Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Perspectiva Crítica da Notícia

(Foto: Unsplash)

Conforme publicação da Folha de S.Paulo do mês passado, assinada por Cristina Tardáguila, Natália Leal e Patricia Blanco, no dia 5 de agosto, foram entregues na Câmara dos deputados aos parlamentares que lideram o debate sobre o projeto de lei das fake news, já aprovado no Senado, cinco propostas para que a educação midiática entre no texto final e ganhe notabilidade na discussão. Um dos pontos apresentados é a ideia de que os cursos universitários ofereçam cadeiras de media literacy.

Com relação a essa questão, é interessante mencionar que desde o início do curso de Jornalismo da ESPM esta disciplina é uma realidade. Sob a denominação de “Perspectiva Crítica da Notícia” a disciplina tem entre os seus objetivos, possibilitar ao aluno compreender criticamente a notícia como fato discursivo, construído a partir de um determinado ponto de vista e conformado por interesses e fatores econômicos, ideológicos e organizacionais. Contribuir com o aluno para que ele possa: conhecer, assimilar e aplicar conceitos e parâmetros analítico-críticos na leitura de notícias e na compreensão de seus efeitos sociais; posicionar-se de modo crítico e ético na atuação e compreensão do seu fazer profissional. Compreender e aplicar modelos e paradigmas conceituais em atividades de monitoramento e análise crítica de mídia.

Assim, são discutidos e analisados os valores que orientam o processo de produção da notícia e suas implicações éticas, estéticas e político-social. Ainda há um projeto de monitoramento e análise de cobertura jornalística com alunos durante um semestre, culminando em trabalhos bem interessantes.

Esta disciplina sempre teve sua importância no curso, mas neste momento, em que o fenômeno da desinformação, mais conhecido como fakes news, tem gerado tantos transtornos na vida de cidadãos, ela é fundamental para que jovens, além de terem o correto entendimento sobre a construção da notícia, possam identificar e discutir sobre as informações falsas que são compartilhadas diariamente no mundo todo por meio de textos, áudios e vídeos nas mídias sociais e, no caso brasileiro, especialmente pelo WhatsApp.

As fakes news se constituem em uma problemática mundial e um dos instrumentos extremamente importante para combatê-las é a educação midiática nas escolas e universidades, como também, em espaços informais para que crianças e jovens possam ampliar sua leitura e compreender e refletir sobre informações que recebem.

No Brasil, a proposta de aproximação da educação com os meios de comunicação vem sendo há bastante tempo trabalhada pelo professor Ismar de Oliveira Soares com a denominação de educomunicação, tendo em vista as funções educativa, social e política da escola. Nesse sentido, reitera-se a importância do papel da escola, no sentido de “educar para o mundo” interconectado no espaço virtual.

A revolução causada pelo célere crescimento das tecnologias de informação e comunicação que, por meio do ambiente digital, assim como ampliaram a voz dos cidadãos, ampliaram os espaços das mídias tradicionais e promoveram o surgimento das mídias digitais e sociais. Neste complexo espaço virtual, em constante evolução, que inquestionavelmente trouxe inúmeros benefícios às sociedades, circulam também milhões de desinformações que prejudicam pessoas e instituições e a sociedade de uma forma geral, podendo comprometer a própria democracia. Portanto, é preciso a união de forças para combater as desinformações, e a media literacy é um importante instrumento que compreende educação, mídias e tecnologia e contribui para o desenvolvimento social e de direitos.

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Maria Elisabete Antonioli é coordenadora do curso de Jornalismo da ESPM.