Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Acusados julgados a portas fechadas

Teve início esta semana o julgamento, a portas fechadas, de quatro homens acusados de participar do assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, em outubro de 2006. Crítica ferrenha do Kremlin, Anna, que trabalhava como repórter investigativa para o jornal Novaya Gazeta, foi morta a tiros no prédio onde morava, em Moscou.


Os advogados da família da jornalista temiam que o processo fosse mantido em sigilo. O juiz da corte militar russa chegou a determinar que o julgamento fosse aberto ao público, mas voltou atrás. ‘Eu rejeito o pedido dos promotores de levar o julgamento a portas fechadas. Mas fecharei, caso haja pressão sobre o júri’, teria dito o juiz Yevgeny Zubov, desistindo da promessa após o júri alegar que não entraria no tribunal com a presença da mídia.


Céticos, parentes e amigos de Anna reclamam do fato de nenhum dos quatro réus ser acusado efetivamente do assassinato. Um dos homens julgados é o ex-agente do serviço de segurança russo Pavel Ryaguzov, suspeito de ter fornecido o endereço da jornalista ao assassino. O segundo é Sergei Khadzhikurbanov, ex-investigador da unidade de crime organizado da polícia de Moscou, acusado de ter ajudado a planejar o crime. Os outros dois, os irmãos chechenos Dzhabrail e Ibragim Makhmudov, são acusados de seguir Anna em suas últimas semanas de vida. Um terceiro irmão, Rustam Makhmudov, teria, segundo os investigadores, atirado na jornalista. Ele nunca foi encontrado; acredita-se que tenha deixado o país.


Sem mandante


Logo após o assassinato, o então presidente Vladimir Putin declarou que a morte de Anna era um ‘crime inaceitável que não ficaria sem punição’. Os mentores do crime nunca foram identificados. Uma das advogadas da família da jornalista, Karinna Moskalenko, notou que Ramzan Kadyrov, político checheno que teria ameaçado Anna, não foi interrogado durante a investigação. ‘Os investigadores também ignoraram o fato do assassinato ter ocorrido no dia do aniversário de Putin’, acrescentou. Dmitry Muratov, editor do Novaya Gazeta, acusa agentes do serviço secreto de terem organizado e coordenado o assassinato.


Anna Politkovskaya escreveu, por anos, livros e artigos críticos a Putin. Ela condenava, em especial, os abusos cometidos por forças russas durante a segunda guerra da Chechênia. O Comitê para a Proteção de Jornalistas classifica a Rússia como o terceiro país mais letal para jornalistas, atrás de Iraque e Argélia, com 49 jornalistas mortos desde 1992. Informações da AFP [18/11/08] e de Leigh Holmwood [The Guardian, 19/11/08].