Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ação policial contra ex-editor gera revolta

Era madrugada quando três policiais bateram na porta do jornalista francês Vittorio de Filippis, na semana passada. Até o fim da manhã, ele já havia sido algemado, interrogado e humilhado, sendo forçado a tirar a roupa por duas vezes para revistas íntimas. Os filhos do jornalista, de 14 e 10 anos, testemunharam a agressiva abordagem policial. Filippis foi detido por causa de um processo de calúnia aberto há dois anos contra o Libération, jornal de esquerda do qual era diretor.


O episódio sofrido pelo jornalista gerou revolta entre colegas e advogados, que alegam que as táticas usadas não cabem em um país tradicionalmente conhecido pelo respeito à liberdade de expressão. ‘Em 30 anos, esta é a primeira vez que fiquei sabendo de algo do tipo’, afirmou Jean-Paul Lévy, um dos advogados do Libé. ‘Estou escandalizado com este tratamento por conta de uma ofensa que seria punida com multa e não com detenção’.


A organização Repórteres Sem Fronteiras, que tem sede em Paris, condenou os ‘métodos coercivos’ e ressaltou que eles seriam um sinal da ‘deterioração da liberdade de expressão na França’. ‘Estamos revoltados com os métodos humilhantes usados contra Vittorio de Filippis. Isto nunca foi feito antes na França. Tratar um jornalista como um criminoso e recorrer a práticas como revistas íntimas não é só chocante, como também indigno da justiça francesa’, declarou a organização.


Excessos


A líder do Partido Socialista, Aurélie Filippetti, denunciou o que chamou de ‘condições escandalosas’ da detenção de Filippis. Ela classificou este tratamento como parte de um esforço para ‘impor limites à liberdade de imprensa’, sugerindo que o governo do presidente Nicolas Sarkozy estaria tentando dar um aperto nos críticos – em que se inclui o Libération.


A juíza Muriel Josie, que conduziu o interrogatório, recusou-se a dar explicações sobre o ocorrido. A polícia também não emitiu nenhum comentário oficial. Segundo o jornalista, o interrogatório tratou de um processo aberto contra o jornal por conta de um comentário assinado por um internauta, publicado no sítio do Libération, que descrevia problemas legais do fundador de uma companhia de acesso à internet chamada Free. O empresário considerou que o comentário era ofensivo à sua honra.


Filippis foi diretor do Libé de maio a dezembro de 2006, quando o artigo foi publicado, e, segundo as leis francesas, seria responsável pelo conteúdo do sítio. A principal reclamação de Muriel, de acordo com o jornalista, seria a de que ele havia ignorado seus e-mails de intimação, o que levou à necessidade de detenção. Filippis deixava toda a comunicação referente ao caso com seus advogados. Informações de Edward Cody [Washington Post, 30/11/08].