Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ou mea-culpa ou cadeia

Quem teve a infelicidade de acompanhar na noite de domingo (14/11) as cenas de pugilato registradas pelo Sportv na chegada dos jogadores do Flamengo ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio, é testemunha: a mídia colheu o que plantou.

Torcedores tresloucados agrediram os jogadores, que revidaram aos socos e pontapés. Mas como? Só porque o Flamengo perdeu de 6 x 1 para o Atlético-MG?, perguntará o leitor estupefato.

Não. Nas últimas semanas, colunistas e repórteres, a maioria flamenguista, vêm sistematicamente instigando os torcedores do Flamengo contra o time. A crônica esportiva do Rio deixou de ser imprensa há tempos, para virar torcida. Não faz avaliações técnicas das partidas ou dos jogadores: simplesmente malha pessoas, em termos pesados, cheios de desprezo e até ódio, como torcedores comuns. Na noite de domingo, já em casa, o jogador Douglas Silva contou chorando ao Sportv, pelo telefone, que ouviu um radialista oferecer dinheiro a torcedor que batesse em jogador, especialmente em Felipe.

Enquanto a técnica repetia incessantemente as imagens da violência no aeroporto, o apresentador do programa Troca de passes dizia compungido que tais cenas não podem voltar a acontecer. Mas não reagiu com indignação quando um dos comentaristas do programa, flamenguista assumido, disse que as tais cenas só não se repetirão ‘se o time jogar um pouquinho melhor’.

Um basta

Como? Quer dizer que um time que joga mal deve apanhar da torcida? Que é isso, ameaça? O que devem fazer então os gremistas, que estão na lanterna do Campeonato Brasileiro? Espancar os jogadores do Grêmio? E os atletas dos times que caem para a Segunda Divisão, devem ser executados?

Como tricolor, saio em defesa da torcida do Flamengo: ela não tem culpa. São pessoas descompensadas emocionalmente, incapazes de dar ao esporte seu peso devido, porque insufladas pela mídia esportiva que instiga, provoca, incentiva e estimula ações e reações violentas. As cenas de domingo, porém, são suficientes para um basta. O Ministério Público bem poderia se debruçar sobre essa crise gravíssima.

Ou a mídia faz mea-culpa ou se apresenta ao delegado, pois a cadeia é o lugar para açuladores de ódios.