Encontrar um equilíbrio entre quantidade e qualidade de informação disponível nos dias de hoje é uma tarefa muito complexa para qualquer pessoa que queira analisar a imprensa no Brasil. Contudo, se forem acrescentadas a esta análise aspectos políticos, culturais, econômicos e da finalidade da imprensa, torna-se quase impossível se chegar um diagnóstico preciso e definitivo.
Se, no passado, a escassez de informação era um dos principais motivos para a alienação das pessoas, agora a ignorância se justifica no excesso de informação. Portanto, onde estaria o maior problema: com o público consumidor de informação ou com os responsáveis por produzir informação? Ambos têm responsabilidade, mas o papel da imprensa é informar e, consequentemente, ajudar a formar cidadãos. De fato, ela tem feito isto, mas de forma parcial, o que é absolutamente abominável. Ressalvadas as exceções, o que estamos assistindo literalmente na imprensa é uma irresponsável abordagem baseada no leilão, escolhendo o que informar, quando informar e de que maneira informar, conforme quanto recebe e de quem recebe em troca de publicidade.
As emissoras de Rádio e TV, especificamente, ignoram que só estão em atividade por causa de uma concessão pública. A contrapartida desta permissão é fornecer informação com qualidade, equilíbrio e isenção. A imprensa precisa se posicionar, mas não para este ou aquele lado como temos visto no Brasil e, também no mundo. Os critérios basilares da imprensa sempre foram a verdade, a relevância, o interesse público e a atualidade. No entanto, enfrentamos um bombardeio audiovisual com tudo que é superficial, fútil, comum, privado, além de incompleto, parcial e, frequentemente mentiroso.
Em 2020, testemunhamos a união dos conglomerados de imprensa para noticiar diariamente a guerra contra uma grave pandemia. Era necessário. Desta forma, também é imprescindível uma grande articulação da imprensa brasileira para notificar e noticiar, todos os dias, o que está sendo feito para prevenir as 30 mil mortes de motociclistas no trânsito por ano no Brasil. Ou talvez informar dia-a-dia sobre a contabilidade de pessoas que são internadas ou morrem nas últimas 24 horas por causa do hábito de se alimentarem com mais gordura, açúcar e sal do que precisam. Ou, ainda, informar, com entusiasmo, a cada dia que uma cidade concluiu finalmente as obras de saneamento básico, tendo em vista que 1 em cada 4 brasileiros ainda não tem esgoto canalizado nem água tratada.
Portanto, é em razão da quantidade exorbitante de dados disponíveis, além da proliferação de notícias falsas e da baixa qualidade das informações que as pessoas já não sabem em que fonte confiar e decidem rejeitar todas elas, negando-se a receber qualquer informação. O desafio é saber como reverter isso, pois a credibilidade da imprensa, o desenvolvimento de um país democrático e a noção de cidadania sempre estarão entrelaçados para o bem e para o mal.
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Aílson Santos é jornalista, de Belo Horizonte – MG, com 27 anos de experiência, foi produtor e apresentador da Rede Globo Minas, repórter e produtor da Rede Minas. É especialista em Jornalismo em Ambiente Digital e Possui MBA em Comunicação Corporativa. Há 15 anos atua como consultor em comunicação para diversos segmentos do setor privado, além do setor público.