Depois de alguns diários americanos reportarem aumento nas vendas nos últimos meses, no que seria um sopro de esperança para a indústria jornalística, vem o balde de de água fria. Segundo artigo de Michael Liedtke, da Associated Press [23/11/09], desde o início de abril, regras mais frouxas de auditoria tornaram mais fácil para os jornais contar um leitor como um consumidor pagante, o que não é necessariamente verdade.
Pelos novos padrões, se um jornal vende uma assinatura conjunta para a edição impressa e a online, há maneiras de contar este assinante duas vezes. Se não fossem as novas regras, ressalta Liedtke, os números apresentados pela indústria seriam mais baixos. A circulação média de 379 jornais americanos nos dias de semana caiu 10,6% nos seis meses que terminaram em setembro. Não é possível saber, entretanto, o quão piores estariam os índices sob os padrões de auditoria antigos usados pelo Audit Bureau of Circulations (ABC), organização que verifica a venda de jornais nos EUA.
Milagres da multiplicação
Alguns jornais e revistas também tentam, por conta própria, ‘melhorar’ a circulação oferecendo descontos consideráveis nas assinaturas, para não arriscar perder ainda mais receita publicitária. Anunciantes costumam levar em conta o tamanho da audiência de uma publicação antes de colocar seu produto nela. Para se ter uma idéia, a revista Esquire cobra US$ 3,99 por edição em banca, mas oferece assinatura promocional de um ano por US$ 6,97, o equivalente a 58 centavos de dólar por revista.
Já o Las Vegas Review-Journal está entre os jornais cuja circulação nos dias de semana cresceu com relação ao mesmo período no ano passado. O maior jornal de Nevada apresentou aumento de 6,6% nas vendas, o que representa cerca de 11 mil assinantes, chegando a um total de mais de 175 mil. O curioso é que, se forem observadas as vendas da versão impressa, vê-se que elas diminuiram em 12 mil cópias. Vale levar em conta também que Las Vegas está entre as cidades americanas mais atingidas pela recessão econômica. Então como teria ocorrido este ‘milagre da multiplicação’ ? Pelas novas regras, a circulação do Review-Journal este ano incluiu mais de 23 mil ‘edições eletrônicas’, em comparação a apenas 511 no ano passado. A diferença nos números não se deu porque muitas e muitas pessoas decidiram, de repente, comprar a réplica digital do jornal disponível na internet, mas porque o preço cobrado pela versão digital – 50 centavos por semana para os assinantes do jornal impresso – não era alto o bastante para constar no índice do ABC como ‘circulação paga’. Isso mudou com o novo padrão de auditoria.
Com as novas regras, os jornais podem definir como público pagante qualquer pessoa que pague pelo menos um centavo de dólar por cópia. O ABC diz que mudou o padrão para reduzir os custos com auditoria e para permitir ‘maior flexibilidade de preço e mercado’ para as editoras.
Para Steve Coffeen, diretor de circulação do Review-Journal, é correto poder contabilizar duas vezes os assinantes de pacotes que incluem a versão online e a impressa. ‘É importante mostrar aos anunciantes que estamos usando outras plataformas para alcançar os leitores’, afirma. Mas há analistas que alegam que as novas regras só fazem minar a credibilidade dos números de circulação.