Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira,4 de maio de 2009
DITADURA
Geisel fez cerco à imprensa nanica
‘Uma operação secreta de uso da Receita Federal para exterminar a imprensa alternativa foi desencadeada entre 1976 e 1978 pelo governo Ernesto Geisel (1974-1979), mostram documentos sigilosos da extinta Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça (DSI-MJ) obtidos pelo Estado.
Embora notabilizado pela suspensão da censura a jornais, pelo fim da tortura de presos políticos e pela distensão ‘lenta, segura e gradual’, o general, penúltimo ditador do ciclo militar de 1964, autorizou a ofensiva contra os pequenos veículos em despachos com o então ministro da Justiça, Armando Falcão. O ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, concordou com a ação, proposta pelo II Exército – hoje Comando Militar do Sudeste, de São Paulo.
A autorização de Geisel para um ataque fiscal ao jornal Versus está documentada em ofício de 1º de setembro de 1978. Nele, o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, Walter Costa Porto, transmite pedido da Polícia Federal para liberar a ação. A resposta vem manuscrita. ‘Confidencial. Conversei, no despacho de hoje, com o Exmo. Sr Presidente da República, que aprovou a medida’, escreve Falcão. ‘Prepare-se, assim, o competente expediente ao Sr. Ministro de Estado da Fazenda. Em 11.9.1978. A.. Falcão.’ Uma lista com Versus e outras 41 publicações que deveriam sofrer o mesmo processo da Receita, entre elas O Pasquim e Movimento, integra o dossiê.
Nos documentos, a operação secreta é tratada com naturalidade pelos ministros e por integrantes de órgãos de repressão, em correspondências oficiais de 1976 a 1978. Simonsen, por exemplo, em ofício de 1º de abril de 1977, solicita que ‘as indicações das empresas a serem auditadas sejam acompanhadas de todas as informações disponíveis no Ministério da Justiça e nos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Informações, bem como sejam instruídos os órgãos regionais e sub-regionais do Departamento de Polícia Federal (…).’ E expõe o objetivo: ‘Subsidiar a aplicação de providências legais (…) no sentido de promover, se for o caso, o encerramento de atividades desse tipo de empresa’.
Em outro ofício, de 26 de abril de 1978, Costa Porto encaminha informação do ‘senhor ministro-chefe do SNI’ – João Figueiredo, posteriormente presidente da República. Ele reproduz o texto de Figueiredo: ‘Considerando que a imprensa nanica continua proliferando, conclui-se que a operação dos Ministérios da Fazenda e Justiça, visando a retirar de circulação esses jornais cuja viabilidade econômica é questionável, está resultando infrutífera’.
O mesmo Costa Porto, em documento de 1º de setembro de 1978, mostra que Geisel acompanhou a operação contra os alternativos por muito tempo.. Ele lembra a Falcão que, em 1º de agosto de 1977, o ministro da Justiça levara o assunto ao presidente, que ‘decidira, verbalmente, aguardar’.
Humberto Barreto, ex-secretário de Imprensa do presidente, nega ter sabido dela. ‘Por mim, não passou’, diz. O ex-senador e ex-ministro Jarbas Passarinho também diz desconhecer a articulação. ‘O que eu ouvia dos líderes do presidente é que ele tinha aberto a liberdade de imprensa, exceto para a imprensa nanica’, explica. ‘Ela era muito violenta.’ Falcão foi procurado, por intermédio de familiares, mas não deu entrevista. Em seu livro Tudo a Declarar, não menciona o ataque fiscal, mas reconhece que centralizou a censura. Geisel morreu em 1996, e Simonsen, em 1997.
ARTICULAÇÃO
O processo ‘de caráter sigiloso’ foi iniciado no Ministério da Justiça pelo Ofício 341/Sec/Gab, de 9 de setembro de 1976. No texto, o diretor-geral da PF, Moacyr Coelho, envia a Falcão documentação do II Exército ‘contendo sugestão de emprego dos órgãos fazendários, dentro da área de esfera de suas atribuições, na fiscalização de publicação de influência ou orientação esquerdista’.
A Informação número 1.343/76-CB, de 23 de agosto de 1976, da 2ª Seção do Comando da Força em São Paulo, alertava que a ação policial da censura vinha criando uma série de incidentes que desgastavam o governo e serviam de ‘bandeira para as esquerdas mobilizarem a classe jornalística’. Acrescenta, ainda, ser ‘mais eficaz a censura fiscal’, que poderia determinar ‘o fechamento de tais publicações pela atividade de fiscalização’.’
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Jornais aglutinavam oposição
‘Subproduto inesperado do golpe militar de 1964, a imprensa alternativa abrigou, durante pelo menos 20 anos, profissionais e assuntos banidos dos grandes veículos de comunicação por força da ditadura. Foi um dos núcleos aglutinadores da oposição ao autoritarismo, tendo lançado, de 1964 até o fim dos anos 70, cerca de 160 títulos no País, segundo o jornalista e professor Bernardo Kucinski, estudioso do assunto.
‘Houve de fato perseguição fiscal aos jornais alternativos, embora eu não saiba localizar como e quando, porque nunca me detive nesse aspecto’, diz Kucinski. Considera-se que a origem da imprensa alternativa no País foi o lançamento do jornal Pif-Paf, de Millôr Fernandes, em 1964. Seu maior fenômeno foi O Pasquim, semanário carioca lançado em 1969.’
