Trabalho apresentado durante mesa-redonda sobre Jorge Calmon promovida pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), realizada no salão nobre no dia 26 de outubro de 2009. O evento serviu para marcar o lançamento do livro Jorge Calmon, o jornalista, organizado por Edivaldo Boaventura. Jorge Calmon trabalhou no jornal A Tarde de 1934 a 1996. Ele nasceu em 7 de julho de 1915 e morreu em 18 de dezembro de 2006
O objetivo deste trabalho/depoimento é acrescentar aspectos sobre como Jorge Calmon via e pensava o jornalismo e o jornalista, que não tenham sido contemplados no livro intitulado Jorge Calmon, o jornalista, organizado pelo professor Edivaldo Boaventura e que o IGHB está lançando [26/10/2009]. Assim sendo, apresento aqui uma visão geral de seus ensinamentos sobre o que é ser jornalista e o que é o jornalismo.
Em seu discurso de posse na Academia de Letras da Bahia, em julho de 1965, Jorge Calmon definiu o jornalista como sendo…
…o depositário do contrato feito pela sociedade com uma instituição particular – a imprensa – para que proteja o interesse público, fiscalize os governos, denuncie os abusos, clame contra as violências, ampare as liberdades, advogue pelos desprotegidos, zele pelo Direito, propugne pelo progresso, pela prosperidade coletiva para a construção pacífica e harmoniosa do futuro (Calmon, 1970).
Com plena consciência da dimensão dessa definição, Jorge Calmon gostava de ser identificado como jornalista, porque sempre foi homem de jornal. Não hesitava em afirmar: ‘Jornalista tenho sido, mais que qualquer outra coisa, no terreno das letras’. Gostava de transformar suas idéias, opiniões, fatos e histórias em sinais gráficos, publicar em letra de forma. Como também gostava de ver publicado no jornal que dirigia, o jornal A Tarde, criado por Ernesto Simões Filho, textos bem escritos, notícias bem apuradas, verdadeiras e dentro dos princípios éticos.
O ato e a prática de escrever, diariamente, como hábito e dever, além de ler bons autores, era o que aconselhava, principalmente aos principiantes, como o meio mais eficaz para melhorar a qualidade do texto e ingressar na arte de bem dizer. Para ele a primeira regra para dominar a ‘arte de bem dizer’ é ter perfeito conhecimento da gramática, escrever com naturalidade e simplicidade:
…se na prosa literária o emprego de palavras não-usuais é desaconselhável, na linguagem jornalística isso se torna uma aberração, pois o texto da notícia, ou do comentário, há de ser despojado, a modo do falar coloquial. O leitor de jornal não deve precisar de dicionário. […] Sem prejuízo dos elementos essenciais da notícia, o jornalista deve ter a liberdade de escrevê-la conforme entenda que há de chegar ao leitor. Para gozar dessa liberdade, ele precisa adquirir autonomia de texto, vale dizer que seja capaz de produzir texto definitivo, dispensado de revisão e correção (Calmon, 1999).
Visto sob este ângulo, ele acreditava que um jornalista só obteria sucesso na profissão quando tivesse conquistado plena autonomia de texto. Cometer erros elementares na redação de qualquer texto jornalístico era considerado como ‘conseqüência de desleixo, inapetência, falta de auto-estima’. Só depois da almejada autonomia de texto, o jornalista poderia se aventurar em outros gêneros jornalísticos que não apenas o informativo. Para Jorge Calmon, o gênero opinativo ‘é o mais importante, e, ao mesmo tempo, o mais delicado da ética da comunicação’, porque é o espaço no qual o jornalista pode exercitar um dos papéis mais elevados do jornalismo, no qual ele passa a ser o ‘porta-voz de sua comunidade, para comentar os grandes fatos correntes, emitindo seu ponto de vista, que há de coincidir com o pensamento… [de seus] leitores’.
Comunicação honesta
As quatro funções sociais básicas do jornalismo são: educar, informar, fiscalizar e entreter. Para bem desempenhar essas funções, portanto, a ética é imprescindível. Jorge Calmon tinha consciência disso e alertava:
…quando o jornalista se apresenta como fiscal da gestão de assuntos públicos […], quando denuncia ou censura, não pode ter rabo-de-palha, encontrar-se exposto a justificado descrédito. Nem deve esperar, de parte da coletividade, retribuição, sob qualquer forma, pelo seu trabalho de saneamento da vida pública. Por mais útil que seja à sociedade, o jornalista dificilmente será estimado. Esta é, todavia, uma regra que comporta exceções (Calmon, 1999).
