O programa Pânico na TV, literalmente, perdeu a graça. Destacaria, entre as razões, a repetição da fórmula já batida de exposição de nádegas, o ego cada vez maior de seus componentes, que passam completamente dos limites em perseguições toscas a famosos, e o espaço maior dado a integrantes totalmente incompetentes no quesito humor.
Tudo isso levou à quase extinção de quadros realmente engraçados e bem formulados, que além do humor carregavam consigo mensagens inteligentes de crítica a políticos, emissoras e segmentos sociais, dentre outros. O que resta agora é a formula big brotheriana de explorar estereótipos da gostosona em biquíni minúsculo e do fortão sarado.
Por exemplo, existe quadro mais ridículo do que aquele no qual um dos integrantes juntamente com duas mulheres em trajes sumários e insinuações sexuais constantes vão ‘resgatar’ um jovem acometido por impulsos etílicos em uma balada? Os componentes argumentam que prestam um serviço ao encaminhar o indivíduo completamente alcoolizado em segurança até sua residência, mas será que eles ainda não pensaram que, por trabalhar com adolescentes, o quadro acaba servindo de estímulo ao consumo de álcool, uma vez que quantos garotos vão querer ser ‘salvos’ por duas gostosonas seminuas e ainda terem um tempo para conversar em uma confortável limusine? É apenas uma questão de bom senso, que o programa perdeu há muito tempo pela falta de criatividade de seus produtores.
Idiotização e falta de educação
O pior são as ‘coberturas’ em festas de famosos, quando dois dos integrantes agem de forma grosseira, descabida, sem propósito humorístico algum e ofendem todos – inclusive senhoras e senhores de idade, além de crianças inocentes à maioria das brincadeiras de forte tom sexual –, fazendo chacotas grosseiras de seus trajes, seus cabelos, suas características e limitações físicas, dentre outras coisas. E quem não tiver disposição para entrar no clima de piadas grosseiras da dupla, infelizmente será perseguido e motivo de chacota em eventos futuros, sob o pretexto de falta de humildade. Não há mais perguntas inteligentes, insights interessantes; tudo que essa dupla sabe fazer é atingir os ‘entrevistados’ com grosserias e chacotas. Para piorar, às vezes são acompanhados por uma jornalista sem qualquer vocação para o humor que, em trajes sumários, se exibe para a câmera e os convidados.
Pergunto-me se o auditório do programa anda mais vazio ou se a audiência vem caindo e a resposta será, seguramente, não. Isso porque o público desse tipo de programa tem pouca predisposição à reflexão de seu conteúdo enquanto for interessante aparecer na televisão no domingo à noite ou enquanto o artilheiro do seu time for interpretado em algum quadro do programa. Nesse caso, os ‘deseducados’ são os últimos a perceberem as mensagens que estão recebendo toda semana por meio de um conteúdo extremamente preconceituoso, estereotipado no culto ao corpo e no sexo, além da falta total de educação para com os idosos, especialmente. O humor não tem como objetivo a educação caseira de ninguém, mas também não deve também levar os jovens à idiotização e à falta completa de educação.
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Jornalista, Salvador, BA