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‘Versus’ foi impresso até em gráfica de militar
‘Receita Federal, Previdência Social, Ministério do Trabalho. As pressões contra o jornal Versus explodiram no fim de 1978, após autorização do presidente Ernesto Geisel para a devassa fiscal na publicação. O aval está registrado em documentos, obtidos pelo Estado, da extinta Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça.
Ex-editor do Versus, o jornalista Omar L. de Barros Filho conta que, na ocasião, foi chamado a depor na Polícia Federal em São Paulo. Os policiais queriam saber ‘de onde vinha o dinheiro’ que sustentava o mensário. ‘Logo depois, recebemos uma informação privilegiada avisando que estava sendo preparada uma devassa nas nossas contas’, conta Barros Filho.
A perseguição atingiu também fornecedores do Versus que, segundo o jornalista, passaram a ser ameaçados com devassas fiscais. Vendedores de papel apertaram as exigências. Gráficas recusaram-se a imprimir a publicação.
‘Trocamos de oficina umas cinco vezes’, relata. ‘Fomos da capital para o interior, dizendo que Versus era um jornal voltado para o turismo na América Latina.’
O processo gerou episódios cômicos, como quando o mensário foi impresso na empresa de um militar, que só tardiamente soube que produzira uma publicação de esquerda, com direito a Cuba na capa, em plena ditadura brasileira.
Os problemas se agravaram depois que integrantes de uma autodenominada Organização Nacionalista Estudantil, na ausência dos funcionários, invadiram a redação, quebraram tudo, picharam as paredes com ameaças e furtaram todos os livros contábeis. ‘A coisa ficou difícil, não tínhamos como comprovar nada.’
Versus surgiu em 1975 e fechou as portas em 1980. De dezembro de 1976 a janeiro de 1977, sob o bipartidarismo Arena-MDB, defendeu a criação de um partido dos trabalhadores, socialista, o que, diz o ex-editor, enfureceu a ditadura.’
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Simonsen endossou operação
‘Em ofício de 1º de abril de 1977, o então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, afirmou que a ação fiscal contra jornais de oposição sugerida pelo II Exército poderia ser uma ‘providência auxiliar às medidas de preservação da Segurança Nacional’ – termo da época para designar iniciativas de repressão. No texto, o economista reconhece explicitamente qual seria o objetivo: fechar, pela fiscalização do recolhimento de impostos, os jornais alternativos.
‘Creio que, através de auditoria contábil-fiscal nas empresas referidas e, quando necessário, nas pessoas físicas de sócios e diretores (…) poderá ser possível a obtenção de evidências ou provas documentais suficientes não só para a instauração (…) de processo judicial por crime contra a Fazenda Nacional, mas, também, para subsidiar a aplicação de providências legais (…) no sentido de promover, se for o caso, o encerramento das atividades desse tipo de empresa’, escreve Simonsen.
ROTEIRO
Foi o comando do II Exército, contudo, que traçou o roteiro a ser seguido pela Receita Federal e outros órgãos fiscais no ataque fiscal à imprensa alternativa, no documento ‘Imprensa ?Independente?’, assinado por Francisco Guimarães do Nascimento.
Depois de afirmar que as publicações alternativas eram ‘inviáveis economicamente’, o autor lista o que deveria ser apurado por ‘fiscais da União, dos Estados e dos Municípios’ sobre a imprensa alternativa. ‘1-Qual o Capital? 2-Qual a forma da sociedade? 3-Quais os acionistas? 3-1 -O imposto de renda destes comporta a condição de acionista, isto é, apresentam saldo a empregar? 3-2-Conta de lucros e perdas? 3-3 – Distribuição de dividendos? 3-4-Se houve prejuízo, como foi coberto, por quem e por quê? 4- Qual o corpo redatorial? (…)’
‘A censura saiu dos grandes veículos no começo de 75, mas de Movimento, O São Paulo e Tribuna da Imprensa só saiu em junho de 1978’, diz o jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, ex-diretor de Movimento. ‘Acho que, como suspenderam a censura, resolveram atacar pelo outro lado.’
Francisco Marsiglia, ex-diretor-administrativo do jornal, diz que, no início da publicação, em 1975, as ações fiscais eram normais, mas, no fim dos anos 70, a situação mudou, com ofensivas agressivas dos auditores. ‘Houve mesmo’, diz. ‘Eu acompanhei de fora, porque já estava apenas como assessor, não era mais diretor. Os fiscais ameaçavam fechar o jornal.’
O semanário, porém, morreu no início dos 80, alvo, como Versus e outros, de campanha terrorista e vítima das mudanças do País.’
TECNOLOGIA
Videogame ajuda a treinar tropas dos EUA
‘Apesar da forte recessão econômica, a indústria de videogames está prestes a receber um aporte adicional de US$ 50 milhões. Mas, desta vez, o investidor é o Pentágono, e os recursos certamente não irão para o novo controle sem fio do Wii. Com os olhos voltados para as guerras no Iraque e Afeganistão, estrategistas americanos anunciaram que apostarão em ‘jogos e sistemas interativos para treinar tropas para o combate’. A ideia é levar o front para dentro dos videogames.
O projeto será centrado em um jogo já batizado de Game After Ambush (algo como ‘Simulador de Emboscada’), de primeira pessoa – modo no qual o jogador vê através dos olhos de seu personagem, como no célebre Counterstrike. O programa, cuja conclusão está prevista para setembro, ficará a cargo de um escritório do Departamento de Defesa voltado inteiramente ao assunto, o PEO-STRI.
