A fraca memória do povo brasileiro é algo interessante. Em setembro de 2006, uma bomba estourava nas redações por todo o país. O assessor especial da Presidência, Freud Godoy, saía do anonimato do cargo de segundo escalão para o estrelato dos escândalos políticos. Seu crime era ser o mandante da criação de um dossiê onde o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, era acusado de estar envolvido com a máfia dos sanguessugas. Lembram? Na época, a grande imprensa não se importou muito com o possível envolvimento de Serra com o esquema descoberto pela Polícia Federal. Todos se concentraram em descobrir provas sobre o envolvimento de Freud, ou Froude, na compra de informações privilegiadas junto à Polícia Federal. Afinal, era 1,75 milhão de reais por um documento.
A BBC Brasil divulgou uma previsão do cientista político João Paulo Peixoto, na qual as denúncias contra o assessor do presidente não afetariam na eleição de Lula sobre Alckmin e ele deveria vencer ainda no primeiro turno. Isso não aconteceu.
Mas por que ressuscitar esse caso, há tanto esquecido? Quem se lembra de Freud ou de sua contribuição para a campanha adversária? Eu lembro. Lembro que na época, a imprensa, inclusive a Folha, procurava atribuir ao presidente da República e a seus candidatos a governos estaduais a responsabilidade pela criação desse dossiê.
Mentiras e tráfico de influência
Eliane Cantanhêde, coincidentemente da Folha, escreveu um texto a ser lembrado agora. O título: ‘A quem interessa?‘. Em sua obra, ela procura culpar Lula pelo caso do dossiê. Só para relembrar:
‘(…) Se aparecer algo contra Serra, a PF vai mostrar e a imprensa vai divulgar. Mas o que há até agora, mais uma vez, é o PT jogando sujo e, depois, se virando para livrar a cara de Lula. Na eleição pode colar. Mas a história não acaba aí. Se vier, o segundo mandato virá com `esqueletos no armário´ pavorosos (…).’
Notem que era o PT jogando sujo no dia 21 de setembro de 2006. E agora? A quem realmente interessa esse escândalo falso e ridículo orquestrado pela Folha? A mesma defensora da moral e dos bons costumes de 2006 parece ter esquecido o seu próprio passado e, infelizmente, o ‘esqueleto no armário’ tomou corpo contra seu criador, assim como o monstro de Frankenstein.
A Folha não errou, ela acertou em cheio. Criou a imagem da ex-guerrilheira que almeja ser a primeira mulher presidente do país. Só que a época da Folha passou. Vivemos na era da informação em real time e seus ‘erros’ são mais facilmente desmascarados pela internet. Por isso, caro leitor, pergunte-se somente uma coisa: a quem interessa? Com isso teremos a certeza que o ‘jogo sujo’ de Cantanhêde é muito mais sujo do que parece. Envolve mentiras, tráfico de influência e meras erratas de cantos de páginas. Se Dilma fez guerrilha, a Folha ainda o faz.
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Estudante de Propaganda e Marketing da Faculdade 2 de Julho, Salvador, BA