A volta do jornalista David Rohde à redação do New York Times, na semana passada, foi emocionante, relatou em sua coluna de domingo [5/7/09] o ombudsman do diário, Clark Hoyt. Houve aplausos, lágrimas e abraços para ele e Tahir Ludin, jornalista afegão com quem Rodhe conseguiu escapar do cativeiro onde estava há mais de sete meses, no Paquistão, detido por forças talibãs.
Em novembro do ano passado, repórteres ocidentais no Afeganistão souberam que Rohde, Ludin e o motorista que os acompanhava, Asadullah Mangal, haviam sido sequestrados, mas não escreveram nada sobre o assunto, a pedido do New York Times, pois os captores haviam demandado silêncio absoluto. ‘Ao desafiar os sequestradores, poderíamos causar a morte de David’, explica o editor-executivo do diário, Bill Keller.
Agora que Rohde e Ludin estão livres – segundo Rohde, Mangal optou por ‘não tentar fugir’ –, surge a questão: Keller e o NYTimes fizeram certo em não escrever sobre o sequestro?. ‘Debatíamos sobre isto constantemente e repensávamos freqüentemente a nossa decisão’, diz Keller. ‘Mas nunca saberei com certeza qual foi o impacto deste silêncio na vida de David’. Mesmo depois de os sequestradores terem enviado fitas no que parecia ser uma tentativa de obter publicidade do caso, não houve cobertura, porque Keller achou que inicialmente a ordem de silêncio havia sido explícita.
Força tarefa
O NYTimes acabou fazendo um grande esforço para cumprir esta ordem e não deixar que nenhuma informação escapasse para a internet. O jornalista independente Michael Yon, que escreveu um post sobre o sequestro em seu blog, recebeu o pedido de imediatamente retirar o comentário do ar. Jimmy Wales, co-fundador da Wikipedia, ficou encarregado de deixar de fora a palavra ‘sequestro’ no verbete sobre o jornalista, mesmo quando usuários-editores tentaram postá-la.
Michael Moss, repórter do NYTimes, editou o verbete de Rohde na enciclopédia online para sobressair que sua cobertura era favorável aos muçulmanos e para remover a informação de que ele já havia trabalhado para o Christian Science Monitor, jornal publicado pela Igreja da Ciência Cristã. Moss e a porta-voz do diário, Catherine Mathis, convenceram um grupo de jornais de New England a tirar do ar informações e fotos do casamento do repórter, para que os sequestradores não tivessem informações pessoais sobre ele. ‘Estava agindo como amigo de David, e não pensando na Primeira Emenda’, justifica Moss.
Alguns leitores criticaram a atitude do diário em não cumprir a obrigação fundamental de informar a fim de proteger um dos seus membros. Keller garante que, quando sequestradores fazem um pedido de silêncio, ele é respeitado, mesmo quando não se trata de jornalistas.