Segundo militares, embora tenha um orçamento multimilionário, a iniciativa poderá fazer proliferar uma ferramenta de treinamento fácil de usar e eficiente. Ao final, portanto, o projeto teria um baixo custo.
A aliança entre soldados e programadores, porém, não é nova. Deslumbrados com o sucesso do pioneiro Atari, no início dos anos 80, o Pentágono encomendou à empresa americana o precário duelo de tanques Battle Zone. Na década seguinte, foi a vez do jogo comercial Doom II ser modificado, tornando-se um sistema de treinamento restrito a militares, o Marine Doom. Nos últimos anos, a parceria deu um salto para os jogos DARWARS Ambush! e VBS-2, programas que simulam situações de zonas de combate, como o deslocamento em comboios e procedimentos de ação.
A novidade agora é que, por causa dos imensos avanços tecnológicos, videogames como o Game After Ambush serão ‘capazes de simular quase à perfeição os desafios encontrados por soldados’, disse ao Estado Roger Smith, presidente da Modelbenders, uma das principais fornecedoras de games ao Pentágono.
Smith lista quatro frentes de inovação. A primeira é a melhora visual dos jogos: os gráficos e o comportamento dos personagens são cada vez mais realistas. Avanços com inteligência artificial deram autonomia aos componentes, capazes de ‘apreender’ e tornar o jogo imprevisível. O registro da performance dos soldados, como em ‘filmes’, dá agora ao instrutor uma poderosa ferramenta para avaliar o desempenho do aluno. E, por último, novos sistemas permitem que os cenários sejam alterados. Com isso, o próprio instrutor pode facilmente desenhar o ‘mapa’ no qual seu aluno jogará, mexendo em estradas, muros, clima e personagens coadjuvantes.
Esta última evolução, explicam especialistas, é fundamental para simular guerras irregulares, nas quais um Estado enfrenta atores não-estatais – caso dos EUA no Iraque e Afeganistão. O Pentágono revelou que o Game After Ambush terá situação como as bombas improvisadas colocadas por insurgentes iraquianos nas estradas (IED, na sigla em inglês), que vitimaram centenas de americanos.
MARKETING
No entanto, o interesse estratégico dos EUA nos videogames vai muito além do treinamento militar. Em 2003, enquanto tropas americanas invadiam o Iraque para derrubar Saddam Hussein, o Departamento de Defesa lançava um jogo com o objetivo explícito de atrair jovens fãs de games para as Forças Armadas. Semelhante ao Counterstrike, o America?s Army foi disseminado em sites para download grátis e o próprio Pentágono criou portais para comunidades de jogadores.
No game ‘oficial’ do Exército dos Estados Unidos, participantes constroem uma carreira e evoluem na escala de patentes segundo seu desempenho. O respeito a valores defendidos pelo Pentágono também conta pontos. Se, por exemplo, o jogador atirar em um colega de equipe – atitude sem grandes consequências na maioria dos jogos -, ele é duramente penalizado no ranking e suas chances de tornar-se um general vão por água abaixo.
‘O governo sabe que é capaz de recrutar pessoas com esse tipo de programa. Caso contrário, não estaria colocando tanto dinheiro’, diz a psicóloga Karen Dill, da revista acadêmica Simulation & Gaming, especializada no tema. Ela explica ainda que a política tem um ‘público alvo’ explícito: jovens do sexo masculino.
Samuel Tobin, sociólogo da New School, de Nova York, inverte a relação entre os mundos real e virtual. Segundo ele, não é só o videogame que copia a guerra. A guerra de hoje em dia também copia o videogame, apropriando-se do que ele chama de ‘lógica de jogo’.
Tobin cita como exemplo os aviões não tripulados Predator, que os EUA utilizam na fronteira entre Afeganistão e Paquistão. Os aparelhos são comandados a milhares de quilômetros por soldados ‘armados’ de um joystick, que acompanham as cenas por um monitor de TV. O bom desempenho faz subir na escala de patentes, real.’
PUBLICIDADE
Anuário exclui peça que não vai ao ar
‘Inventar anúncios para as classes de baixa renda empacou a criatividade da publicidade brasileira. A falta de referências culturais desses novos consumidores fez com que comerciais não fossem compreendidos e acabassem vetados para veiculação pelos anunciantes. Uma situação que estimulou a proliferação de peças fantasmas, que são aquelas que nunca chegaram ao público, mas que, por sua beleza plástica, humor ou sofisticação, dão aos profissionais do meio condição de concorrer às premiações que proliferam no setor.
A tese de que a propaganda no País perdeu glamour por causa da incorporação ao consumo das classes de menor poder aquisitivo tem sido tema recorrente em conversas entre os publicitários da área de criação – que são os que mais sofrem com essa realidade -, embora nenhum deles goste de falar abertamente sobre o assunto. De um lado, porque sabem que têm de aprender a falar com esse público. De outro, porque as peças fantasmas são sempre um assunto delicado.
Tão sensível que, como pondera o atual presidente do Clube de Criação de São Paulo, Marcello Serpa, sócio e diretor de criação da AlmapBBDO, está na hora de um amadurecimento que valorize a propaganda merecedora de registro nos anais do clube. ‘Temos de trazer de volta o mérito das peças que dão resultados e prestigiar o ofício com a preocupação de refletir o que a publicidade ?real? brasileira fez de melhor a cada ano.’ Para isso, o anuário vem abolindo as peças fantasmas de suas edições. Nas duas últimas, tem sido severo na seleção dos trabalhos. Este ano, das 2.451 peças inscritas, apenas 261 farão parte do livro que vai circular no fim do ano.
