Para a grande imprensa paulistana, não existe violência urbana nem crime organizado. Estes são ‘fenômenos’ cariocas. Para os mundaníssimos jornalões da Paulicéia, chacinas, assaltos a condomínios, arrastões, seqüestros e latrocínios são ‘baixarias’, coisa que só interessa à ‘gentinha’ e não aos seus qualificados leitores.
O novo e audacioso assalto a um carro-forte em Araras, perto de Campinas, ocorrido no fim da tarde da quinta-feira (5/11) só foi noticiado pela Folha de S.Paulo e pelo Estado no sábado (7).
Ao longo do dia anterior, os portais de informação da internet fartaram-se de ‘comer mosca’, embora as rádios ao longo do dia estivessem muito ativas investigando o roubo de quase 6 milhões de reais e a primeira ‘bala-perdida’ de que se tem notícia nestas prósperas bandas.
As autoridades policiais acreditam que os bandidos fazem parte da mesma quadrilha que, três semanas antes, em Amparo, atacou e roubou outro carro-forte também utilizando uma metralhadora pesada. Mas isto não interessou à mídia digital, a mídia da modernidade (ver ‘Ctrl C, Ctrl V: notícia que é bom, nada‘).
Olho nos anúncios
O mais grave, porém, aconteceu no domingo (8), depois que os jornalões afinal acordaram da letargia: o fato havia sumido, evaporou-se, como se nada tivesse acontecido. Como se a polícia inteira estivesse de folga, como se as redações estivessem trancadas e os jornais fechados para balanço.
No sábado, a Folha dedicou três páginas ao assalto, o Estadão usou duas, capas inclusive. A omissão do domingo não ocorreu por falta de espaço: o ‘Cotidiano’ da Folha estendia-se ao longo de três cadernos.
Seria incúria, incompetência ou ordens do Departamento Comercial para não macular com sangue os fascinantes anúncios de lançamentos imobiliários?
Qualquer que seja a razão, está ficando claro que o Rio pode ser a capital do crime organizado. Mas São Paulo é a capital da imprensa desorganizada.
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