Em sua coluna de domingo [16/11/08], o ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, lembrou de uma matéria de capa não muito agradável à mulher do senador republicano John McCain, Cindy. O perfil, publicado em 17/10, falava sobre situações constrangedoras na vida de Cindy. Em uma delas, em um jantar em Washington, a placa com seu nome sobre a mesa estava errada: em vez de Cindy McCain, estava escrito Carol McCain – nome da primeira esposa do senador, que ele deixou para se casar com Cindy. Achando se tratar de algo proposital, ela sentou-se em outra mesa – e ninguém quis lhe fazer companhia. Em outra ocasião, Cindy, na época viciada em remédios para dormir, se envolveu com o roubo de receitas destes medicamentos na instituição de caridade que dirigia. A mulher de McCain também era apresentada na matéria como uma pessoa que não gosta de Washington, ou de campanhas, e que não gosta de dar entrevistas e de participar de eventos políticos do marido.
O perfil de Cindy gerou uma série de acusações de que o jornalão seria tendencioso contra o então candidato à presidência americana pelo Partido Republicano. Alguns críticos julgaram ‘baixas’ as táticas de apuração da reportagem: para escrever sobre Cindy, a jornalista Jody Kantor entrou em contato com adolescentes de 16 e 17 anos no sítio de relacionamentos Facebook.
O caso gera as seguintes questões: como um jornal como o NYTimes deve lidar com menores como fontes e como personagens de artigos? Quando é apropriado perguntar a um jovem sua opinião para uma matéria, publicar a citação de uma criança e identificar menores envolvidos em crimes? Facebook, MySpace e outros sítios de relacionamentos são uma janela à vida pessoal, tornando o assunto ainda mais complexo.
Mensagens
Jody conta ter enviado mensagens para estudantes de três escolas particulares, tentando descobrir se Bridget, filha de 16 anos de Cindy e McCain, estudava em alguma delas. A repórter alega que queria entrevistar pais que conheciam Cindy para sua reportagem sobre aquela que poderia se tornar a primeira-dama dos EUA. ‘Também conversei com pais da escola das filhas de [Barack] Obama’, afirma. A jornalista enviou mensagens para nove alunos, identificando-se como repórter do NYTimes e pedindo que seus pais compartilhassem suas opiniões sobre Cindy McCain. Jody não reproduziu citações de nenhum adolescente, mas uma das mensagens da repórter foi descoberta pela campanha de McCain e passou a circular pela rede. Jody diz que não lamenta o incidente – embora tenha sido criticada por conservadores –, pois as pessoas puderam ver que não havia nada de errado no teor de sua mensagem.
Editores do diário afirmam que preferiam ter sido consultados antes de Jody ter entrado em contato com os adolescentes. ‘Como pai, eu não teria gostado se meu filho recebesse esta mensagem de qualquer adulto, muito menos de um repórter’, opina Richard Stevenson, editor encarregado da cobertura da campanha presidencial. Craig Whitney, editor de estilo, também não achou o envio das mensagens uma boa idéia. Desde então, ele criou uma nova norma que diz que se aproximar de menores para perguntar sobre suas vidas privadas é algo delicado e, portanto, não aconselhável e que requer consulta prévia.
Pequena testemunha
No mês passado, o NYTimes publicou uma entrevista com uma testemunha de 12 anos em um caso policial – o que reforça a preocupação em encontrar o equilíbrio entre os interesses do jornal e os de uma criança que pode não saber das conseqüências em conversar com um repórter. Neste caso específico, o menino de 12 anos contou ao repórter C.J. Hughes o que viu quando policiais prenderam um jovem, Michael Mineo, em uma estação de metrô. Mineo alega ter sido violentado com um cassetete. Policiais disseram ter duas testemunhas – incluindo um garoto de 12 anos – que não confirmavam esta versão.
O repórter procurou o pai do menino para entrevistá-lo. Ele não estava em casa, mas o filho atendeu Hughes e disse que também havia presenciado a prisão. O jornalista consultou então seu editor, que o aconselhou a esperar o pai chegar em casa. Quando ele chegou, não quis dar entrevista, mas não impediu que seu filho falasse.
Diego Ribadeneira, editor da matéria, preocupou-se com o fato de o menor não ser uma fonte tão confiável quanto seria um adulto. O diário entrou em contato com os policiais para confirmar se o menino era a segunda testemunha – e de fato, era. A fonte policial ainda confirmou parte do testemunho do garoto. Em conversa com o editor de estilo, foi decidido publicar apenas o que o menino contou à polícia e não divulgar seu nome.