Mais do que isso, o júri, composto por 101 profissionais entre os que nos últimos dez anos se destacam no meio, tem sido rigoroso na classificação das peças merecedoras da categoria máxima, o troféu Estrela de Ouro. Este ano, a 34ª edição tem apenas seis trabalhos contemplados. Em edições anteriores, esse número chegou a ser mais do que o dobro.
‘O processo de escolha dos ?Ouros? leva em consideração o peso das ideias em um trabalho que seja único, que tenha se sobressaído por sua qualidade de execução e inovação de passar uma mensagem com eficiência’, acrescenta Serpa.
PREMIADOS
Dois exemplos que se encaixaram na concepção para ganhar ?Ouro? foram as campanhas para o Banco Real, denominada Portas, criada pela agência Lew?LaraTBWA, e também os anúncios impressos para a Volkswagen, chamados Caminhões sob Medida, da AlmapBBDO.
A primeira faz uma cliente do banco vivenciar um acontecimento inusitado e registra a emoção dela ao abrir portas e ver fotos de várias situações de sua vida. Há atualmente no negócio da publicidade mundial um crescimento do uso de mensagens repletas de toques de esperança e afeto. Um movimento que ganhou impulso após o 11 de setembro nos EUA, com o choque de aviões nas torres gêmeas em Nova York. A campanha do Real traduz esse momento de valorização das coisas simples e relevantes, para uma atividade que tem a tradição de se comunicar seus produtos de maneira bem formal.
No caso dos anúncios impressos da Volks, a criatividade da campanha foi associar de forma lúdica uma categoria de produto normalmente tratada de forma mais bruta. Para mostrar que os caminhões da empresa são sob medida, a agência transformou, por exemplo, caixas de tomates em caminhões para carregar tomates. Ou então caixas de ovos em caminhões de ovos. A campanha tem sido premiada nos principais festivais do setor. Ganhou Leão no Festival Internacional de Publicidade de Cannes e também o Clio Awards, a maior premiação americana.
‘A proposta de fazer uma seleção mais rigorosa, que refletisse melhor o que o ano da propaganda produziu, atingiu o seu propósito nesta edição do anuário’, acredita Eduardo Lima, jurado e diretor da criação da F/Nazca Saatchi & Saatchi.
‘Há um componente subjetivo na escolha dessa ou daquela peça, mas, apesar disso, há mais acertos do que erros. O Clube de Criação deu uma chacoalhada no mercado ao optar pela compromisso com o real. Não podia continuar largado, como vinha nas gestões anteriores.Temos a responsabilidade de educar os jovens que estão entrando na atividade.’’
TELEVISÃO
Globo ajusta o áudio
‘Sabe aquela sensação de que o volume de sua TV muda quando entra o intervalo comercial? Esse é um dos entraves de uma nova tecnologia de áudio que chega à TV: o áudio 5.1, ou áudio HD, que já aparece timidamente em transmissões esportivas em HD da Globo.
Muito potente, o som em HD é transmitido por vários canais de áudio ao mesmo tempo, diferentemente do áudio comum na TV, o estéreo (transmitido por dois canais). Em um jogo de futebol com áudio HD, por exemplo, além do Galvão Bueno, você escuta ao fundo os gritos da torcida – incluindo os xingamentos.
O problema é que as campanhas publicitárias ainda não utilizam essa tecnologia, o que acarreta uma diferença ainda maior de som na passagem da atração para o break. ‘Estamos estudando para minimizar isso no ar’, informa o diretor de Engenharia da Globo, Fernando Bittencourt.
Apenas quem tem uma TV moderna, com saída de áudio 5.1 e mais um home teather consegue captar toda a potência desse som. Utilizada inicialmente em esportivos e musicais, a tecnologia deverá ser estendida ao restante da grade da Globo.’
O FUTURO DO JORNAL
Lúcia Guimarães
Necrofilia oportunista
‘O noticiário sobre a decadência dos jornais não dá refresco. Nos Estados Unidos é tão intenso que, a qualquer momento, se espera a emissão de um novo selo dos Correios representando o repórter como espécie em extinção, um mico-leão-dourado – majestoso,benéfico e irremediavelmente superado pela evolução biológica.
Há uma diferença entre a cobertura das dificuldades econômicas reais dos jornais e a alegria mal disfarçada de blogueiros que ‘noticiam’, ou, na maioria dos casos, agregam os textos publicados em jornais sobre a morte iminente da mídia impressa.
Pouquíssima reportagem original emana da blogosfera brasileira. Esta coluna passará por, no mínimo, dois editores, independentemente de ser um espaço de opinião. Eles vão me impedir de atentar contra a gramática, o decoro e vão defender a qualidade editorial desta publicação.
Sou bombardeada por textos online (não dá para chamá-los de artigos, tal a pobreza da edição) sobre o estado ‘cadavérico’ dos jornais, sobre a inutilidade de lê-los, baseada na idiossincrasia de um não leitor preguiçoso. O jovem que não adquiriu o hábito de segurar a folha impressa e tem a visão de mundo filtrada por espasmos de notícias na tela, via sites, Twitter, páginas pessoais, mensagens de texto não é o alvo desta coluna. Ele é um cidadão desavisado deste admirável mundo novo – onde democracia se confunde com horizontalidade, onde acesso igualitário se confunde com qualidade. Como diria o poeta (googlem o bardo), não há a escuridão mas, sim, ignorância.
