Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Mc Fióti feat. Butantã

(Foto: Divulgação)

A música “Bum Bum Tam Tam” criada e interpretada por Mc Fióti, pseudônimo usado por Leandro Aparecido, está novamente em evidência, principalmente agora com o início do processo de imunização da população brasileira contra a Covid-19
A melodia criada por Fióti utiliza uma amostra, um sample, de “Partita em Lá menor para flauta solo” de Johann Sebastian Bach, para criar o som da “flauta envolvente que mexe com a mente”, como versa o início da letra.

Vale dizer que o Hip Hop historicamente utiliza esse recurso, a partir do sampler (a máquina que manipula os sample), que durante muitos anos foi considerado violador dos direitos autorais pela indústria fonográfica, mas que nesse caso está plenamente em conformidade com o sistema de propriedade intelectual vigente, pois a obra do compositor alemão, que morreu em 1750, está em domínio público.

Vivemos, atualmente, uma segunda onda de sucesso da obra musical de Fióti, que explodiu em 2017, atingindo a impressionante marca de mais de 1,5 bilhão de visualizações, só no YouTube, a partir do Canal do KondZilla, um produtor de vídeos da cena de funk paulista, espécie de midas dos negócios de música.

Agora, em 2021, a música ganhou uma nova feição, pois, a partir de um meme, transformou-se no hino da vacina contra a Covid-19 produzida pelo Instituto Butantã, sendo sincronizada em milhares de vídeos que viralizaram nas redes sociais.

É claro que o artista não se importou com a utilização de sua música nesse contexto, muito pelo contrário, até fez campanha pró-vacina.Aliás, seria até contraditório com o seu meticuloso trabalho de pesquisa — que o levou até Bach, por intermédio da criação de Dr. Dre. — caso ele reivindicasse uma visão patrimonialista de sua obra intelectual, o que não ocorreu.

A associação da letra e do beat com o nome do Instituto fez tanto sucesso que MC Fióti já anunciou que gravará uma nova versão do videoclipe dentro da instituição de pesquisa. É, sem dúvida, a parceria do ano.

A imagem desse feat. é muito poderosa, pois simboliza a vitória da Ciência contra o obscurantismo, lembrando que nos últimos anos o discurso científico vem sendo criminalizado e marginalizado, numa inoportuna campanha difamatória, algo que, infelizmente, já é bastante conhecida pelo mundo do funk, fazendo, inclusive, parte do seu DNA.

Em tempos de terraplanismo, celebrar esse momento através da potente obra de um jovem artista periférico aponta para um caminho de esperança e renovação para 2021.

Viva o Butantã! Viva o Bum Bum Tam Tam!

***

Mário Pragmácio é professor do Departamento de Arte da UFF, conselheiro do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais (IBDCult), mestre em Museologia e Patrimônio, especialista em Patrimônio Cultural e doutor em Teoria do Estado e Direito Constitucional.