Esqueça o difícil distanciamento dos jornalistas em relação aos fatos que devem relatar em seu trabalho cotidiano. Está em curso no Brasil, grávido já do nono mês da pandemia, um novo tipo de jornalismo: é o jornalismo de ansiedade.
Pensei nele ao recordar dos debates entre o jornalista Alberto Dines, fundador do Observatório da Imprensa, e um alto executivo das Organizações Globo, ali pelos anos 2000. Davam conta da existência de um tipo que chamavam, ironicamente, de jornalismo de abobrinha. Era o mesmo que falar de uma atividade que tem foco nas notícias sobre banalidades, exemplo da vida dos famosos.
O velho Dines parecia se divertir com ele, talvez como forma de amenizar o desconforto ao constatar o namoro inicial entre o jornalismo tal qual aprendemos na escola e o entretenimento puro e simples. A entrada foi pela TV. Depois, com a Internet, estavam dadas as condições para a ampliação do parque de diversões. Roda gigante, notícia e maçã do amor…
Mas não há nada que uma pandemia, e seu correspondente em termos de doença mental coletiva, não possam agravar. E o caldo pelo visto entornou terça-feira (8/12), dia de alta ansiedade. Foi quando grande parte dos veículos de imprensa serviu ao público uma dose a mais de incerteza, medo e insegurança sobre o futuro. Talvez envolvidos no próprio drama existencial que nos abate, jornalistas e veículos engrossaram a dúvida, a desesperança, a imprevisibilidade.
A pauta foi a corrida pelas vacinas, que já está no noticiário há semanas. O estopim foi o aumento da disputa política que envolve o presidente da República e o governador de São Paulo, o que levou a uma espécie de disparo em massa de manchetes sobre perspectivas da vacinação, dúvidas, desencontros e frustrações. Entre os fatos (poucos) e suas projeções para os próximos meses (bem mais abundantes), vendeu-se o abismo adiante. E o pior: grande parte por meio do velho jornalismo declaratório, que correu o noticiário e as redes sociais.
Dependendo de quem fale, e o que quer que fale, poderemos ter mais sobressaltos. Fazer manchetes com declarações nem sempre sinceras, nem sempre desinteressadas, e carentes dos fatos, é até comum no jornalismo. Mas quando isso causa taquicardia e falta de ar nele próprio, só tomando nova vacina.
***
Fabiano Mazzini é jornalista, professor do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Faesa e mestre em História pela Ufes.