Refiro-me aos autonomeados jornalistas (nada a ver com o diploma, sou contra a exigência de curso de jornalismo) que espumam de prazer quando detectam qualquer novo sintoma de debacle da mídia tradicional na qual nunca fizeram carreira. Ou, como melhor colocou o jornalista Sérgio Augusto, ‘cospem no prato em que não comeram’.
Suspeito que se recebessem um convite inesperado para integrar a redação de um respeitado jornal ou revista não só aceitariam de bate-pronto como descobririam um novo universo de virtudes convenientes para o status recém-adquirido.
Ainda não recebi nenhum post sobre a reportagem do New York Times que apurou a indigência empresarial da mídia online independente dos países emergentes.
A combinação de ufanismo automático com conteúdo online que não passaria pelo mais generoso escrutínio de uma redação e triunfalismo com as dificuldades de empresas que ainda usam mérito e experiência como critério editorial me lembra o personagem do desenho animado que serra o chão à sua volta. Se algum fenômeno socioeconômico biológico varresse os jornais e revistas do planeta em um dia, o silêncio dos sites, privados de fontes, seria ensurdecedor.
A blogosfera alimenta-se, principalmente, do noticiário da mídia tradicional, ao agregar conteúdo alheio, num faroeste que ignora a etiqueta de créditos e atribuição, ao repercutir notícias que lhe satisfazem a autorreferência. Assim, o Twitter é saudado por uma suposta relevância semelhante ao advento da penicilina. O Twitter é mesmo uma gracinha, tem seus bons momentos como durante o atentado em Mumbai mas, atenção coveiros de plantão, de acordo com pesquisa divulgada na semana passada pela empresa Nielsen, 60% dos que se tornam membros abandonam o hábito um mês depois (inclusive a vossa colunista), um índice de retenção economicamente inviável.
Quando era estagiária, eu desprezava a gerontocracia do Partidão que encontrava em assembleias e redações. Mas não torcia pela morte do jornalismo. Torcer pela morte dos jornais é a doença infantil do bloguismo. É atirar no próprio pé, não no interesse corporativo, mas no pé do cidadão. O falso choque de geração da velha e da nova mídia interessa a quem?
‘Ah, ser um político municipal num mundo sem jornais… Há de ser o sonho maior da história da corrupção.’ A declaração é de um grande repórter americano, David Simon, que abandonou a cobertura de crime no Baltimore Sun para criar duas das mais importantes séries policiais da TV americana – Homicídio e A Escuta. Simon discorda da simplificação ‘a internet matou os jornais’.
Quando ele aceitou um dos vários pacotes de demissão voluntária que foram encolhendo a redação do Sun, a internet ainda não havia corroído a base publicitária e o Sun dava 37% de lucro anual.
Simon sugere um exame da contabilidade das falências de empresas do ramo, como a Tribune, de Chicago, ou a Times Mirror, de Los Angeles. O preço da ação preocupava mais do que o conteúdo, diz Simon. Nas décadas de 80 e 90, o conteúdo foi progressivamente encarado com desprezo, um adorno para anúncios. Quando a internet virou a mesa, os jornais americanos estavam fragilizados e fora de sintonia com os leitores. Mesmo o jornalismo online americano, com reforços recentes, continua a ordenhar a vaca da ‘velha mídia’ e, o que é pior, sem modelo de negócio que represente uma alternativa a curto prazo.
Então, o punhado de rebeldes sem causa devem saber quem são seus companheiros de viagem. Autoridades e políticos corruptos, empresários desonestos, todos os que já voam abaixo do radar da despopulada vigia da reportagem.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira,4 de maio de 2009
CULTURA
Como mudar de fato o financiamento à cultura
‘EM RECENTE manifesto, profissionais de teatro de São Paulo exigiram do Ministério da Cultura o fim da renúncia fiscal e a implantação de um fundo de financiamento direto com recursos orçamentários, regras democráticas e regido por política cultural.
Os manifestantes vivenciam, desde 2002, a Lei de Fomento ao Teatro, na cidade de São Paulo, que, a exemplo do Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre), na cultura, e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), na ciência e tecnologia, comprova ser possível o financiamento público direto no Brasil como alternativa às leis de incentivo fiscal.
Predominantes no país, as leis de incentivo contrariam princípios republicanos ao transferir para empresas a tarefa de definir, com base em critérios privados, individuais e não necessariamente qualificados, quais projetos culturais receberão recursos públicos. O que é saudável e desejável quando o dinheiro é de fato das empresas configura-se aqui como anomalia. O Brasil carece de um modelo de financiamento à cultura de alcance público. Um modelo efetivo de financiamento direto.
O projeto de lei do Ministério da Cultura, em consulta pública, não soluciona as incongruências do modelo atual ao manter os incentivos fiscais e não abordar a mais irracional das leis de incentivo, a Lei do Audiovisual, que remunera empresas pela alocação de recursos públicos.
Sem tocar nas questões de base, a nova lei, se implementada, será mais do mesmo, salvo um aspecto: o fortalecimento proposto do Fundo Nacional de Cultura (FNC), de financiamento direto, que opera desde 1991 com recursos ínfimos e sem regras claras. A efetividade desse mecanismo, porém, depende de uma política cultural e de recursos expressivos e contínuos.
