Enquanto e-mails não param de chegar, você se informa dos assuntos na intranet da empresa onde trabalha. Como lá a chefia resolveu bloquear acessos às comunidades virtuais, você se atualiza pelo celular mesmo, preferencialmente no banheiro, quando o chefe não está vendo, ou durante o almoço.
Então, você chega em casa depois de enfrentar aquele trânsito infernal do mundo real e imediatamente corre para o computador. Dá uma olhada no LinkedIn para ver se não surge uma oportunidade em outra empresa e aproveita para ampliar seus contatos profissionais no Via6. Seus colegas de MBA no Facebook aguardam uma resposta sua enquanto no Orkut aquele primo que mora em outro estado tem algo para te contar.
Então você ‘sobe’ umas fotos das suas últimas férias para o Flickr enquanto atende uma chamada no Skype na qual um colega pergunta por que você ainda não o segue no Twitter e você responde que não teve tempo, pois estava atualizando seu site pessoal e tinha virado a madrugada numa lista de discussão. Com tudo isso, acabou esquecendo também de postar aquele artigo em seu blog…
Se você não vive numa ilha deserta sem energia elétrica e sem nenhum contato com o resto do mundo, então, com certeza, deve estar em um ou mais dos ambientes virtuais mantendo contato com outros conectados, tornando-se sempre disponível.
Uma intimação para instalar o Skype
LinkedIn, Facebook, Via6, Orkut, weblogs, fotologs, Flickr, Twitter, blogs, MySpace, UOLK, Windows Live Space, sites pessoais, listas de discussão, e-mails e mais e-mails, Skype, Nimbuzz, telefone celular… Só para mencionar os mais conhecidos. A lista completa é imensamente maior.
Estamos hoje brincando de Deus, ao menos no que se refere à onipresença. Queremos, ou melhor, precisamos estar em tantos lugares virtuais diferentes ao mesmo tempo que acabamos por ficar num único lugar real por muito tempo: em frente ao computador.
Não, esta não é mais uma crítica ao mergulho no mundo virtual em detrimento do mundo real. Acho essa divisão meio besta. Afinal, ‘do outro lado do teclado’ há um humano como você. O problema mesmo é o tempo que a gente perde (alguns dirão ‘investe’) nessas diversas conexões.
Tentei concentrar tudo num só lugar, agrupar todos os meus contatos e interesses, mas não demorou muito para alguém me convidar para outra ‘comunidade’ X. OK, pensei, estar em duas não trará problema. Mas daí outro colega enviou convite para participar do grupo Y. Por e-mail, recebi uma quase intimação para instalar o Skype. Onde já se viu ainda falar por telefone? E em seguida me perguntam como ainda não estou no Twitter…
Quem viver, verá
Uma vez dentro, ah… Em pouco tempo, você já não consegue mais deixar de ao menos dar uma espiada no que anda rolando num ou noutro canto virtual, precisa se inteirar dos papos, verificar oportunidades, fechar negócios, marcar encontros, matar saudades.
A LER (lesão por esforço repetitivo) nos pulsos em breve migrará para os dedos que se espremem nos minúsculos teclados dos celulares. Apesar de eliminar fronteiras e distâncias, o mundo virtual trará mais problemas oculares, pois o foco de nossos olhos está sempre muito próximo, ali no monitor ou na telinha. Muito tempo sentado trará mais celulite para as mulheres e mais barriga para os homens…
Ou não!
Em breve, o deslumbramento com essas novas tecnologias passará, ficaremos mais seletivos e usaremos somente aquilo que realmente nos traz algum retorno – e não pura perda de tempo, papos furados, informação inútil.
Se o mundo não acabar em 2.012 (êta, mania besta, essa de acabar com o mundo), quem viver, verá.
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Publicitário, MBA em Marketing, São Paulo, SP