Com o Globo destacadamente na dianteira, provavelmente por influência de alguns colunistas mais ocupados com o tema sustentabilidade, a chamada grande imprensa brasileira começa finalmente a participar mais ativamente dos debates sobre a proposta brasileira para a cúpula mundial sobre mudanças climáticas, marcada para dezembro em Copenhague.
A questão do protagonismo da imprensa, em si, ou seja, se a imprensa deve ou não intervir diretamente nos debates públicos sobre a questão ambiental e o modelo de desenvolvimento a ser adotado pelo Brasil, é questão superada. Se os meios de comunicação já editorializaram há muito tempo outros assuntos, como política e economia, torna-se bizantino discutir se a imprensa deve ou não tomar posição ativa e declarada na questão da estratégia de desenvolvimento.
A observação do noticiário revela claramente que, dos três jornais considerados de influência nacional, o Estado de S.Paulo é o que dá mais espaço às propostas do setor ruralista, plenamente identificado com o retrocesso. É provável que as raízes do jornal, muito fortemente vinculadas aos grandes produtores paulistas, ainda estejam influenciando suas escolhas editoriais.
A Folha de S.Paulo, diário mais urbano e com relações menos profundas no meio agropecuário – apesar de seus proprietários já terem possuído uma granja de grande porte – poderia transitar mais livremente pelo assunto, mas sua pauta continua sendo empurrada pelos acontecimentos, e não costuma surpreender os leitores com abordagens mais interessantes.
Falta explicar
O Globo, de longe o grande jornal brasileiro que oferece a cobertura mais ampla sobre a questão da sustentabilidade, não parece ter satisfações a dar aos inimigos declarados do patrimônio ambiental e vem oferecendo uma visão mais abrangente do desafio brasileiro para Copenhague. A reportagem de página inteira publicada na sexta-feira (6/11), com um grande e informativo infográfico sobre o problema das emissões de gases nocivos, é um exemplo de esforço para incluir o leitor no debate.
O que ainda falta à imprensa brasileira é contextualizar a questão climática na temática geral da agenda pública. Ou seja, falta explicar ao leitor a relação direta entre preservação ambiental e economia sustentável, entra a preservação da Amazônia e o combate aos problemas sociais do país.
Mas isso leva tempo e dá trabalho.