A formulação da política é primordial para reger a destinação dos recursos do FNC, orientando a definição de critérios claros e transparentes para a seleção dos beneficiados e otimizando a alocação dos recursos para atender ao interesse público, afastando também o temido dirigismo cultural.
A política é também necessária para a obtenção de recursos para o fundo. O conflito distributivo do Orçamento exige racionalidade maior que a fundamentação na sugestão da Unesco de 1% para a cultura. Exige responder: recursos para que e para quem?
A resposta virá de uma estratégia para a cultura. A transferência da incumbência sobre os recursos públicos às empresas tem isentado o ministério dessa resposta há 18 anos. É fato que a atual gestão avançou com o Plano Nacional de Cultura e definição de prioridades, mas, para o conflito distributivo, além de priorizar objetivos de acesso ou diversidade, é preciso planejar como estes serão atingidos, com quais ações, critérios, prazos, retornos e indicadores. Disso ainda não há sinal.
Ainda para a obtenção de recursos para o FNC, o ministério deve reconhecer que o atual R$ 1,3 bilhão abatido do Importo de Renda de empresas que se beneficiam das leis Rouanet e do audiovisual faz, sim, parte da conta da cultura e hoje provém de apenas 5% das 400 mil empresas que podem usar o incentivo. Se mais empresas passarem a adotá-lo, a renúncia poderá atingir muito além do atual valor.
Sob a ótica do conflito distributivo, difícil imaginar que o Tesouro, nessas condições, libere novos e expressivos recursos para o FNC.
Se o ministério estiver convencido de que o financiamento direto é o mais adequado, deve propor a transferência gradual ao FNC dos recursos incentivados que hoje não entram nos cofres públicos, definindo tetos anuais decrescentes para a renúncia fiscal. Garantirá assim o controle sobre o montante de recursos públicos para a cultura e a transição entre os modelos com a acomodação dos atuais beneficiados.
É certo que, mesmo de forma gradual, os financiados pelos incentivos fiscais serão contrários à mudança, como já vêm demonstrando desde a publicação do projeto de lei.
Cabe ao próprio meio cultural refletir e defender o investimento público efetivo, como fizeram os profissionais de teatro. Cabe também aos gestores públicos enfrentar posições divergentes em nome do interesse público.
Novamente, uma estratégia para a cultura ajudaria o ministério a demonstrar que alguns de fato vão perder, porque não estão alinhados à política estabelecida, mas que a cultura e os princípios republicanos, certamente, serão fortalecidos.
SHARON HESS, 34, bacharel em administração de empresas, é diretora da Articultura. Fez mestrado em gestão e políticas culturais na City University de Londres (Inglaterra), com tese sobre modelos de financiamento à cultura para o Brasil.’
TODA MÍDIA
Lula no deserto
‘Sob o título ‘O último desafio de Lula’ e destacado pela BBC Brasil, o espanhol ‘El País’ deu análise em que Juan Arias compara ‘as três tentações de Cristo no deserto’ com as ‘provações’ do brasileiro -que sacrificou a direção petista no ‘escândalo de 2005’, recusou um terceiro mandato e agora reagiu à crise. ‘Não sucumbiu a nenhuma’, mas, se ‘com Cristo o demônio se conformou com três, Lula ele não deixa em paz’. O último desafio é o câncer de Dilma.
‘GOOD NEWS’
Em destaque ao longo do fim de semana nas buscas de Brasil, a Bloomberg noticiou que as ações de Petrobras, Vale e outras brasileiras em Wall Street saltaram ao nível mais alto em sete meses, com a perspectiva de demanda maior da China e de retomada do crescimento dos EUA no segundo semestre. A agência sublinhou a boa notícia, ‘good news’, da produção comercial em Tupi.
O SEQUESTRO DA SOJA
Do ‘China Daily’ ao ‘Washington Post’, passando pelo português ‘O Público’, corre mundo o sequestro do graneleiro Ariana, que transporta 35 mil toneladas de soja do Brasil para o Irã, por piratas somalis
IRANIANOS ÀS PORTAS
O ministro do exterior Manouchehr Mottaki deu entrevista à TV estatal, ecoada pela agência iraniana Fars, privada e ultraconservadora, e anunciou ‘novo capítulo’ nas relações entre Irã e Brasil com a visita, no fim de semana, do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em comitiva com 110 executivos de 65 empresas, para reuniões em São Paulo.
Ecoou pela agência chinesa Xinhua, ressaltando que viajam companhias dos setores de petróleo, alimentos, veículos e construção, e pelo indiano ‘Hindu’, dizendo que o Irã ‘corteja agressivamente o Brasil para erguer vínculos com emergentes de maior potencial’.
IRÃ VS. EUA
O canal internacional de notícias do Irã, o estatal Press TV, destacou a resposta de Mottaki à secretária Hillary Clinton, dos EUA. Ela criticou na sexta a crescente presença do Irã -e também da China- na América Latina.
E ele declarou ontem que ela ‘contradiz diretamente o presidente’ Barack Obama, que se declara contrário à ‘interferência dos EUA’.
TEL AVIV-GUARULHOS
Nas buscas de Brasil, a conservadora Israel National News ressaltou que, ‘apesar dos protestos’, Ahmadinejad será recebido por aqui.
