. Como membros da Academia, estimarão que esta se fortaleça com escolhas taes.

Joaquim Nabuco mandou-me o seu voto, com a declaração de que este recahiria no almirante Jaceguay, se se apresentasse candidato. Não se apresentando, votaria no autor dos Sertões, e foi o que succedeu, por meu intermedio. Pediu-me que lhe transmitisse a carta que achará inclusa, e só agora o faço, com gr.e prazer.

Renovo as seguranças de alta consideração e estima, com que sou

Ad.or e am.o m.to obr.o

Machado de Assis’’

 

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