Neste ano de 2009, o jornalismo sofreu um retrocesso a partir do momento em que a o Tribunal Superior de Justiça decidiu acabar com a obrigatoriedade do diploma de nível superior para o exercício jornalístico, desconsiderando o quanto a formação superior e a existência dos cursos de jornalismo contribuíram para o avanço e a melhoria dos conteúdos de nossa imprensa e para a valorização dos princípios éticos. Jorge Calmon, que sempre acompanhou de perto a questão, que vinha se arrastando desde que surgiu o primeiro curso universitário de jornalismo no Brasil, foi um dos responsáveis pela implantação, em 1949, do primeiro curso de Jornalismo na Bahia, no qual começou a lecionar gratuitamente.
Sua conduta sempre foi intransigente na defesa da liberdade de imprensa e na manutenção dos cursos de jornalismo. Como diretor-redator chefe de A Tarde só contratava profissional que fosse diplomado. Quando paraninfo da turma de jornalismo de 1986, da UFBA, proferiu um discurso, intitulado ‘Oito razões (dentro muitas outras) para que exista Curso de Jornalismo’, republicado no livro Apontamentos para história da imprensa na Bahia, no ano de 2008. Sintetizando as razões que favorecem o funcionamento dos cursos de jornalismo, Jorge Calmon enumerou:
… a opção vocacional; a seleção dos mais aptos ao exercício da profissão; o preparo para o ofício; o conhecimento da ética do jornalismo; o estudo da legislação de imprensa; a formação universitária do comunicador; a profissionalização definitiva do jornalista; e, afinal, a estabilidade econômica da categoria.
Dentre essas razões, destaca-se ‘a conscientização da ética da imprensa’. Segundo Jorge Calmon a ética é a parte mais nobre do jornalismo:
Comunicação desamparada de princípios morais passa a ser algo como uma agressão aos sentimentos da comunidade, na medida em que se torna um agente de corrupção de costumes, e de inversões de valores. O paladar de uma comunicação dessa natureza não distingue, por exemplo, entre o crime e a ação útil, senão para alardear aquele, em busca de ressonância no seio da massa. A comunicação corretamente orientada, pelo contrário, se não subtrai o registro do crime, do fato negativo, já que seu dever é informar, todavia lhe retira o destaque gritante, privilegiando, em termos de espaço e de tempo as notícias de real interesse público. E ela, a comunicação honesta, assim procede porque procura agir dentro da ética. Análogo será o seu comportamento perante inumeráveis situações outras. Porque a ética não alcança apenas o tratamento do fato que tem de ser levado ao conhecimento do público; envolve, também as relações entre os veículos que trabalham na mesma área, bem como entre os comunicadores, uns para com os outros’ (Calmon, 2008) .
Fiscal da sociedade
Ao longo dos 32 anos em que trabalhei no jornal A Tarde pude desenvolver, com total apoio de doutor Jorge Calmon, vários produtos jornalísticos e perceber que ele gostava de inovações, mas tinha que acompanhar o desenvolvimento dos projetos de perto, fazendo elogios e sugestões críticas, por meio de seus bilhetinhos, sem jamais interferir diretamente na autonomia do editor. Quando queria a publicação de alguma matéria, elegantemente, solicitava, caso houvesse espaço que a mesma fosse publicada em tal página e em tal posição, com ou sem ilustração. Na verdade, seu pedido era uma ordem e esta prática ele estendia a todos os setores do jornal e seus pedidos eram sempre atendidos.
Doutor Jorge gostava também de ser consultado por seus editores. Assim desenvolvíamos uma relação de confiança. Sabíamos até onde poderíamos ir sozinhos e nas dúvidas, recorríamos a ele que daria sempre a orientação final. Esta prática criava um elo de confiança, de mão dupla, necessário para que os editores pudessem trabalhar em horários outros não coincidentes com o da jornada que ele dava no jornal. Quando desempenhei a função de editor de Cidade (editoria local), trabalhando à noite, ele sempre telefonava para saber as principais matérias do dia e quando, em várias oportunidades, fechei também a primeira página, ele combinava a manchete, muitas vezes ditando-a, por telefone, com o número de caracteres exatos.
Recordo-me também de um fato, durante um período eleitoral, quando editava o suplemento A Tarde Municípios: ele entrou mansamente na redação (na época nós mantínhamos uma redação separada só para o interior), cumprimentou a todos, elogiou o caderno, afirmando ser uma dos melhores produtos que o jornal havia criado nos últimos anos, ‘uma ilha de excelência no jornalismo regional’. Depois, folheando o exemplar do dia, abriu a página dedicada à cobertura política dos candidatos majoritários no interior e comentou: ‘você está fazendo um belo trabalho. Um trabalho jornalístico democrático, dando o mesmo espaço a todos os candidatos…’ e, apontando para a fotografia de um deles, deixou escapar, ‘mas este não vale o espaço que está recebendo’ e, em seguida saiu rapidamente da sala, como quem deu o recado e não queria ouvir qualquer explicação ou contestação. Sobre o assunto nenhum outro comentário foi feito no sentido de coibir ou de censurar o trabalho que estávamos fazendo. Continuamos a dar o mesmo espaço a todos. O curioso é que pouco tempo depois as normas de divulgação eleitoral do TRE passaram a ‘orientar’ o jornalismo impresso no sentido de dar oportunidades iguais (o mesmo espaço) a todos os candidatos.
O elogio ao trabalho executado nos colocava em evidência, mas também servia para que fossemos envolvidos em novos projetos que ele criava, tais como as várias campanhas que desenvolveu. Lembro de ter coordenado, sob sua orientação direta, algumas campanhas como a da recuperação da BR-101 (trecho no sul a Bahia) e algumas mesas-redondas, como a da lavoura cacaueira, da habitação e da fome, que resultaram em cadernos especiais com a participação das mais altas autoridades do estado, em busca de encontrar soluções para os problemas sociais e econômicos da Bahia.
Em síntese posso dizer que Jorge Calmon fazia de tudo para que o jornal que ele dirigia, o jornal A Tarde, praticasse um jornalismo de acordo com os padrões da boa comunicação. E assim buscávamos seguir suas orientações no sentido de fazer um jornalismo comprometido com a verdade, que informava com exatidão, sem nada esconder. Para ele o bom jornalismo/jornalista sabe desprezar as seduções oferecidas pela própria influência, para manter-se fiel à sua missão. O bom jornalismo é aquele desvinculado de intimidade com o poder e com grupos de qualquer natureza. Dr. Jorge dizia também que o bom jornalismo assume, sem vacilações, o papel que a sociedade lhe confere, de fiscal dos assuntos públicos.
Fonte preciosa
Jorge Calmon, apesar de ser diplomado em Direito, foi um homem que dedicou toda a sua vida ao jornalismo, tendo trabalhado por mais de 60 anos no jornal A Tarde. Nos últimos anos, de certa forma, vinha sistematizando o seu pensamento sobre o que é ser jornalista e sobre o jornalismo por meio de entrevistas concedidas, artigos e discursos pronunciados. A seguir alguns pensamentos dele:
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O Jornalista é, realmente, a testemunha da história. Especialmente quando ele tem a obrigação de dirigir ou coordenar a cobertura dos fatos.**
Para ser digno da singular posição a ele reservada na sociedade democrática, o jornalista tem de acreditar, firme e sinceramente, nessa abstração que se chama interesse público. E, porque nele acredita, tem de defendê-lo com intrepidez e veemência.**
O bom jornalista deve saber escrever e ter agressividade. O desanimado e burocrata, que espera pelo fato, este não é jornalista. Só considero mesmo jornalista aquele que tem o calor, o interesse pela notícia.**
Acho que o jornalismo só tem beleza quando tem sentido social. O jornalista deve ser um combatente do interesse coletivo, e não um carreirista.**
A credibilidade se constrói vagarosamente e se destrói por muito pouco. Se o jornal escorregar, se sair do sério, se virar instrumento de negociata, o leitor percebe.**
À imprensa cabe a informação minuciosa com a interpretação e o comentário que a televisão não pode fazer.**
Dizer que não há nenhuma censura em jornal seria faltar com a verdade. Existe uma censura moral, como existe na consciência de cada um de nós. Não praticamos determinadas coisas porque refletimos e vemos que não podem ser praticadas. Assim também é no jornalismo.**
Uma coisa essencial é a ética do jornalismo. Quando deixar de exercer função social, o jornalismo se enquadrará em qualquer outra atividade, será um balcão de negócios, uma banca de engraxate, uma loja.Para complementar e dar uma idéia geral de como ele se comportava perante um texto, transcrevo, a seguir, parte do prefácio que ele escreveu, em 1990, para um livro de minha autoria, no qual ele revela o hábito que tinha de corrigir tudo o que lhe caía às mãos, escrito com a elegância de quem sabe a força de cada palavra:
Começo este prefácio falando de mim mesmo, em vez de começar falando sobre o autor e seu trabalho. No entanto, não vou propriamente falar de mim – o que não teria o mínimo cabimento – mas de um costume que tenho, contraído por força do hábito na rotina do jornal, qual seja o de acompanhar de pequenas corrigendas, feitas a lápis, a leitura de certos textos que me dão a conhecer. Claro que as observações feitas assim não têm sentido compulsório; o dono do trabalho fica com inteira liberdade para aceitá-las ou não; sendo colocadas a lápis, basta um leve esfregão de borracha para sumirem do papel, retornando a página à limpeza primitiva, e talvez, em troca de limpeza, devolvidos os equívocos que o censor amigo procurou suprimir.
Em alguns casos, esse costume, bem intencionado, mas impertinente, reconheço, leva-me a invadir o pensamento do autor do texto, propondo linguagem diferente para a idéia que ele quis expressar, a fim de melhor situá-lo perante o futuro leitor. Pois foi isso o que aconteceu quando me pus a ler este trabalho de Sérgio Mattos.
Vejam o que sucede quando se age precipitadamente, como agi. É que não gostara, a princípio, da maneira como ele se refere ao seu próprio trabalho, tendo-me parecido que se antecipava, com o auto-elogio, ao julgamento que terceiros viessem a fazer. Na apresentação do trabalho diz ele que ‘nada melhor para registrar ‘(o 40º aniversário da televisão brasileira) ‘do que a publicação de um livro como este’. Sugeri a alteração da frase, para diminuir a importância que ele atribuía ao livro. Entretanto, ao terminar a leitura dos originais, voltei à primeira página e apaguei a observação escrita a lápis, porquanto o que poderia ser tomado como imodéstia não é senão a justa consciência do valor de um trabalho feito com grande esforço, trabalho que representa uma contribuição notável para o estudo da televisão em nosso país, sendo um balanço, enxuto e equilibrado, da ação desse veículo no decurso dos seus quarenta anos de existência entre nós, assim como uma fonte preciosa de informações e de orientação para os estudiosos. Emendei a mão, portanto. O livro de Sérgio efetivamente ‘resgata a trajetória da televisão. Registrando-se as influências sócio-culturais e políticas que interferiram direta e indiretamente no seu processo de desenvolvimento (…). (Calmon, 1990).
Honra e experiência
Dr. Jorge Calmon era um verdadeiro cavalheiro, sereno, sincero e fiel aos seus princípios. Um homem sem medos que procurava manter uma conduta simples e impecável, que sabia se expressar até com o olhar, mas gostava mesmo era de mandar bilhetinhos para todos os seus subordinados. Era também muito econômico nos elogios e gostava de escolher o que devíamos exercer dentro e fora do jornal. Quando determinava o que devíamos fazer, ele simplesmente comunicava à pessoa o que ela iria exercer e quando havia uma recusa, imediatamente reagia dizendo: ‘ou você indica uma pessoa com o mesmo nível para assumir ou você mesmo é quem vai fazer’. E quanto a isto era irredutível, principalmente se o indicado não aceitasse o que havia sido determinado.
Recordo-me que uma situação, quando como editor de suplementos, editava também o Jornal de Utilidades, eu dedicava minhas manhãs ao jornal e ensinava na Faculdade de Comunicação da UFBA nos turnos vespertino e noturno. Foi nessa época, em meados dos 1970, que ele resolveu que eu tinha que assumir a Editoria Política do jornal, querendo me transferir para o turno noturno. Diante de minha impossibilidade, fiquei com a incumbência de indicar uma pessoa. Na época, o jornalista Samuel Celestino, com quem trabalhei na cobertura jornalística da política local, ele então no Jornal da Bahia e eu na Tribuna da Bahia, estava fora de jornal. Indiquei, então, seu nome a Dr. Jorge, reforçando que era um profissional competente e experiente na área. Seu nome foi aceito e Samuel foi então convidado, tendo aceitado o convite e permanece até os dias de hoje no jornal, além de ter sido indicado por Jorge Calmon para a presidência da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), onde também se encontra há mais de 20 anos.
Em outra oportunidade, quando já estava como editor dos suplementos A Tarde Municípios e do A Tarde Rural, Dr. Jorge queria que eu assumisse também a editoria do suplemento A Tarde Cultural, porque o editor tinha se afastado do jornal. Expliquei que não tinha condições de assumir mais um caderno, ainda mais sendo um produto completamente diferente dos que produzíamos. Até aí ele aceitou, mas inconformado e me chamando, ironicamente, de vice-rei da Bahia, porque nossos produtos circulavam e tinham muito prestígio em todos os 417 municípios da Bahia, foi taxativo: ‘tudo bem, ou você indica uma pessoa, ou vai ter que se virar com sua equipe’.
Foi aí que novamente consegui indicar uma pessoa de nível e ele aceitou. Indiquei o nome do professor Florisvaldo Mattos, que tinha deixado o Jornal do Brasil e estava apenas ensinando na Faculdade de Comunicação. Dr. Jorge gostou da indicação, por ele ser jornalista, professor e poeta, e então me incumbiu de contatar com Florisvaldo para saber se ele tinha interesse e disponibilidade. Consultado, manifestou-se interesse. Marquei o dia do encontro e o professor foi convidado pessoalmente por Jorge Calmon. Florisvaldo Mattos realizou um excelente trabalho à frente do A Tarde Cultural e, em conseqüência, recebeu alguns prêmios nacionais e hoje está exercendo a função de editor chefe de A Tarde.
Dr. Jorge Calmon sempre que desejava imprimir alguma mudança no jornal me procurava e possivelmente também a outros profissionais que gozavam de sua confiança. Talvez porque eu fosse o único profissional da empresa que detinha o título de PhD em Comunicação, obtido em universidade norte-americana, ele sempre estava a me consultar, querendo ouvir e saber minha opinião sobre isto e mais aquilo, mas nem sempre aceitou minhas idéias, pois quando já tinha decidido alguma coisa, dificilmente voltava atrás. Era um homem que tinha objetivos e tudo que concebia tinha que ser iniciado e concluído.
Em síntese, ele sabia prestigiar, colocar sua equipe em evidencia e, ao mesmo tempo, exigir de seus editores a realização de algum trabalho extra ao do jornal. Muitas vezes fui indicado para realizar palestras em nome do jornal ou para representar Dr. Jorge Calmon, dona Regina Simões de Melo Leitão (presidente do jornal) e ou Dr. Renato Simões (superintendente do jornal) nas mais variadas solenidades, seminários e encontros, inclusive um, realizado em Vitória do Espírito Santo, promovido pelo jornal A Gazeta, de Carlos Lindemberg, no qual foi plantada a semente que deu origem a Associação Nacional dos Jornais (ANJ).
É por tudo isso que posso dizer que ter trabalhado no jornal A Tarde, sob a liderança de Dr. Jorge Calmon foi uma grande honra e uma experiência de vida fantástica. [Salvador, 26 de outubro de 2009]
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Referências
CALMON, Jorge. Discurso de posse. Revista da Academia de Letras da Bahia. Salvador, n.21, p. 85-93. 1962-1970.
CALMON. Jorge. Jornalista e escritor. Depoimento no programa do Instituto de Letras da UFBA e da Fundação Casa Jorge Amado intitulado ‘Com a Palavra o Escritor’. Salvador: 28 jul. 1999.
CALMON, Jorge. Oito Razões (dentre muitas outras) para que exista Curso de Jornalismo. In TAVARES, Luis Guilherme Pontes (org.). Apontamentos para a história da imprensa na Bahia. Salvador: Academia de Letras da Bahia, 2ª Ed., pp. 199-211.
CALMON, Jorge. Este livro e seu autor (prefácio). In : MATTOS, Sergio. Um Perfil da TV Brasileira: 40 anos de história: 1950-1990. Salvador: Associação Brasileira de Agências de Propaganda/Capitulo Bahia; A Tarde, 1990, p.9-11.
MATTOS, Sergio. Jorge Calmon, o ponto de referência. Neon, Salvador, n.47, dez.2004.
MATTOS, Sérgio. Relicário comunicacional e literário. Salvador: Contexto & Arte editorial, 2008.
TAVARES, Luis Guilherme Pontes (org.). Apontamentos para a história da imprensa na Bahia. Salvador: Academia de Letras da Bahia, 2008;
Jornalista, escritor professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e secretário geral do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia para o biênio 2008-2009