Em destaque maior nas buscas, a Jewish Telegraphic Agency deu que a empresa aérea El Al estreou ontem voos regulares entre Tel Aviv e São Paulo, ampliando o ‘fenômeno’ turístico recente voltado à região.
AO SUL
Na manchete da Reuters Brasil ao longo do domingo e ecoando do ‘New York Times’ ao ‘Fantástico’, ‘América do Sul confirma caso da gripe H1N1’ na Colômbia. No site da Agência Brasil, em submanchete na mesma direção, ontem, ‘Brasil ‘seguramente’ terá caso de gripe suína, diz Ministério da Saúde’, em função do grande número de países que já foram alcançados pela doença.
Ontem no ‘Domingão do Faustão’, antes de Ronaldo e da ‘Dança dos Famosos’, foi entrevistado ao vivo, pela Globo, o ministro José Gomes Temporão.
OTIMISMO
O ‘NYT’, que evita destacar a doença desde que surgiram os primeiros casos em Nova York, deu a manchete on-line ‘Casos de gripe aumentam, mas há algum otimismo’, ao menos no México, que diz que ‘o pior já passou’.
Não segundo ‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’, que abriram com o provável anúncio de pandemia e o risco de uma ‘segunda onda’.
QUARENTENA
O ‘China Daily’ de papel deu na manchete o primeiro caso confirmado no país, de um mexicano em Hong Kong. No destaque on-line, depois, as quarentenas decretadas em Pequim e Xangai.
Mas o que ecoa, manchete de Drudge Report e outros, é a quarentena num hotel de Hong Kong. E acusação de México de ‘discriminação contra seus cidadãos’.
BUFFETT E A IMPRENSA
Warren Buffett, bilionário americano, acionista de ‘WP’ e outros, declarou no final de semana, na célebre reunião anual com seus investidores em Nebraska, sobre a imprensa americana: ‘Nós não compraríamos a maioria dos jornais dos Estados Unidos por preço nenhum’. Ele lamenta, pois diz ler cinco jornais por dia. Ecoou por paidContent, HuffPost, ‘NYT’, ‘WSJ’ etc.’
TELEVISÃO
Globo veta comercial gigante em telejorna
‘A TV Globo comunicou ao mercado publicitário na semana passada que deixou de veicular comerciais com mais de um minuto de duração nos intervalos de todos os seus telejornais e do ‘Globo Esporte’.
A medida visa impedir a queda de audiência nos breaks. Alguns telejornais, como o ‘JN’, passam por seus piores momentos no Ibope. Os intervalos dos jornalísticos estão limitados a dois minutos de duração.
‘A qualidade do break também é importante. Não exibimos infomerciais [anúncios com mais de dois minutos]. Temos compromisso com o telespectador e com o anunciante de que o break seja informativo’, afirma Willy Haas, diretor-geral de comercialização.
Haas diz que os intervalos dos telejornais duram só dois minutos por causa ‘da dinâmica’ desses programas: ‘Eles são mais curtos, então temos que valorizar.’ Um anúncio de 30 segundos para todo o país no ‘JN’ custa R$ 367 mil. Na novela das oito, que tem mais audiência, sai por R$ 365 mil.
Nos demais programas, a Globo só aceitará anúncios com mais de um minuto depois de analisar a peça. A regra visa evitar programetes e balanços de prefeituras, por exemplo.
Outra nova regra exige que um comercial que faça chamada para outro (como a nova campanha da Sky) deixe claro que a exibição ocorrerá no ‘intervalo comercial’ de determinado programa.
DÓ-RÉ-MI 1 A abertura do novo programa do vereador Netinho de Paula, que estreia sábado no SBT, foi copiada de um vídeo que está na internet. Na abertura, gravada quinta-feira, bailarinos começam a dançar na estação da Luz, em São Paulo.
DÓ-RÉ-MI 2
Quem viu o material do SBT diz que é igualzinho a um vídeo, de sucesso no YouTube, em que bailarinos, que se passam por passageiros, tomam a estação central de Antuérpia (Bélgica).
MACHADO
O Canal do Brasil vai gravar em junho uma série com cinco contos de Machado de Assis. Cada conto terá um diretor diferente. O elenco de ‘5X Machado’ será composto por atores de Barra do Piraí (RJ), onde será ambientada.
RUSGAS 1
A Globo convidou Aguinaldo Silva para desenvolver um curso para novos autores de novelas. Setores da emissora não gostaram de saber que Silva vai realizar, por conta própria, uma ‘master class’ para ensinar roteiro de novela.
RUSGAS 2
A ideia de Silva é contar com a colaboração dos mais talentosos em suas próximas novelas, mas não ficará chateado se eles forem para a concorrência. ‘Se a Record contratar um deles eu ficarei muito feliz’, diz.
RUSGAS 3
Aguinaldo Silva tem dado demonstrações de que não pretende renovar contrato com a Globo em 2010. Seu projeto é trabalhar para a televisão de Portugal, onde, aliás, já realizou uma ‘master class’.’
Gabriela Romeu
Desenho recorre a referências pop
‘‘Mighty B!’, animação que estreia no Nickelodeon, tem uma mistura da idiotice nonsense de ‘Bob Esponja’ com a hiperatividade das heroínas de ‘As Meninas Superpoderosas’.
