Milhares de manifestantes ocuparam a Piazza del Popolo, em Roma, para protestar contra a interferência do governo na cobertura da imprensa italiana. Organizadores estimam a participação de pelo menos 300 mil pessoas; a polícia afirma que o número chegou a 60 mil. Segundo Franco Siddi, secretário geral da Federação de Imprensa Italiana, a idéia do protesto surgiu depois de diversos episódios sugerindo que o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi estaria tentando pressionar veículos de mídia do país.
Um dia antes da manifestação, ocorrida no sábado [3/10], Berlusconi minimizou a mobilização popular, classificando-a de ‘uma verdadeira farsa’. ‘A liberdade é maior na Itália do que em qualquer outro país ocidental’, declarou o premiê durante uma convenção política ao norte do país. Acusações de conflito de interesses acompanham a carreira política de Berlusconi, que é proprietário das principais emissoras de TV italianas e de um império editorial. O governo também supervisiona o conteúdo do canal estatal RAI.
Processos
Nos últimos meses, o primeiro-ministro, envolvido em uma série de escândalos sexuais com mulheres mais jovens, tem perdido a paciência com a mídia européia. A mulher de Berlusconi pediu publicamente o divórcio depois de reportagens com fotos mostrando o marido no aniversário de uma aspirante a modelo de 18 anos. Logo em seguida, uma prostituta de luxo foi a público contar das animadas festas com mulheres na casa do premiê. Até a Igreja Católica se meteu na história, afirmando que Berlusconi passou dos ‘limites de decência’.
Em agosto, o político se irritou e abriu ações por difamação contra empresas de mídia na Itália, Espanha e França. O diário italiano La Repubblica é processado por publicar uma lista de 10 questões sobre a vida privada de Berlusconi. ‘Esta é a primeira vez que um político tem tanto medo de perguntas feitas por um jornal que tem que levá-lo ao tribunal por causa disso’, ironizou, em um artigo publicado na semana passada, o editor Ezio Mauro. Esta não é a primeira vez que o premiê é acusado de tentar intimidar quem o critica na mídia. No passado, jornalistas que cruzaram seu caminho também enfrentaram ações, e, em 2002, três personalidades televisivas foram tiradas do ar depois de criticá-lo na RAI.
Na manifestação de sábado, Siddi afirmou à multidão que, ‘se o rei está nu, temos que dizer que está nu’. ‘E isso vale para todos, até o premiê’, completou. Informações de Elisabetta Povoledo [The New York Times, 4/10/09].