Com menos revisores editoriais (copy editors, em inglês), a probabilidade de erros é maior no Washington Post, admite o ombudsman do diário, Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [5/7/09]. É possível enumerar exemplos de informações errôneas publicadas pelo jornal nas últimas semanas: uma chamada da capa da seção metropolitana para uma matéria dirigia os leitores à página B3, mas não havia nada no local indicado; na mesma seção, uma frase terminava no meio; a palavra ‘Corps’ saiu ‘Corp’, sem o ‘s’; já ‘Rosslyn’ apareceu como ‘Rossyln’ quatro vezes.
A quantidade de erros deste tipo aumentou nos últimos meses, assim como o número de leitores que entram em contato com o ombudsman para reclamar de erros pequenos de digitação e de falta de revisão. ‘Como um assinante de longa data, fico triste em ver a qualidade da revisão cada vez mais pobre no Post‘, desabafou o leitor Richard Murphy. ‘Se erros como este não são vistos em softwares de edição, é melhor o Post recontratar alguns revisores’.
Segundo Alexander, os revisores editoriais do Post são os melhores com os quais ele já trabalhou em quatro décadas de carreira jornalística. No entanto, eles foram afetados pelos cortes nos custos do diário. São poucos os que permanecem no cargo, mesmo com o turno de operações de notícias tendo aumentado para 24 horas, com a união das versões impressa e online.
Entre 2005 e 2008, o número de revisores em tempo integral caiu de 75 para 43, por meio de demissões voluntárias ou não voluntárias. Desde então, este número é ainda menor, mas a administração do diário não sabe precisar a quantidade atual exata, pois seis aceitaram recentemente o plano de demissão voluntária. A necessidade deste cargo é tão crítica que a maior parte dos que saíram do Post está voltando ao batente por meio de contratos temporários.
Últimos na ‘cadeia jornalística’
Os revisores são desconhecidos do público e, em geral, o cargo não tem lá muito prestígio dentro dos jornais, mas eles estão na última linha de defesa da ‘cadeia jornalística’ para evitar uma futura correção ou, no pior dos casos, um processo por calúnia ou difamação. Além de ter a visão aguçada para erros de ortografia e de digitação, eles também escrevem manchetes e legendas, diagramam algumas páginas, conferem dados e garantem a validação de citações. ‘Você verá mais erros quando há poucos revisores’, observa Bill Walsh, revisor-chefe da seção A.
Pequenos erros acabam tendo um grande efeito na credibilidade de um veículo de comunicação. Um estudo sobre credibilidade realizado há uma década revelou que ‘cada palavra escrita errada, construção gramatical mal feita ou frase truncada prejudica a confiança que o leitor tem na capacidade do jornal’. ‘Se os leitores não podem confiar na nossa precisão, como vão pegar o jornal para ler?’, questiona Chris Wienandt, editor do Dallas Morning News e presidente da Sociedade de Revisores Editoriais dos EUA, que tem cerca de 600 membros. Para ele, ferramentas tecnológicas, como programas de computador que conferem erros de ortografia ou gramática, têm valor limitado. ‘Eles não vão notar a diferença entre Michael Jackson e Michael Jordan. Um revisor vai’, exemplifica.
Esta semana, o Post deu início ao ‘setor universal’ (universal desk, em inglês), com o objetivo de centralizar e tornar mais eficiente o processo de edição de matérias nas versões online, impressa e para aparelhos móveis – o que, prevêem os revisores, aumentará a possibilidade de erros escaparem. O editor-executivo Marcus Brauchli especula que, ao longo do tempo, este ‘setor universal’ será mais efetivo para servir às diversas versões do diário.