Segue a linha que recorre a referências do pop e piadinhas que atraem os já crescidinhos. Em ritmo alucinante, o desenho traz as aventuras da menina Bessie, uma escoteira com espírito de Pollyanna (bem mais ‘vitaminada’), que tem que conquistar milhares de distintivos do escotismo para virar a heroína do título (bom trocadilho para algo como ‘Poderosa B’ e a brincadeira de imaginar o que você pode vir a ser). É claro que tem um trio de malvadinhas do bairro para atrapalhar o caminho da boa menina.
Boazinha, mas tresloucada. A otimista Bessie (usa óculos, é banguela e tem língua presa) não se cansa nunca de suas missões, sempre às voltas com o irmão Benjamin e o cão Feliz. Missões como deixar de lado os brinquedos dos fedelhos e encarar pela primeira vez a montanha-russa no parque. Os melhores momentos são quando a garota de olhos expressivos se vê como a super-heroína, que atravessa as montanhas de San Francisco em um skate. Assim como Bessie, as crianças entre nove e dez anos ainda recorrem à fantasia para encarar o mundo real ou as agruras de ser pré-adolescente.
MIGHTY B!
Quando: de seg. a sex., às 15h30
Onde: Nickelodeon
Classificação: livre’
PATROCÍNIO
Jesus!
‘Empresas que conversaram há alguns dias com a Fifa, entidade máxima do futebol no mundo, sobre a possibilidade de patrocinar a Copa de 2014, que será realizada no Brasil, quase caíram de costas: o preço da cota principal, que dá direito a uma empresa de se apresentar como patrocinadora oficial do evento, gira em torno de US$ 50 milhões. É isso mesmo: de dólares.
SÓ O COMEÇO
E mais: depois de desembolsar esse caminhão de dinheiro, o patrocinador terá ainda que pagar anúncios para TVs, rádios, jornais e revistas caso queira declarar ao mundo que é o patrocinador oficial da Copa. ‘Os US$ 50 milhões servem apenas para comprar o tíquete de entrada. Uma vez dentro, ainda será necessário pagar pela comida e pela bebida’, diz um profissional que acompanhou de perto a movimentação da federação do futebol.
PARA POUCOS
Na previsão de um especialista em marketing, patrocinar a Copa será privilégio apenas das grandes corporações instaladas no Brasil, como teles, bancos ou grandes empresas ligadas à infraestrutura.’
DEBATE
Jornalismo cultural é tema de encontro em SP
‘‘Nos dias de hoje, um novo João Ubaldo teria de se atirar das Torres Gêmeas ou de algo parecido para se fazer conhecido.’ É com esse exemplo que o jornalista espanhol Juan Cruz, 60, ilustra a dificuldade e a negligência dos suplementos culturais para detectar novidades.
Para o escritor, principal convidado do 1º Congresso de Jornalismo Cultural, que começa hoje, a multiplicação de assuntos e tendências potencializada pela internet não tem encontrado eco nos meios impressos.
‘Os cadernos de cultura estão ficando todos iguais. Os nomes reverenciados são sempre reverenciados e a novidade tem pouco espaço. Isso é um fenômeno mundial’, disse à Folha.
A explicação para tal fato, em sua opinião, é que, diante da cada vez mais difícil tarefa de identificar movimentos nas artes, os editores ‘se garantem apoiando-se no que é mais fácil’. A saber, apostam no que já foi ou é bom e conhecido e não se arriscam a tratar do que está por revelar-se, e que pode tanto ser bom como ruim.
Cruz concedeu entrevista por telefone, de Buenos Aires, onde ocorre, até 11 de maio, a feira do livro local (www.el-libro..org.ar). E usou-a como referência. ‘A quantidade de escritores e livros aqui é imensa, e os jornais locais entrevistaram as mesmas pessoas.’
E complementa: ‘Para um artista jovem se destacar nos dias de hoje, é preciso que aconteça com ele algo surpreendente e não necessariamente relacionado à sua obra’.
Cruz nasceu em Tenerife, é diretor-adjunto do diário ‘El País’, para o qual também faz entrevistas e artigos sobre cultura, e possui um blog (blogs.elpais.com/juan-cruz).
Entre 1992 e 1998, foi diretor da editora Alfaguara, o que o aproximou de grandes nomes e revelações da literatura hispânica e latino-americana.
Também escreveu livros, como ‘Toda la Vida Preguntando’, em que fala sobre as pessoas que conheceu em seus mais de 40 anos de carreira.
Entre seus entrevistados estiveram o cineasta sueco Ingmar Bergman e escritores como o peruano Mario Vargas Llosa e o uruguaio Juan Carlos Onetti. ‘É o tipo de jornalismo que gosto de fazer, um jornalismo de conversas’, resume.
Confidências
Outra constatação negativa que Cruz faz sobre o jornalismo dos nossos dias é a valorização das confidências e dos rumores. ‘A internet traz isso à tona, cria ou reforça detalhes atrativos e faz com que circule rapidamente.’ Porém, diz, a rede não seria a única culpada. A reação dos que lidam com o noticiário ‘sério’ deveria ser mais rigorosa. Ao conferir credibilidade a fontes incertas, prejudica-se o bom jornalismo.
‘Muitas vezes vejo que nem sequer há a preocupação de atribuir crédito a quem dá a informação. Os jornais estão cheios da palavra ‘fontes’, de origem não identificada’.
Por fim, considera que a saída é fortalecer as marcas dos grandes jornais, para que imprimam respeito ao publicado.’
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