Uma busca no Google com as palavras-chaves “Amazônia; Pampa” resulta em dezenas de páginas com notícias, e textos acadêmicos e/ou de órgãos de governos e instituições para estudo ou conhecimento sobre ambos biomas. A questão das queimadas, comum aos biomas brasileiros, apareceu como nesta notícia, ao mostrar a incidência do fogo. Em geral, a abordagem inclui o combate, a fiscalização, as multas e punições previstas, a eficácia das leis.
Apareceu também a questão comum da perda por supressão como nesta notícia do IBGE e republicada, em que somos informados do resultado da conversão de áreas, ainda que não trate das motivações: “‘O Pantanal tem como atividade tradicional o pasto nativo, mas ele vem sendo substituído pela pastagem por manejo, por meio da substituição por forrageiras exóticas, ou seja, gramíneas que não são originais do Pantanal’”, observou. O destaque na fala é nosso para provocar a reflexão sobre as motivações desse maior valor investido no que é exótico e na contramão da experiência e do conhecimento científico e técnico local sobre a biodiversidade nativa.
As queimadas na Amazônia, e demais biomas onde os índices têm dado saltos em relação a anos atrás, são criminosas e têm a finalidade de suprimir a biodiversidade para transformar as áreas em campo, seja para pecuária em pastagem plantada ou para monocultura de soja (ou qualquer outra monocultura exótica que o mercado internacional de commodities ditar, como de eucalipto). Diante disso, a grande questão comum aos biomas brasileiros e a ser feita aos decisores das políticas públicas e privadas, por toda a sociedade, muito além do jornalismo e das empresas dos meios de comunicação (que não estão fazendo) é: Por que investir em pecuária no bioma amazônico, o centro do debate mundial sobre degradação e que é florestal, ou seja, possibilita outras atividades econômico-produtivas, quando seria possível incentivar a pecuária que conserva a biodiversidade nos campos do Sul do país?
Em acordo com a Rede de Pesquisa Campos Sulinos, que reúne grupos e pesquisadores de diversas universidades e centros de pesquisas do Brasil, “não parece lógico que no Brasil se desmate floresta na Amazônia para lá ampliar as áreas de pecuária, baseada em pastagens plantadas, e se eliminem milhares de hectares de campos nativos no Sul do Brasil para produzir grãos para exportação ou plantar árvores exóticas”. Este alerta de 2015 é fundamentado por trabalhos que acumulam dados e experimentos e pode ser conferido na publicação Os Campos do Sul, entre outras.
Os números recentes sobre o estado de conservação do bioma Pampa podem ser conferidos nesta live do MapBiomas. Já as questões sobre as atividades econômico-produtivas coerentes com as características dos ecossistemas campestres são respondidas pelo professor e pesquisador Valério de Patta Pillar, coordenador da Rede Campos Sulinos, nesta live realizada pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul.
É de julho de 2020 a publicação “Revista Campo Nativo & Pastagens” que traz a opinião do professor e pesquisador Carlos Nabinger: “a pesquisa demonstra que é possível aumentar em cerca de 300% a produtividade animal em campo nativo apenas com adequado ajuste da carga animal e do diferimento estratégico de potreiros, e ainda melhorando os serviços ecossistêmicos. Isso significa passar da média estadual (no Rio Grande do Sul) atual de 70 Kg de peso vivo produzidos por hectare/ano para mais de 200 Kg sem qualquer custo adicional e ainda produzindo produtos com qualidades superiores para a nutrição e saúde humana.”
Portanto, o que está em jogo são as políticas públicas e privadas que homogeneízam os territórios. Delas decorre a exclusão da diversidade para a concentração de riquezas e o silenciamento da pesquisa e da ciência. À imprensa, talvez não seja tão urgente seguir nessa busca por sensibilização do grande público, a partir das imagens dolorosas e de morte dos seres pelo fogo, na mesma medida em que é urgente questionar, provocar reflexões, gerar esclarecimentos para uma mudança de paradigma.
Para conhecer mais sobre o tema:
Iniciativa Alianza del Pastizal
Este texto foi produzido por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) no âmbito do projeto de extensão “Observatório de Jornalismo Ambiental”. Publicado originalmente em Jornalismo e Meio Ambiente.
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Eliege Fante é jornalista e pós-graduada pela UFRGS em Comunicação e Informação. Integra o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) e é associada ao Núcleo de Ecojornalistas (NEJ-RS). E-mail: gippcom@gmail.com