Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Apatia e abulia na formação política cidadã

Na Pós-Modernidade, a mídia e a política mantêm uma promíscua relação. Na busca constante pela audiência e, conseqüentemente, pela elevação das cifras numéricas de suas contas bancárias, os veículos de comunicação proliferam informações direcionadas pela espetacularização. Infelizmente, os medias ‘fagocitaram todos os espetáculos originados fora do ambiente mediatizado’ (RUBIM, Antônio Albino Canelas).

Debates democráticos sobre o governo anteriormente ocorridos em esferas públicas como praças, ruas, passeatas, comícios, barricadas, cafés e parlamentos, pautam-se com o novo modo de vida da sociedade capitalista, cuja ‘única meritória dos indivíduos é produzir, distribuir e consumir bens e serviços’ (BENEVIDES, Maria Victoria), em notícias veiculadas pelos veículos de comunicação.

A espetacularização midiática somada à abulia política, ‘falta de reconhecimento e estima coletiva para atividades de participação cidadã’ (MODESTO, Paulo), compromete a democracia, ‘regime fundamentado na soberania popular e no respeito integral aos direitos humanos’ (BENEVIDES, Maria Victoria).

Pautada por uma linha editorial fundamentada por interesses comerciais, uma parcela considerável dos medias, ao noticiar fatos sem investigação, contextualização e baseados em denúncias obscuras, ‘reduz a política ao que ocorre na tela’ (RUBIM, Antônio Albino Canelas), abandonando, desta forma, seu papel social de contribuir para a educação política cidadã.

Suprir lacunas deixadas pela imprensa

Ao oferecer concisos elementos para que a comunidade compreenda a política através de reportagens respaldadas por informações claras, porém analíticas, os medias tornam o cidadão apto a lutar pela garantia dos interesses coletivos.

‘A informação não é tratada como um produto mercadológico, mas, essencialmente, como instrumento para o exercício da cidadania e para uma cultura política participativa’ (BARROS, Antônio Teixeira de; BERNADES, Cristiane Brum).

Embasado nestes singulares princípios, o Congresso em Foco, site jornalístico criado em fevereiro de 2004, acompanha a rotina do Congresso Nacional. Embora tenha dado vários furos jornalísticos, o mais recente deles a ‘farra das passagens aéreas’, fonte para manchetes dos principais veículos de comunicação brasileiros. O Congresso em Foco pretende, segundo o seu editorial, suprir as lacunas deixadas pela tradicional cobertura da imprensa. ‘Queremos aumentar o conhecimento das pessoas sobre o Congresso para que ele seja melhor. Queremos discutir saídas para o Congresso, e não pensar a idéia de que está tudo perdido’ (MAGALHÃES, Luiz Antônio).

‘Súditos dóceis ou indiferentes’

Em matérias imbuídas de importantes informações sobre decisões tomadas diariamente por nossos governantes, a população conta com concisos elementos para libertar-se da apatia e abulia política, transformando-se em um formador de opinião pública.

‘Para formar o cidadão, é preciso começar a informá-lo – a falta ou insuficiência de informações reforça as desigualdades, fomenta injustiças e pode levar a uma verdadeira segregação’ (BENEVIDES, Maria Victoria).

A partir da ‘necessidade da formação de cidadãos ativos, participantes, capazes de julgar e escolher – indispensáveis numa democracia, mas não necessariamente preferida por governantes que confiam na tranqüilidade dos cidadãos passivos, sinônimos de súditos dóceis ou indiferentes’ (BENEVIDES, Maria Victoria), jornalistas de todo o Brasil deveriam nortear-se pelo exemplo do Congresso em Foco e reproduzir a experiência, em escala local ou regional, constituindo ‘Um novo caminho para o jornalismo no interior‘ e, conseqüentemente, gerando ‘Lições de cidadania em São Bento do Una‘.

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Jornalista, blogueira e assessora de comunicação freelance, Pedro Leopoldo, MG