O conflito entre as etnias han e a muçulmana uighur na China quase não foi divulgado pela mídia estatal, mas fotos e relatos espalhados rapidamente na internet ajudaram a dar início a violentos protestos na região de Xinjiang, a quilômetros de distância do ponto inicial. As novas manifestações deixaram mais de 150 mortos. Na China – assim como no Irã pós-eleições presidenciais –, a internet e as redes sociais vêm desempenhando um papel central de mobilização popular. ‘Na era da internet, lugares como Xinjiang ou Tibete, que antes eram considerados locais remotos, podem rapidamente se tornar imediatos e próximos às pessoas em todo o mundo’, diz Xiao Qiang, diretor do Projeto de Internet China Berkeley, da Universidade da Califórnia em Berkeley. No entanto, desde que os protestos eclodiram em Urumqi, capital de Xinjiang, de maioria muçulmana, o governo chinês bloqueou ferramentas online como Twitter e Facebook, fechou sítios de notícias e cortou a internet e linhas de telefones celulares, na tentativa de impedir os relatos sobre a violência. Filtros foram ativados, para que procuras em serviços de busca para ‘Xinjiang’ e ‘Uighur’ só mostrassem informações que confirmassem a versão oficial. O poder da rede A mídia estatal divulgou, inicialmente, que apenas duas pessoas haviam morrido no primeiro confronto entre as etnias, ocorrido no dia 25/6 em uma fábrica de brinquedos. Na semana seguinte, fotos na internet mostravam pelo menos seis corpos de pessoas da etnia uighur, ao lado de membros da etnia han, o maior grupo étnico da China. Foi o suficiente para dar início aos novos protestos – desta vez, bem mais violentos. Membros da etnia uighur usaram fóruns online para organizar manifestações de vingança. Uma década atrás, a China não tinha conexões de internet e informações sobre um conflito semelhante foram pouco divulgadas. Hoje, virou prática comum do governo o corte de linhas de celular e conexões à rede. As autoridades chinesas haviam feito o mesmo em março, por conta de protestos antigovernamentais em áreas tibetanas. Mas o tiro, muitas vezes, pode acabar saindo pela culatra. ‘Quanto mais você tenta policiar a rede e apagar informações, mais os rumores viram verdade e as pessoas escolhem no que querem acreditar’, avalia Qiang. ‘Estas são as conseqüências negativas deste controle’. Informações de Alexa Olesen [Associated Press, 7/7/09].