Parem o mundo que eu quero descer, já disse em uma canção nossa estrela maior do rock nacional não fugaz, Rita Lee. Pare o mundo que eu quero descer, dirão os RoboGlobóticos que compõem até hoje a massa bucéfala de seguidores da Vênus Platinada ao lerem essa nota dada por Fabíola Reipert, da coluna ‘Zapping’, no jornal Agora: ‘Há preocupação na Globo com a queda de audiência do Fantástico. A média de 20 pontos, neste domingo, uma das mais baixas, gerou comentários internos.’
De minha parte, vejo como extremamente salutar de antemão que o termo fantástico que dá nome ao dominical mais molesta e sem graça da atualidade esteja citado entre parênteses, pois de fantástico mantém apenas o título. Em meio a esta crise de criatividade e qualidade que a emissora carioca vem demonstrando nas últimas duas décadas, infelizmente, e apenas agora, vem se mostrando em número palpáveis e irrefutáveis em seu desempenho no Ibope.
Outra mostra da atual fragilidade do canal vem também através da coluna ‘Outro Canal’, publicada nesta terça-feira (21/4) na Folha. Onde informa que o Video Show, tradicional revista eletrônica corporativa, passará a usar o serviço casa de paparazzi e deixará de falar apenas de artistas globais:
‘No entanto, a Globo não aceitará material não-autorizado. Assim a emissora só passará imagens que tenham pessoas famosas de outras áreas, como cantores e modelos. A partir de segunda-feira, o programa será ao vivo e deixará de falar apenas de artistas da Globo.’
Problemas em retratar a realidade
Pensemos que se já temos uma imprensa sobre mídia de entretenimento demasiadamente inescrupulosa, e até então neste seguimento a rede dos Marinho sempre fora ética, claro por falar apenas corporativamente de seus artistas. O que para alguns tolos seria um sinal de mais transparência da emissora, a mim vem como um grande perigo futuro. A óbvia estratégia de tratar qualquer porcaria vinculada na emissora como um manjar dos deuses e jamais falar de artistas que não os da casa, tem como objetivo menosprezar e desvalorizar o restante do mercado.
Me vem um exemplo de como abordaria o novo Video Show este tema dado em nota pela coluna ‘Ooops’ e vinculada na Folha On-line: ‘De acordo com informações da coluna, os fotógrafos perseguem a menina em sua cidade natal, no interior de São Paulo. Por conta disso, a família da apresentadora mirim precisou alterar hábitos e até mesmo adaptar a ida da menina à escola. A instituição precisou, inclusive, criar uma entrada secreta para a estudante famosa.’
Será que a Rede Globo falaria da menina prodígio que desbanca a rainha Xuxa há meses nas manhãs de sábado? Ou falaria sobre a festa de lançamento da nova novela da Record em meio a esse processo de guerra santa entre as duas emissoras? O jornalismo global sempre teve problemas em retratar a realidade sem parcialidade; seria um marco histórico para o país se eu queimasse minha língua e que a linha tendencial dela mudasse para uma verdadeira linha editorial.
Paradoxos e paradigmas
Penso em casos que a Record repercutiu, como o das saídas de Rômulo Arantes Neto com travestis ou de Fábio Assumpção e seu afastamento da novela devido ao uso de drogas. Aqui na Argentina, as duas maiores emissoras – Telefe, com o programa Zapping, e o canal Trece, com Televisión Registrada, onde quase 50% das notas são sobre atrações e artistas de sua principal concorrente – algo me assustou e me fez pensar por que no Brasil não poderia ser assim.
O que ocorre é que, apesar de rivais, Telefe e o canal Trece têm uma massa crítica como telespectador que questionaria com muito barulho e rechaço uma postura à la Rede Globo, de ignorar outros artistas de importância histórica cultural do país por apenas não estarem em determinada emissora. No Brasil, ainda vivemos os paradoxos e paradigmas da ditadura global. Ou seja, estás na Globo, és excelente; se não estás, és uma porcaria ou não és nada. À medida que os monopólios se desfaçam, a liberdade e a ética dos meios tendem a crescer. Se assim não passar a ser, por favor, parem o mundo que eu quero descer. Ou mudem o mundo para que mais gente possa subir.
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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista