Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daqui de longe, os 25 anos do Observatório da Imprensa

No início do encontro-comemoração dos 25 anos do Observatório da Imprensa, Norma Couri contava o hábito de Alberto Dines de se levantar cedo e ler todos os jornais. Hoje seria mais fácil, não precisa madrugar e sair na rua pegar um pacote de jornais. Porém, a diversidade é maior e quase impossível de se abranger, pois além das versões online das páginas informativas e dos comentários, existe uma profusão de informações circulando em formato visual no YouTube.

Na verdade, são canais informativos mais restritos que deixaram o aparelho de televisão e se transmigraram para nossos computadores. E por força dos algoritmos, nos oferecem numerosas opções, segundo nossos gostos não mais secretos, porém conhecidos, catalogados e interpretados pelas grandes centrais de computadores. Os espalhadores das fake news se servem da omnisciência e da onipresença desses deuses informáticos que, sem valores éticos, distribuem boas e más notícias, verdades e mentiras, segundo as ordens negociadas e pagas pelos interessados, geralmente fabricantes de produtos comerciais e industriais, mas também políticos.

Qual era a mídia nos anos 90 de Alberto Dines? Eram os jornais em papel, principalmente o Estadão, a Folha e o Globo, a revista Veja, a televisão, a Globo e a rádio. Ainda nesses anos, os brasileiros do exterior tinham o hábito de passar no escritório da Varig para ler os jornais da véspera.

E hoje? Todas essas opções aparecem mais facilmente no computador e no celular; perderam, porém, a primazia. Os evangélicos acessam canais religiosos nada parecidos com as rádios nas quais as senhoras idosas ouviam as missas. Os bolsonaristas contam com uma rede de canais youtube, especializada na fabricação e difusão de fake news. Os canais religiosos dominantes são evangélicos, transformados em divulgadores de mensagens políticas, claras ou subliminares, antecipando-se à próxima criação de um Partido Evangélico, populista, conservador e de extrema-direita, opção para os atuais líderes evangélicos lançados na onda bolsonarista, sobreviverem. Se, como tudo indica, este último ano de Bolsonaro será de crise social e de perda de velhas conquistas sociais, provocando uma séria cobrança por parte dos pobres e iludidos evangélicos aos seus maus pastores, por lhes terem induzido a eleger e apoiar Bolsonaro.

Enfim, esse encontro online demonstrou que, na mesma linha de Alberto Dines, temos de nos manter vigilantes, nestes anos de desconstrução do jornalismo pelos engenheiros do caos, como acentuou o prof. Pedro Varoni, ex-editor do Observatório da Imprensa.

Ausente e longe como lembrou Francisco Belda, presidente do Projor, acompanhei esse encontro pelo meu computador e assim fiquei conhecendo a Simone Pallone, diretora editorial do Projor, o Carlos Vogt, a Norma Couri, o Luiz Egypto, o Eugênio Bucci, a Paula Melani, o Francisco Belda e o editor Marco Chiaretti. Já conheci o prof. Pedro Varoni, na última viagem que fiz ao Brasil.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.